POLÍTICA INTERNACIONAL

23 morreram e 715 feridos durante um mês de protestos na Bolívia

Entidade denunciou como grave um decreto do governo interino de Jeanine Áñez .

Em 17/11/2019 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: Reuters/Danilo Balderrama

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) afirmou que já são "pelo menos" 23 mortos e 715 pessoas feridas desde o início das manifestações na Bolívia, que já ocorrem há quase um mês no país, de acordo com o último levantamento da entidade, que foi divulgado em uma rede social neste sábado (16).

A CIDH subiu de cinco para nove o número de mortos após confronto entre apoiadores do ex-presidente Evo Morales e as forças policiais na sexta-feira (15), em Cochabamba.

A comissão também denunciou como "grave" um decreto do governo interino de Jeanine Áñez que autoriza a participação das Forças Armadas na conservação da ordem pública e isenta-as de responsabilidades criminais.

"O grave decreto da Bolívia ignora os padrões internacionais de direitos humanos e, por seu estilo, estimula a repressão violenta", disse a CIDH em uma série de tweets.

De acordo com a agência de notícias AFP, o Decreto 4078, aprovado na quinta-feira (14), o governo provisório autoriza a participação militar na restauração da ordem pública e isenta as forças militares da responsabilidade criminal.

Polícia tenta destruir barricada em Sacaba, perto de Cochabamba, na Bolívia, na sexta (15)  — Foto: Danilo Balderrama/Reuters

Polícia tenta destruir barricada em Sacaba, perto de Cochabamba, na Bolívia, na sexta (15) — Foto: Danilo Balderrama/Reuters

A nação andina entrou em crise após a eleição presidencial de 20 de outubro. Na semana passada, Evo Morales anunciou novas eleições no país depois que a Organização dos Estados Americanos (OEA) revelou ter encontrado diversas irregularidades no pleito realizado no mês passado onde ele havia sido reeleito para um quarto mandato.

No entanto, pouco depois, por sugestões da polícia e das Forças Armadas, Morales renunciou à presidência depois de quase 14 anos no poder.

O ex-presidente boliviano agora está no México após aceitar o asilo oferecido pelo governo do país.

Evo diz temer guerra civil

O ex-presidente da Bolívia Evo Morales disse neste domingo (17) à agência de notícias EFE que teme que possa acontecer uma guerra civil no país e pediu que seus compatriotas terminem imediatamente os confrontos.

"Eu tenho muito medo. Em nosso governo, unimos o campo e a cidade, leste e oeste, profissionais e não profissionais. Agora grupos violentos estão chegando", alertou Morales, quando questionado sobre o risco de uma guerra civil na Bolívia.

Crise de abastecimento

Bolivianos enfrentaram longas filas nas ruas de La Paz neste domingo (17) em busca de frango, ovos e combustível para cozinhar, enquanto apoiadores do presidente deposto Evo Morales continuam bloqueando estradas do país, isolando centros populacionais de fazendas em terras mais baixas.

Autoridades disseram à agência de notícias Reuters que um avião militar Hercules aterrissou na capital La Paz, no sábado, cheio de produtos de carne, contornando as barricadas nas estradas nas saídas da cidade.

Mulheres passam por pertences abandonados por apoiadores de Evo Morales em Sacaba, perto de Cochabamba, após confronto de sexta-feira (15) — Foto: Danilo Balderrama/Reuters

Mulheres passam por pertences abandonados por apoiadores de Evo Morales em Sacaba, perto de Cochabamba, após confronto de sexta-feira (15) — Foto: Danilo Balderrama/Reuters

O ministro da Presidência, Jerjes Justiniano, disse a repórteres que o governo estabeleceu uma “ponte aérea” para La Paz. Disse que autoridades esperam fazer o mesmo com outras grandes cidades bolivianas que foram isoladas de suprimentos.

Apoiadores de Morales foram às ruas pouco depois, alguns armados com bazucas caseiras, pistolas e granadas, bloqueando ruas e entrando em conflito com forças de segurança.

Enquanto a violência piorava, muitos nas regiões mais pobres de La Paz passaram a cozinhar com lenha, e formaram longas filas por gás liquefeito, latas e pouca comida.

“Esp​ero que as coisas se acalmem”, disse Josué Pillco, funcionário da construção civil em um bairro operário de La Paz. “Não temos comida ou combustível”.