NEGÓCIOS
A cada dois dias, uma farmácia é aberta na Grande Vitória.
Região metropolitana ganhou 334 lojas nos últimos dois anos.
Em 15/04/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Um casarão antigo na Praia do Canto, em Vitória, deu lugar a uma obra rápida que chamou atenção de quem passava pela Avenida Saturnino de Brito. Ali funcionava uma loja de iluminação, mas o espaço agora é uma farmácia de uma bandeira nacional.
Mudança de mercado também ocorreu com um antigo imóvel na Reta da Penha, que abrigava uma rede de eletrodomésticos. O estabelecimento fechou há certo tempo com o agravamento da crise no comércio. Mas agora lá também pode se ver uma drogaria.
Em diversos bairros da Grande Vitória novas farmácias têm sido instaladas, e a sensação é de que vivemos o boom do setor no estado. O movimento não é novo, segundo especialistas, mas se intensificou no último ano. Para se ter uma ideia, a cada dois dias um novo negócio surge na Grande Vitória.
Em 2015, foram abertas mais de 124 farmácias em Vitória, Cariacica e Serra. Em 2016, cerca de 150 unidades começaram a funcionar nos três municípios mais em Vila Velha. Em 2017, já são mais de 60 novas lojas.
Os novos negócios, mesmo que sejam de donos diferentes, têm questões em comum: são filiais de empresas de capital aberto, que buscam construir suas estruturas em ruas ou avenidas movimentadas e aproveitar áreas de grande porte para abrir lojas que mais parecem supermercados.
Há unidades farmacêuticas surgindo uma na frente do outra ou mesmo ao lado, deixando o consumidor até em dúvida sobre onde vai comprar a medicação.
Em Itapoã, em Vila Velha, o fenômeno é semelhante ao de Vitória. Na Avenida Jair de Andrade há quatro drogarias numa mesma quadra, duas são de marcas nacionais e as outras unidades são de bandeiras locais.
Essa expansão é uma tendência nacional no setor varejista farmacêutico que deve permanecer por um tempo.
O professor da Fucape e um dos sócios da Alphamar Investimentos, Fernando Galdi, explica que o crescimento intenso é uma das estratégias das redes do segmento, que contam com recursos oriundos do mercado de capitais, dinheiro considerado de baixo custo, para fazer esses investimentos.
“Esses grupos querem gerar demanda, indo para locais de alta densidade demográfica e grande fluxo de pessoas. Atraem clientes com uma forte diversificação de seus produtos. Por serem altamente competitivas, tiram espaço das farmácias menores”. Ele acrescenta: “As farmácias lembram supermercados e agora estão na rota de consumo”.
Por terem uma margem de lucro considerada pequena, as redes farmacêuticas precisam planejar suas expansões para aumentar ganho em escala, na visão do sócio da Valor Investimentos, Paulo Henrique Corrêa.
“Elas entram em alguns mercados comprando empresas locais ou mesmo instalando uma unidade nova. Para eles, esse crescimento significa ter menor preço, pois conseguem ter uma rede de distribuição própria, negociando direto com o laboratório para comprar produtos com baixo custo”.
Adequação
Para empresários do setor farmacêutico do estado, esse avanço das redes nacionais no mercado capixaba tem ocorrido de forma até predatória e vai culminar com o fechamento de farmácias menores que não terão condições de oferecer a variedade de produtos dos grandes grupos, que incluem, além de remédios, cosméticos nacionais ou mesmo importados.
Uma das soluções para sobreviver tem sido se associar a outras empresas, conforme explica o diretor-executivo da Farmácia Mônica, Vinícius Carneiro.
A empresa se uniu à Unifabra. “São 11 redes que juntas têm faturamento de R$ 600 milhões. Juntas conseguem competir com as grandes marcas, como Drogasil, Pacheco e Pague Menos”.
Ele diz que a Mônica precisou se adequar para sobreviver. “Quando uma grande rede vai para um local que já tem uma farmácia funcionando, haverá compartilhamento da clientela. E em determinado momento não será possível mais competir. O jeito foi fazer um reposicionamento geográfico, tirar lojas de áreas saturadas e ir para lugares onde têm poucas farmácias”, acrescenta.
Negócios
- Vila Velha: 248 farmácias. Em 2016, ganhou 40 unidades.
- Vitória: 150 farmácias. Em 2015, foram abertas 21 unidades; em 2016, 25. Já neste ano, foram cinco novas lojas.
- Serra: 357 farmácias. Em 2015, foram 25 solicitações de alvarás sanitários para drogarias. Em 2016, 14 para drogarias e farmácia de manipulação. Em 2017, são 7 pedidos.
- Cariacica: 485 farmácias. Em 2015, 78 unidades foram licenciadas; em 2016, 70 lojas foram criadas; em 2017, já são 49 alvarás emitidos.
Consumidor vê em “boom” chances de ganhar descontos
Escolher onde comprar o remédio, o batom, o creme corporal ou o protetor solar passou a ser tarefa fácil para o consumidor que viu o número de farmácias aumentar perto de casa.
Para esses clientes, essa expansão é algo positivo, pois permite pesquisar preço e mesmo negociar descontos. Vale até pechinchar uma boa vantagem, segundo a autônoma Simone Rabelo, de 42 anos.
“Abriu várias farmácias na minha rua. São quatro num mesmo quarteirão e consigo negociar bons descontos”, conta a consumidora que consome todos os dias remédio para tireoide.
A aposentada Mabel Almeida, de 63 anos, também conta com quatro farmácias próximas de onde mora. “Há dois anos, só tinha uma farmácia. Essa concorrência toda tem sido boa para mim. Hoje, já tenho minha preferida porque lá sempre consigo bom desconto”.
Municípios
O município com mais drogaria é Cariacica, com 485 unidades, uma para cada 793 moradores. Na Serra, são 357 lojas, uma para cada 1.384 habitantes. Em Vitória, são 150 farmácias, uma para cada 2.397 moradores. Já Vila Velha tem 248 unidades, sendo uma para cada 1.934 pessoas.
Mais drogarias do que recomenda OMS
Vitória, Cariacica, Serra e Vila Velha, segundo as prefeituras, têm 1.240 farmácias. Isso equivale a uma loja para cada 1.383 habitantes. Segundo o IBGE, essas quatro cidades têm 1,7 milhão de moradores. A Organização Mundial de Saúde (OMS) orienta que haja pelo menos uma farmácia para atender até 10 mil habitantes.