ECONOMIA CAPIXABA
A força da mulher movimenta agroindústria capixaba.
Há mais de 40 anos, dona Aurélia acorda todas as segundas-feiras, por volta das 5h30.
Em 12/03/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
As agroindústrias familiares capixabas se destacam cada vez mais no cenário rural especialmente pelo estímulo às economias locais, a geração de renda das famílias, contribuição na sucessão rural e até o resgate de culturas locais. Além disso, um fato que se destaca nesse contexto é papel fundamental que as mulheres desempenham nessa atividade. É o caso das agricultoras familiares e produtoras de beiju do município de São Mateus, dona Aurélia da Costa Silva e suas duas filhas, Andréia e Aldicéia.
Há mais de 40 anos, dona Aurélia acorda todas as segundas-feiras, por volta das 5h30, para colher cerca de 200Kg de mandioca. E, é na “Casa de Farinha” que fica na sua propriedade, o sítio Amor Roseira, no distrito de Santa Luzia que, com a ajuda das suas filhas, nas sextas-feiras e aos sábados cerca de 70 pacotes de beijus já estão disponíveis para venda no Mercado Municipal.
Funciona assim: a mandioca segue descascada para o tanque que é a etapa da limpeza. Só depois disso, é triturada em poucos minutos. Em seguida é coada para o processo de preparação da goma. Essa goma segue para um tanque de decantação. Depois desse processo, a massa vai novamente para a água. A mistura fica várias horas descansando, até surgir o derivado mais nobre da mandioca: a goma pura. Com ela, é feito beiju. No final do trabalho, a família leva para o mercado biju de amendoim e coco, de vários formatos e tem até na palha de banana.
Segundo dona Aurélia, “mesmo em tempos financeiros mais difíceis, a renda da nossa família melhorou e com o passar dos anos já pudemos comprar um carro e há menos de um ano, conseguimos trocá-lo. Mas, tudo muito simples”. Mas, para a filha Aldicéia da Costa ainda falta um olhar mais generoso para com o trabalho das mulheres. “Apesar do lado positivo da renda, as pessoas que estão no mercado olham para as mulheres produtoras de beiju e reclamam dos nossos preços, como se o nosso trabalho, que é duro e diário, não tivesse o seu valor”.
Segundo a Economista Doméstica do escritório local de São Mateus, Fernanda Casagrande Macedo, o Incaper tem atuado nas agroindústrias do município levando informação e formação por meio de cursos, excursões, contribuindo na elaboração de projetos, acompanhamento técnico, auxiliando no incentivo e aperfeiçoamento da produção, e comercialização de seus produtos.
O município de São Mateus possui uma grande diversidade na produção agrícola e no cenário de agroindústrias. “Quando se fala em agroindústria, nos remetemos a dois focos principais: a produção de beiju, que é tradição do município, e a de mel, que vem despontando nos últimos anos, além de diversos outros produtos da agroindústria familiar”, explicou Fernanda.
A história do município se confunde com a do Brasil porque no Porto de São Mateus chegavam embarcações com negros escravizados, que eram leiloados em seu largo e se espalhavam pelas fazendas no Norte do Estado e Sul da Bahia. A partir daí pode-se ter noção da influência da cultura africana no município.
A produção de farinha e de beiju era comum nas propriedades rurais, e continua sendo em muitas delas. Até hoje as mulheres são responsáveis pela transformação da mandioca nas "Casas de Farinha". Elas se juntam desde a colheita da mandioca até o preparo da farinha e do beiju, reconhecido por “dia da farinhada", como é o caso de dona Aurélia.
Contato Sítio da Roseira: (27) 99720-1242/ (27) 99984-1995.
Secom/ES