OPINIÃO
A lei da pesca, a lei da vida: Quanto VALE o mar?
Rompimento de barreira, afetou a pesca no litoral de norte a sul do estado.
Em 23/04/2019 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Desde menino via meu pai saindo para pescar no litoral do Sul de nosso Estado. Nas mãos, anzol, linha, material de mergulho, rede e iscas. Tudo pronto para se lançar ao mar e trazer de lá não só o peixe, que era nosso sustento, mas também a alegria de horas em comunhão com a natureza e consigo mesmo, numa meditação direta com Deus.
Eram tempos difíceis financeiramente, mas muito felizes porque tínhamos a imensidão do mar, o amor da família que nos unia e, principalmente, a certeza de que tudo poderia mudar, menos esse amor e a beleza do mar, nos saciando a fome e os olhos com a sua majestade.
Mas as coisas mudaram. Me tornei Advogado, meu pai também se formou em Direito e se tornou Advogado e meu irmão seguiu a carreira da enfermagem em conjunto com a pesca como profissão, o que leva em sua vida até hoje com suas mãos calejadas de tanto trabalho.
O amor pelo mar continuou, como bem ensinado por nosso pai.
Aquela imensidão de peixes e alegria acabou. Acabou primeiro porque tive que vir para a capital estudar, me estabelecer e tocar a vida. Segundo porquê e, mais recentemente, a estupidez humana assim o quis.
Me sinto parte legitima para falar dos rompimentos de barreiras da Vale, que ocasionaram um grande desastre ecológico, podem ter levado mais de 200 pessoas a óbito e podem ter deixado nossos rios e mar com baixíssima capacidade de pesca.
Com o rompimento da barreira, em primeiro plano tivemos afetados a pesca nosso litoral de norte a sul. Sentimos na pele esta violência ambiental, já que meu irmão vive da pesca, sustenta quatro filhos e uma esposa com sua atividade pesqueira e se viu sem trabalho e, consequentemente, sem recurso financeiro, simplesmente porque não já tinha peixe e nem camarão no mar.
Ora, é a Vale responsável por esse dano ambiental? É responsável pelo prejuízo imensurável que gerou à tantas famílias de pescadores que vivem da pesca artesanal, como meu irmão e sua família? Pode uma empresa deixar que barragens atinjam pessoas sem dar à elas chance sequer de sobreviver? Pode uma empresa atingir o meio ambiente com um golpe tão letal, que sequer conseguimos pescar em nosso litoral?
Penso que não pode. Tenho um barco, pesco também, sou filho de pescador, meu irmão é pescador, temos orgulho de falar isso. Contudo, nunca nos deparamos com algo tão agressivo aqui no nosso Estado contra o mar e contra os pescadores.
Acredito que esta empresa deveria zelar pela vida humana e pela vida marinha, entretanto o que vivemos e enxergamos são danos ambientais gravíssimos e danos em nossa sociedade pesqueira que não vejo reversão nesta geração humana.
Vivo diariamente com esta reflexão: Estamos diante de uma dano ambiental? Estamos diante de um dano material e moral frente à sociedade pesqueira? Estamos diante de um crime?
O que não consigo hoje é ficar calado frente às atrocidades narradas acima. Não consigo esquecer que foi o mar que me tornou gente, me tornou homem e me aproximou ainda mais do núcleo da sociedade, e a família.
Sobre o autor:
Dr. Eduardo Santos Sarlo, é advogado, professor e diretor da Sarlo & Machado Advogados Associados.
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