ESPORTE NACIONAL
A organização criminosa à frente do esporte brasileiro
Carlos Arthur Nuzman foi detido junto com Leonardo Gryner.
Em 07/10/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
O presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, foi preso pela Polícia Federal (PF) na manhã desta quinta-feira (5). O homem forte do esporte brasileiro foi detido junto com Leonardo Gryner, principal colaborador de Nuzman no comitê organizador da Olimpíada Rio-2016. Ambos são acusados de atuar na compra de votos na escolha do Brasil para sediar os Jogos Olímpicos do ano passado. Na história das Olimpíadas, Nuzman é o único cartola que acumulou a presidência do Comitê Organizador e do próprio comitê nacional.
Saiba o impacto dessa ação policial no esporte brasileiro e entenda o tamanho da corrupção na cúpula olímpica do país.
As prisões fazem parte da Operação Unfair Play (jogo sujo, em inglês), que integra a Operação Lava Jato e tem participação do Ministério Público Federal (MPF) e que também investiga o empresário Arthur César Soares Menezes, conhecido por Rei Arthur, que está foragido há um mês e que teria pago o valor de US$ 2 milhões ao senegalês Lamine Diack, ex-cartola da Federação Internacional de Atletismo e membro do Comitê Olímpico Internacional (COI). Nuzman é suspeito de ter sido o elo entre o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), preso na Operação Lava Jato, e membros do COI.
A investigação, que começou a partir de denúncia do Ministério Público da França, aponta que Rei Arthur teria obtido mais de R$ 3 bilhões de contratos com o governo do Rio de Janeiro para executar obras de infraestrutura para a Rio-2016.
Segundo a procuradora da república, Fabiana Schneider, foram encontrados e-mails que revelam pagamento de propina por parte do dirigente a um grupo conhecido como “nossos amigos”. “Com a continuação da Operação Unfair Play, tivemos uma primeira rodada de buscas na qual foram colhidas matérias consistentes e importantes, que nos permitiram avançar à fase atual, o segundo tempo.
A primeira parte
A primeira parte diz respeito a e-mail com conteúdo revelador e determinante a efetiva participação dos integrantes do COB. Nuzmal e Gryner. Demonstra a intermediação de pagamentos do lado brasileiro de Papa Diack. E-mails revelam que dinheiro eram para um conjunto de pessoas, designados como “nossos amigos”.
O documento do MPF ressalta que, na primeira fase da operação, ficou claro que uma empresa ligada a Arthur Soares depositou R$ 2 milhões em uma conta ligada a Papa Diack, filho do presidente da IAAF, na véspera da eleição que escolheu o Rio como sede da Olimpíada de 2016. Para os investigadores, isso não apenas comprova que Nuzman e Gryner tinham conhecimento do fato como “fizeram todo o trabalho de intermediação”.
André Richer, é ex-presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e aliado de Carlos Arthur Nuzman, presidente da entidade. A Polícia Federal encontrou sete armas, munições, R$ 95 mil em espécie (sendo US$ 5 mil) e dez relógios Rolex no endereço atribuído a Richer.
“Foram também encontrados R$ 95 mil, US$ 5 mil e 10 Rolex. Vamos verificar a procedência destas armas agora”, disse Antônio Beaubrun, delegado da Polícia Federal.
Os principais jornais e emissoras do mundo repercutiram em seus sites a prisão do presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Carlos Arthur Nuzman. “Polícia brasileira prende chefe olímpica em investigação sobre propina”, destacou o jornal britânico The Guardian. “Investigadores brasileiros alegam que Nuzman ajudou na propina de US$ 2 milhões para o Rio de Janeiro receber a Olimpíada”, completa. Já o jornal espanhol “El Pais” destacou que o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) é investigado por uma suposta participação na compra de jurados para a eleição de Rio 2016’. Na mesma linha, a emissora americana CNN diz que a prisão de Nuzman gerou repercussão imediata no COI (Comitê Olímpico Internacional), com a emissão de um comunicado oficial. Responsável pela denúncia que originou a investigação, o “Le Monde” ressaltou que “Nuzman é acusado de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa”.
E a reação dos atletas brasileiros?
Dezenas de atletas olímpicos brasileiros se articularam para escrever uma carta sobre a situação do esporte nacional. Para evitar possíveis retaliações de dirigentes, os esportistas preferiram não dar suas opiniões individualmente e sim divulgar uma declaração conjunta. A Comissão de Atletas se mobilizou por telefone e redes sociais, a fim de colocar o ponto de vista de quem é afetado diretamente pela situação do esporte olímpico no País. São 19 membros que representam os outros atletas brasileiros nesta comissão que foi criada em 2009. No documento, os atletas manifestam apoio total às investigações e pedem que não se faça confusão entre o COB e seu dirigente, reforçando que a atuação de Nuzman não pode manchar a entidade. “A Comissão de Atletas do Comitê Olímpico do Brasil vem através desse documento expressar total apoio às operações que buscam transparência na gestão das entidades esportivas brasileiras. Não devemos fechar os olhos para o ilícito e é nosso dever como qualquer cidadão brasileiro, proteger e preservar o bom funcionamento do nosso País”, diz um trecho da carta.
Os dirigentes de confederações esportivas se manifestaram?
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Os presidentes de confederações esportivas brasileiras estão evitando se manifestar sobre a prisão temporária de Nuzman até que a situação seja concluída. Diversos dirigentes preferiram não dar declarações sobre o movimento olímpico e os rumos que poderá tomar no País. Mauro Silva, presidente da CBBoxe, foi um dos poucos a falar. Ele se mostrou triste com a notícia e disse reconhecer o direito do acusado em se defender.
“Não é uma notícia agradável, mas ainda está em andamento. A gente que está no meio do esporte não se sente bem com isso. Mas, agora, vem o próximo passo e o advogado vai fazer a defesa, que é direito dele. Temos de esperar para ver no que isso vai dar”, analisou. Muitos dos dirigentes estão no Chile, onde estão sendo disputados os Jogos Sul-Americanos da Juventude. Vale lembrar que a única confederação que fez oposição a Nuzman na última eleição do COB foi a de tênis de mesa (CBTM). Seu presidente, Alaor Azevedo, está no Chile e afirmou que não iria se manifestar também, mesmo ciente de que Nuzman encomendou um dossiê sobre ele justamente por ser um grande opositor.
Preso temporariamente por cinco dias, o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, vai dormir em colchões usados durante a Rio-2016. Camas, colchões e roupas de cama usados durante o evento esportivo foram transferidos para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica (zona norte do Rio), cuja reforma foi concluída em março e onde também está preso o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). Preso desde novembro, inicialmente no complexo penitenciário de Bangu 8, na zona oeste, Cabral foi transferido em maio para a cadeia de Benfica e está subordinado às mesmas regras aplicadas a Nuzman.
Qual o tamanho da fortuna do cartola?
Nuzman teve crescimento “exponencial” de seu patrimônio entre 2006 a 2016: 457%, segundo o Ministério Público Federal (MPF). Só em 2014, o patrimônio de Nuzman dobrou, com um acréscimo de R$ 4,2 milhões. Os bens de Nuzman incluem 16 barras de ouro, depositadas em um cofre na Suíça, segundo denúncia dos procuradores federais à Justiça. De acordo com o MPF, “chama a atenção o fato de que, desse valor, R$ 3.851.490,00 são decorrentes de ações de companhia sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecido paraíso fiscal.” As informações foram obtidas com a quebra do sigilo fiscal do presidente do COB. O MPF destaca ainda que as declarações de Imposto de Renda de Nuzman não registram a sua remuneração recebida do COB ou do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016.
José Maria Marin, presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 (COL) está em prisão domiciliar em Nova York, nos Estados Unidos. Ele está preso desde maio de 2015 e foi transferido para os Estados Unidos em novembro daquele mesmo ano. Lá, será julgado a partir de 6 de novembro por fraude e lavagem de dinheiro, entre outras acusações. O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e um dos anteriores, Ricardo Teixeira, estão em liberdade, mas ambos também foram indiciados nos Estados Unidos por envolvimento nos mesmos crimes de José Maria Marin. Como o Brasil não extradita os seus cidadãos, não serão julgados. Dirigentes de outros esportes também estão às voltas com a Justiça. O ex-presidente da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), Coaracy Nunes, passou 82 dias na prisão este ano acusado de desvio de dinheiro. Outros três ex-dirigentes da entidade também foram presos. Além disso, confederações como a de Taekwondo e Handebol tiveram problemas com seus cartolas. No Taekwondo, o presidente Carlos Fernandes foi afastado do cargo - ele é acusado de desvios. A de Handebol sofreu intervenção após a eleição ter sido impugnada pela Justiça.
O escândalo gera alguma punição esportiva ao Brasil?
Sim, também... O Comitê Executivo do COI (Comitê Olímpico Internacional) anunciou que Carlos Arthur Nuzman foi suspenso de suas funções na entidade. Além disso, suspendeu o Comitê Olímpico Brasileiro. Com isso, a entidade ccorta todos os repasses ao Brasil, inclusive para sanar o deficit deixado pelos Jogos Olímpicos. Mas o COI vai permitir que os atletas brasileiros possam continuar a representar o País nos Jogos de Inverno de 2018.
O que diz a defesa de Nuzman?
O advogado Nélio Machado, que defende o presidente do COB, afirmou que a prisão temporária de seu cliente é “dura e não usual”. Ele disse que o dirigente é inocente da suspeita de compra de votos de membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) para a eleição do Rio como cidade-sede da Olimpíada de 2016.
“A defesa responderá ponto por ponto, item por item todos os pontos com convicção absoluta de que é uma acusação destituída de fundamento, de respaldo e base”, afirmou Machado. Segundo o advogado, o patrimônio de Nuzmam também “está compatível com seus ganhos”. O cartola declarou à Receita ter R$ 8,4 milhões em bens em 2014, o dobro dos R$ 4,2 milhões do ano anterior.
O Ministério Público Federal garante que vai investigar a organização do Pan de 2007. O evento foi presidido também por Nuzman. “Vamos apurar se a organização criminosa já se beneficiava naquela época. Não fechamos nenhuma linha de investigação”, disse o promotor Rodrigo Timóteo. Para realizar o Pan de 2007, o Rio sofreu com uma série de atrasos na execução das obras e teve o orçamento estourado várias vezes. O evento iria custar, inicialmente, R$ 414 milhões, mas saiu por R$ 3,7 bilhões. “O esquema pode ser muito maior. Estamos colhendo novos dados”, disse a procuradora Fabiana Scheider. O Pan foi realizado no primeiro ano de Sérgio Cabral como governador do Rio.
Quem está à frente do COB agora?
O vice-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Paulo Wanderley Teixeira, assumiu a presidência da entidade. Ex-presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Wanderley se juntou a Nuzman para compor a chapa única vencedora do pleito à presidência do COB no final do ano passado. Por enquanto, ele não está sob investigação e está sendo blindado para não falar. Internamente, é tido como o sucessor de Nuzman, que está no seu sexto mandato e deixaria o cargo em 2020.
Foto: MAURO PIMENTEL/AFP