POLICIA
Abdelmassih é indiciado por mais 37 estupros e manipulação genética.
Inquérito policial de 2009 foi concluído em março e seguiria à Justiça.
Em 25/06/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
A Polícia Civil de São Paulo indiciou Roger Abdelmassih, de 72 anos, pela suspeita de ter cometido mais crimes de estupro e de manipulação genética irregular contra outras 37 pacientes, entre 1990 a 2008.
Atualmente o ex-médico está detido em Tremembé, interior do estado, por ter sido condenado a pena de 181 anos de prisão por ataques sexuais (estupros, atentado violento ao pudor e atos libidinosos) a também 37 clientes, entre 1995 e 2008.
Para a polícia, somando as vítimas da condenação e as que estão investigadas, Abdelmassih cometeu crimes sexuais e de manipulação genética contra 74 mulheres.
O G1 apurou que no relatório final da 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) consta ainda o pedido prisão preventiva do ex-geneticista à Justiça “para garantia da ordem pública” – o que significa, se a solicitação for aceita, que ele ficará preso até um eventual julgamento. O inquérito foi concluído em 31 de março para ser encaminhado ao Poder Judiciário
O advogado de Abdelmassih disse que não vai comentar o mais recente indiciamento de seu cliente. Ao ser interrogado por carta precatória, em 29 de fevereiro, o ex-médico não respondeu nenhuma das perguntas feitas dentro da penitenciária, se reservando ao direito de permanecer calado e só falar em juízo.
O G1 também procurou a assessoria de imprensa do Ministério Público (MP) para saber se alguma Promotoria ofereceu denúncia contra o ex-médico, mas não obteve retorno. De acordo com o Tribunal de Justiça, "não há informações que possam ser passadas, devido ao Segredo de Justiça."
As novas denúncias
Nesse inquérito, que começou a ser produzido em 2009, as mulheres acusam Abdelmassih de abuso sexual e irregularidades médicas. Veja abaixo trechos dos depoimentos das vítimas à polícia. Elas narram o que teriam sofrido em duas clínicas de reprodução humana assistida que o então famoso geneticista comandava em bairros nobres da capital paulista.
Todas as pacientes tinham procurado Abdelmassih querendo se submeter a tratamento de fertilização “in vitro” para engravidar. Nos depoimentos, ao menos 30 das pacientes afirmam ter sido beijadas e acariciadas à força.
Entre elas, uma contou que o então médico a obrigou a fazer sexo, quando estava voltando da anestesia. Outra acha que sofreu sexo anal enquanto dormia na mesa ginecológica. Todos esses relatos configuram, pela lei atual, que elas foram vítimas de estupro.
Mais três clientes denunciaram a manipulação genética, além do estupro. E outras quatro contaram ter sido vítimas somente de irregularidades cometidas por Abdelmassih ao manipular geneticamente óvulos e espermatozoides. Há casos de mães que perderam os filhos ou de crianças que nasceram com deficiências.
A maioria das mulheres também relata a insistência do médico em beijá-las durante as consultas e tocar o corpo delas enquanto estavam anestesiadas. “Roger aproveitava as brechas para passar a mãos em suas pernas e seios”, afirmou uma.
Histórico
As denúncias contra o médico começaram em 2008. Abdelmassih foi indiciado em junho de 2009 por estupro e atentado violento ao pudor. Ele chegou a ficar preso de 17 de agosto a 24 de dezembro de 2009, mas recebeu do Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de responder o processo em liberdade.
A denúncia do Ministério Público à Justiça apontou que o médico tinha estuprado 39 pacientes. Ao todo, as vítimas acusaram o médico de ter cometido 56 estupros.
Em 23 de novembro de 2010, a Justiça o condenou a 278 anos de reclusão. Foram considerados 48 ataques a 37 vítimas entre 1995 e 2008. Abdelmassih não foi preso logo após ter sido condenado porque um habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ) dava a ele o direito de responder em liberdade.
O habeas corpus foi revogado pela Justiça em janeiro de 2011, quando ex-médico tentou renovar seu passaporte, o que sugeria a possibilidade de que ele tentaria sair do Brasil. Como a prisão foi decretada e ele deixou de se apresentar, passou a ser procurado pela polícia.
Após três anos foragido, quando chegou a ser considerado o criminoso mais procurado de São Paulo, Abdelmassih foi preso no Paraguai pela Polícia Federal (PF), em 19 de agosto de 2014. Em outubro daquele ano, a pena dele foi reduzida para 181 anos, 11 meses e 12 dias, por decisão judicial. Entretanto, pela lei brasileira, nenhuma pessoa pode ficar presa por mais de 30 anos. O ex-médico sempre negou ter cometido os estupros pelos quais foi condenado.
O inquérito concluído em março deste ano sobre mais 37 mulheres vítimas de Abdelmassih começou a ser produzido em 2009. Antes de ser detido pela PF, ele era investigado por estuprar e cometer manipulação genética irregular contra 26 pacientes.
A repercussão da prisão levou novas vítimas a procurar a Delegacia de Defesa da Mulher para denunciar abusos contra o ex-geneticista. À época, a delegada da 1º DDM identificou mais 11 pacientes abusadas. Ainda com medo, outras nove vítimas mulheres prestaram depoimento na condição de protegidas – os nomes delas não aparecem no inquérito.
Além de estupro, Abdelmassih responde preso aos crimes envolvendo infrações cometidas em manipulação genética, que estão previstos nos artigos 24 e 25 da Lei 11,105 de 2005 sobre Biossegurança. Segundo policiais, Abdelmassih também é investigado em outro inquérito por crime de sonegação fiscal.
Veja abaixo o que cada uma das 37 mulheres disse em depoimento à policia contra Abdelmassih:
Data não especificada
Uma paciente contou que o marido tem HIV e Roger Abdelmassih prometeu filhos para o casal, lavando o sêmen do homem para criança não ter o vírus. Além disso, falou que foi assediada sexualmente pelo médico. “Me dá um beijo e apontou seu dedo para a boca dele”, disse a mulher sobre o geneticista. Ela ainda gravou a conversa com que tiveram com o celular.
2008
Outra cliente relatou ter sido beijada à força por Abdelmassih.
2008
Mulher relatou ter sido beijada à força pelo médico.
2008
Paciente contou que percebeu que Abdelmassih beijava mulheres perto da boca. Falou ainda que adquiriu uma infecção ao fazer tratamento com ele.
2007
Mulher denunciou abuso sexual por parte do médico. “Se esfregou no seu corpo várias vezes, além dos beijos babados”, descreve o relatório sobre o que ela disse a respeito de Abelmassih.
Agosto de 2006
Paciente contou que foi à clínica com a irmã, que já havia sido assediada sexualmente por Abdelmassih. “Segurou seu rosto com as duas mãos e beijou-lhe à força, lambuzando o seu rosto”, informou ela no depoimento.
Julho de 2006
Mulher disse no depoimento que o geneticista tentou beijá-la à força e teria feito sexo com ela. “Em outra ocasião, quando acordou da sedação, percebeu que o médico estava com o avental desarrumado e o zíper da calça aberto e então ele lavou as mãos”. “Teve a sensação de que fora vítima de relação anal, pois percebeu um líquido estranho e uma dor”. “Agarrou-lhe à força e encostou o pênis, percebendo que ele estava excitado, desferiu um tapa no rosto dele”. Ela ainda comentou sobre irregularidades envolvendo manipulação genética. “Estavam descarregando na clínica várias gaiolas contendo muitos ratos brancos”.
Outubro de 2004
Paciente relatou que quando o marido virou as costas, Abdelmassih “segurou fortemente sua mão, beijou-lhe na boca e esfregou a barba em seu rosto”.
2003 e 2002
Outra mulher disse Abdelmassih “encostou-lhe na parede e percebeu que o médico estava excitado e beijou-lhe a força”.
Janeiro de 2002
Uma paciente disse que estava deitada na maca e Abdelmassih tocou seus seios sem luva quando ela ainda estava com tontura por conta da anestesia. Relatou que ele introduziu o dedo na vagina e no ânus. Em seguida, percebeu esperma escorrer pelas suas pernas.
2002
Uma cliente relatou ter sido beijada à força pelo geneticista. Disse ainda que teve um filho com autismo
2002 e 2001
Mulher relatou ter sido beijada à força por Abdelmassih.
Setembro de 2001
“Pediu-lhe para abrir a blusa, abraçou-lhe à força, apertou seus braços e beijou seu rosto, melando todo seu rosto”, descreve o relato de uma mulher.
Setembro de 2001
“Cumprimentando-a com beijos próximos à boca”, contou outra mulher sobre o médico, que segundo ela, mexeu em sua “vulva” sem luva. “Quando acordou estava em pé em um corredor, sendo amparada pelo médico que a beijava na boca”.
Dezembro de 2001
“Abraçou-lhe e beijou-lhe os lábios”, informa o depoimento de uma paciente. Segundo ela, Abdelmassih “sussurrou: ´delícia’” logo em seguida. O tratamento teve êxito, no entanto: nasceram duas meninas.
Março de 2000
Mulher falou que médico fazia elogios excessivos e dava beijos à força em sua boca. "Segurando-lhe o rosto e beijava molhadao no canto da boca". Ela falou ainda que perdeu óvulos e feto.
13 de março de 1999
Mulher disse que foi assediada por telefonemas de Abdelmassih e na clínica dele, quando tentou beijar sua boca. “Exibiu o pênis e pediu para acaricia-lo”.
1999
Mesmo acompanhada do marido, “Roger aproveitava as brechas para passar a mãos em suas pernas e seios”, descreve o relato de uma paciente. Ao aplicar uma vacina que a mulher queria que fosse no braço, Abdelmassih insistiu que fosse na coxa. “Ao invés de passar algodão com álcool, ele passou a língua, derrubou a seringa no chão e tentou retirar sua roupa e também a roupa dele”. Em 9 de outubro de 1999, enquanto o médico falava com a esposa dele no telefone, acariciava a paciente: “passou a mão nos seios”.
Janeiro de 1999
Outra mulher relatou que Abdelmassih a beijou à força. “Ele forçou para colocar a língua em sua boca”.
Maio e julho de 1999
Paciente falou que não houve abuso sexual e doou óvulos excedentes para Abdelmassih.
20 de outubro de 1999
“Fixando o olhar em suas partes íntimas”, descreve o relato de outra paciente. “Ainda sob efeito da anestesia, acordou com o médico ao lado da cama com o corpo inclinado em cima dela, desferindo-lhe um beijo de selinho em sua boca e quando percebeu aquela atitude, sentiu nojo, repulsa e saiu apavorada”.
1999 e 1998
Mulher relatou que o médico forçou beijo perto da boca. “Tentou enfiar a língua” na boca.
4 de fevereiro de 1998
Segundo paciente, Abdelmassih perguntou a ela: “você conhece a noite de São Paulo?”. E a empurrou contra a parede e a beijou.
1998
Mulher relatou que geneticista acariciou seu corpo.
8 de maio de 1997
Paciente contou que Abelmassih "beija o canto de sua boca, beijo molhado". Ela disse que adquiriu "doença crônica na bexiga devido a tanta infecção".
1996
“Abdelmassih era carinhoso, meloso e a beijava sempre próximo da boca, além de abraça-la, tentou beijá-la”, contou paciente.
1996
Mulher disse que médico acariciou seu rosto quando ela saiu da anestesia. Contou que teve filhos gêmeos: uma menina diagnostica com distúrbios de conduta e um menino com "deficiência intelectual".
1996 e 1995
“Prendeu suas mãos para trás, empurrando-a contra a uma mesa e começou a beijá-la e lambe-la, porém com muito esforço, conseguiu soltar-se”, narra uma mulher.
1995
“Sentiu Roger Abdelmassih acariciando seu corpo debaixo do avental”, relatou outra paciente.
1995
Mulher disse que médico acariciou seus cabelos.
Agosto de 1993
"Expôs sua vida em risco de morte pois ocorreu a síndrome da hiperestimulação ovariana em grau elevado", relatou uma paciente do geneticista.
8 fevereiro de 1993
Uma paciente que estava sedada e usava avental disse que Abdelmassih “agarrou-lhe e forçou um beijo na sua boca e ainda acariciou seu corpo”.
1993
Mulher relatou que médico a abraçou e tentou beijá-la à força.
1993
Paciente relatou que Abdelmassih a beijou à força e acariciou seus seios e pernas quando o marido não estava na sala.
1993
Mulher contou que ao retornar da anestesia, “sentia muita dor e estava em posição ginecológica, quando percebeu que o médico Roger Abdelmassih estava no meio das suas pernas”. Ela disse que teve trigêmeos no ano seguinte.
1991
Paciente denunciou abuso sexual contra Abdelassih. “Acariciou sua vagina”, disse ela sobre o que o médico, que “estava em pé, próximo da maca e com o órgão genital próximo de seu rosto” fez.
“Na última tentativa, compareceu na clínica para análise dos óvulos, então retirou a roupa e permaneceu deitada em posição ginecológica, então o médico Roger Abdelmassih entrou na sala e a constrangeu à conjunção carnal”.
1990
Mulher acordou e notou Abdelmassih beijando sua boca. Enquanto era atendida pelo enfermeiro, o médico “permaneceu na sala durante o tempo todo, enviando beijos e passando a língua na boca de forma libidinosa”.
Fonte: g1-SP