MEIO AMBIENTE
Água do Rio Doce fica mais escura e nível sobe 40 centímetros no ES.
Por volta de 5h, moradores começaram a chegar na ponte sobre o Rio Doce.
Em 10/11/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Um grupo de moradores de Baixo Guandu, na região Noroeste do Espírito Santo, aguarda a chegada da lama vinda do rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, nesta terça-feira (10). Por volta das 5h, alguns moradores começaram a chegar na ponte sobre o Rio Doce, no município. De acordo com o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), a água turva, que vem antes da lama, chegou ao município por volta das 22h desta segunda-feira (9).
O diretor do Saae, Luciano Magalhaes, explicou que o abastecimento foi suspenso por algumas horas com a chegada da água turva, mas como não apresentava riscos, o abastecimento voltou ao normal. O Saae espera a chegada dos rejeitos para poder suspender o abastecimento. Com a água turva, o nível do rio aumentou entre 30 e 40 cm, segundo o Saae.
O rompimento de duas barragens de rejeitos aconteceu na quinta-feira (5) e causou uma enxurrada de lama no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais. A lama também chegará ao Espírito Santo e deve afetar o abastecimento de água de municípios.
Monitoramento
Uma empresa contratada pela Samarco, responsável pela barragem que rompeu em Mariana, está coletando amostras ao longo do Rio Doce no Espírito Santo. Eles estão medindo a qualidade da água antes e depois da chegada dos rejeitos. À reportagem eles disseram que não estão autorizados a falar mais sobre os trabalhos.
Moradores
Dona Angelina mora à beira do Rio Doce, em Baixo Guandu. A aposentada está preocupada com o impacto dos rejeitos na fauna e flora local.
"A maior preocupação é com a fauna, flora, os pesvcadores que vivem da pesca. Os peixes estão morrendo tudo, como vão viver. Está acabando tudo por onde passa, pelo que vi na internet. E quem vai ser responsabilizado por isso?", questionou Angelina.
A funcionária pública Valdete Malini foi cedo, nesta terça-feira (10), acompanhar a situação do Rio Doce. Ela mora nas proximidades do rio e tem acompanhado apreensiva a chegada dos rejeitos.
"Eu esperava encontrar muita sujeira, mas fico aliviada de não encontrar tão suja. Vim desde cedo porque estou preocupada", disse Valdete Malini.
A notícia preocupou os moradores, que se reuniram na ponte para esperar a chegada da lama nesta segunda-feira (9).
"Vim com um pouco de preocupação e um pouco de curiosidade. Como a gente reage para esperar essa lama? Ninguém sabe como ela virá, se forte ou fraca", falou a dona de casa Leidiane Monteiro.
O gari João Batista Barcelos também foi atraído pela curiosidade. "Quero ver se ela vai causar algum dano mesmo", disse.
Perigo
Para o prefeito Neto Barros, não há perigo de os moradores ficarem no local. "Eles têm costume de ficar ali quando tem enchente, ficam sempre acompanhando. A Polícia Militar está no local também, para monitorar", disse.
No município, a população já vem se preparando para a situação, já que o abastecimento de água será interrompido para análise assim que a lama de rejeitos chegar ao rio que abastece a cidade. Moradores têm feito armazenamento principalmente em caixas d'água extras, piscinas e estoque de galões de água mineral.
"Nosso estoque de caixas d'água acabou desde sábado. Vendemos tudo", disse o vendedor Weslei Milagre.
Samarco tem que distribuir água e monitorar rio
O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) informou, nesta segunda-feira (9), que a mineradora Samarco tem que distribuir água aos moradores e monitorar o rio, em função dos impactos ambientais e socioeconômicos que serão causados no Espírito Santo pela lama de rejeitos que atingiu o Rio Doce.
A determinação do Instituto é para que a empresa promova todo o apoio necessário aos municípios e aos cidadãos capixabas que forem atingidos pela onda de lama. Para isso, a mineradora deverá realizar ações que minimizem os impactos ambientais decorrentes da impossibilidade do tratamento de água nos locais afetados pelos rejeitos, assim como pelo comprometimento de outros usos que são feitos do Rio Doce como agricultura e a pesca.
Em nota, a Samarco informou que está atenta a qualquer repercussão no Espírito Santo e em constante contato com as autoridades competentes. A empresa disse que está tomando todas as providências possíveis para mitigar os impactos ambientais gerados e, em caso de necessidade, auxiliar prefeituras e as comunidades em eventuais ocorrências.
"A coleta de amostras de água nos trechos impactados já foi iniciada e terá continuidade até a normalização da situação. É importante mencionar que a empresa está, no momento, concentrando seus esforços no atendimento às pessoas atingidas", diz a nota.
As operações da empresa na Unidade de Germano/Minas Gerais já estão paralisadas. Na Unidade de Ubu, em Anchieta/Espírito Santo, as operações industriais serão paralisadas ao final dos estoques de minério, bem como as operações de embarque, que serão interrompidas ao término dos estoques de produtos.
Governador sobrevoa região
O governador Paulo Hartung sobrevoou a região Noroeste do estado na manhã desta segunda, de onde coordena as ações que buscam amenizar os impactos dos rejeitos.
"A nossa equipe de governo e as equipes das prefeituras vêm trabalhando de uma maneira coordenada, com todos os setores, como Defesa Civil e o setor de água. Nós unimos os técnicos da Cesan e os técnicos dos SAAEs na região do [Rio] Doce. Esse trabalho tem o intuito de amortecer o impacto no ponto de vista da população naquilo que está ao nosso alcance, infelizmente tem muita coisa que não está, numa tragédia como essa", explicou Hartung.
O governo trabalha com a possibilidade de suspensão do abastecimento de água por tempo indeterminado em Baixo Guandu e Colatina. Equipes de análise monitoram a qualidade da água do Rio Doce e caso seja constatada imprópria para consumo, o abastecimento será interrompido imediatamente.
Governo federal
O ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, colocou à disposição do governo do Espírito Santo as ações federais para enfrentar a chegada ao estado dos rejeitos de mineração provenientes do rompimento das barragens em Mariana.
O ministro estará nesta terça-feira (10) com o governador Paulo Hartung, para tratar apoio federal nas ações de assistência à população das cidades atingidas.
A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) estão desenvolvendo ações de apoio ao estado em coordenação com os órgãos locais.
Doações
Segundo o governo do estado, órgãos públicos e empresas privadas já doaram um total de 60 carros-pipa. Até a tarde desta segunda, cerca de 700 litros de água haviam sido doados em Vitória, de acordo com os bombeiros.
As doações devem ser feitas no quartel do Corpo de Bombeiros Militar, situado na rua tenente Mário Francisco de Brito, na Enseada do Suá, em Vitória.
Outro ponto de doação na capital é a Defesa Civil Municipal, que fica na Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, 225, Edifício Tucumã, na Praia do Suá.
Em Colatina, as pessoas podem doar no antigo Restaurante Popular, próximo ao 8º Batalhão da PM. Já em Baixo Guandu, quem quiser doar pode procurar a Companhia da PM, no bairro Sapucaia.
As empresas que quiserem ajudar com carros-pipa devem entrar em contato com a Defesa Civil, pelo telefone (27) 9 9904-5736.
Monitoramento
O secretário de Estado do Meio Ambiente, Rodrigo Júdice, ressaltou as medidas tomadas pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) com relação aos impactos ambientais e sociais que serão causados pela chegada da lama.
“Com relação aos danos ambientais, eles são inevitáveis. Nós temos que monitorar a qualidade da água. Este monitoramento já está sendo feito pela própria empresa e a Cesan também está fazendo este monitoramento. Já entramos em contato com o órgão ambiental que licenciou a barragem no estado de Minas Gerais para analisar os produtos que são manuseados pela empresa e fazer a confrontação com o material que vai ser coletado no rio”, explicou.
Uma equipe da Fiscalização do Iema está em Colatina de plantão desde sábado (7) para acompanhar os impactos ambientais causados pela chegada da lama no Espírito Santo. Além disso, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) e também o Instituto estão em contato com os órgãos ambientais de Minas Gerais para trocar experiências e atualizar informações.
Além dos monitoramentos realizados pela Cesan e pela Samarco, o Iema está contratando uma empresa especializada para promover coletas para análise com o intuito de produzir contranálises. As coletas realizadas pela Samarco estão sendo acompanhadas por fiscais do Instituto. Outra ação do órgão é buscar parceria com a academia no intuito de intensificar o monitoramento no mar.
Ministério Público
O Ministério Público do Espírito Santo (MPES), por meio do Centro de Apoio Operacional da Defesa do Meio Ambiente (Caoa) e das Promotorias de Justiça dos municípios afetados, informou que instaurou nesta segunda-feira (9) um inquérito civil para apurar as consequências e os impactos sociais e ambientais provocados em municípios capixabas.
Uma equipe técnica do MPES foi para Colatina para monitorar e avaliar os efeitos da lama na água do Rio Doce.
O Ministério informou também que realizou, nesta segunda, uma reunião preliminar com a Samarco para discutir o assunto. A reunião será retomada nesta terça-feira (10) e, na ocasião, a mineradora deverá apresentar ao MPES um plano concreto de ações emergenciais e um plano de abastecimento de água para os municípios de Baixo Guandu e Colatina.
Abastecimento
O abastecimento de água tratada na cidade de Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, vai ser fornecido pelo município de Linhares, na região Norte, segundo informou, nesta segunda-feira (9), o prefeito de Colatina, Leonardo Deptulski. Após a passagem dos rejeitos vindos do rompimento da barragem em Mariana, Minas Gerais, carros-pipa irão buscar a água tratada para abastecer hospitais, asilos, abrigos e presídios.
De acordo com o prefeito, as equipes que vão realizar o transporte estiveram no local de captação e já acertaram a parte operacional. “Acho que vai ser possível manter entre 20% e 30% do que a gente trata normalmente quando capta no Rio Doce”, falou Deptulski.
Ainda não há uma previsão do tempo que o município de Colatina vai ter o abastecimento suspenso. “A primeira cidade que passou por isso foi Governador Valadares e nós ainda não sabemos o que aconteceu. Em Ipatinga, onde houve análise, a qualidade da água piorou. Se essa tendência se confirmar, vamos ficar entre 24 e 48 horas com o risco de não tratar”, destacou o prefeito.
Apesar disso, as duas barragens existentes no percurso da lama podem reduzir o tempo de suspensão do abastecimento. “Passando pelas barragens, diminui a concentração de partícula. Assim que a mancha de lama estiver mais próxima, nós já vamos coletar amostra para fazer análise e, a partir daí, é que nós vamos dizer se vamos continuar tratando a água ou não”, falou Deptulski.
Reservatórios
Moradores do município de Baixo Guandu, por onde a lama também vai passar, começaram a se prevenir com reservatórios de água. Sem caixa d'água em casa, o jeito foi improvisar uma piscina com quase 5 mil litros no quintal.
“Nem todo mundo tem condições de ficar comprando água. Aqui e na outra casa não tem caixa d'água, então a gente tomou a iniciativa de encher a piscina para não ficar sem”, falou a dona de casa Jéssica Gomes.
Segundo o diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Baixo Guandu, Luciano Magalhães, o abastecimento vai ser interrompido para análise.
“Vamos esperar pelo menos aquela primeira água mais densa passar, para, aí sim, com a água toda normal, dentro dos parâmetros, a gente volta a tratar. O importante é armazenar o máximo que der e economizar, porque, pelo menos, durante essas 48 horas, a gente não tem previsão de retomar a captação”, afirmou.
Comunidades ribeirinhas
A Defesa Civil realizou, neste domingo (8), uma ação para retirar pescadores, banhistas e moradores das comunidades próximas ao Rio Doce, em Baixo Guandu e Colatina.
Segundo a Defesa Civil, a prioridade é resguardar a população que pode sofrer com o aumento da vazão do Rio Doce. O órgão atua ainda no monitoramento e em ações para a chegada da onda de rejeitos.
Fonte: G1-ES