EDUCAÇÃO
Alunas do curso de Direito da Ufes denunciam incitação ao estupro.
Estudantes decidiram protestar e formar um coletivo de mulheres do curso.
Em 09/05/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Um grupo de mulheres, estudantes de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), denunciou o machismo que sofrem no curso. Um áudio com estudantes homens gritando "Uh, uh estupro é tabu. Sexo surpresa, sexo surpresa", quatro dias depois de uma tentativa de estupro dentro do curso, foi a gota d'água para as alunas.
"Desde 2014, que se perpetua uma cultura muito misógina e machista no Direito. Ouvimos tanto dos discentes (alunos), quanto dos docentes (professores)", contou a aluna Rayane Marinho.
Segundo Rayane, o áudio com apologia ao estupro foi enviado em um grupo de WhatsApp de uma turma, e se espalhou entre os estudantes do curso. "Nos sensibilizou porque dias antes tinha acontecido o caso de tentativa de estupro na Universidade", afirmou.
Foi por isso que cerca de 250 mulheres se juntaram e escreveram as frases machistas que já escutaram no curso em alguns cartazes. Eles foram colados nos corredores do prédio do Direito, no Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) da Ufes.
O que surpreende as alunas é o fato do curso ser formado por uma maioria de mulheres. "Nos mobilizou porque não foi uma conduta pontual, tem sido uma cultura recorrente. O canto era um coro. Isso tem sido um fator de orgulho para eles. Isso é o parâmetro de você ser taxado como 'mito' no curso", completou.
Coletivo de Mulheres
Para discutir esses assuntos e também definir ações contra esse tipo de atitude, as estudantes decidiram criar um coletivo de mulheres do Direito.
A diretora de ação social do Centro Acadêmico (CA) de Direito da Ufes, Maria Cecília Silva Souza, explicou que o projeto ainda é um embrião e começou a ser formado.
"A partir das decisões que esse coletivo tomar é que vamos saber se será aberto um processo administrativo contra esses alunos, ou o que pode ser feito. A gente acredita que o coletivo terá a função de decidir sobre isso", afirmou.
Centro Acadêmico
Sobre o posicionamento do Centro Acadêmico, que representa os estudantes do curso, Maria Cecília explicou que o CA de Direito repudia todo o ato de machismo dentro do Curso.
"Esse áudio nos surpreendeu porque tínhamos acabado de realizar um ciclo de palestras sobre direito e gênero. O CA nunca se omitiu diante dos fatos, mas o áudio foi uma surpresa. A gente sempre percebeu que acontecia, o problema é que esse tipo de assunto nunca foi central no Direito. O áudio foi a gota d'água", afirmou.
Maria Cecília acredita que o problema pode ser resolvido com debate. "Eles não se identificaram, esse menino que cantou (a primeira parte) divulgou no grupo da sala dele. A gente não acredita que a exposição dele vai trazer resultados positivos nem para ele, nem para ninguém", completou.
Atlética do Direito
A Atlética do Direito é responsável por organizar festas e campeonatos dentro do curso. Os cantos com conteúdos machistas geralmente são cantados nesse evento.
Sobre o assunto, a Atlética disse que "repudia veementemente qualquer ato ofensivo, praticado no âmbito do curso ou não, em especial quando atinge um ponto tão caro quanto a integridade das mulheres".
Além disso, afirmou que os universitários que fizeram cantos com apologia ao estupro e violência de mulheres não os representam.
"Tais atitudes não traduzem de forma alguma o pensamento predominante no curso de Direito, dentro ou fora da Atlética ou de qualquer outra representação estudantil. E, no intuito de ouvir a opinião dos alunos para a construção de uma gestão democrática, elaboramos um documento que serviu como ouvidoria, disponibilizado no final de março a todos os estudantes", disse em nota.
Para a Atlética, somente com o diálogo será possível abrir os olhos para o debate dessas questões. "Expressamos intenso apoio à iniciativa das nossas colegas, que têm se organizado para debater medidas em prol da desconstrução do machismo em nosso ambiente acadêmico, bem como nos colocamos à disposição para o diálogo, que já começa a dar frutos em nossa faculdade", completou.
Fonte: G1-ES