POLÍTICA INTERNACIONAL

Ameaça russa em Venezuela e Cuba é isca que não atrai os EUA

Secretário dos EUA, Antony Blinken, com o ministro das Relações da Rússia, Sergei Lavrov.

Em 21/01/2022 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: POOL/AFP

A Rússia carece de capacidade para projetar e manter forças militarmente significativas no hemisfério ocidental. Tampouco têm os recursos” necessários devido ao custo de sua mobilização na fronteira ucraniana

A ameaça russa de posicionar forças militares em Cuba e Venezuela “não é crível” e tem como único objetivo distrair a atenção da crise na Ucrânia para que os Estados Unidos mordam a isca e reajam, opinam especialistas.

“Não quero confirmar nada […] nem descartar”, respondeu o vice-ministro de Relações Exteriores russo Sergei Ryabkov ao canal de televisão RTVI sobre se previa uma mobilização militar na Venezuela ou em Cuba, como parte do contexto envolvendo a crise com o Ocidente sobre a questão ucraniana.

É uma “fanfarronice”, disse o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan. Contudo, “se a Rússia avançar nessa direção, nos ocuparemos do tema de forma decisiva”, advertiu.

Os governos de Venezuela e Cuba mantêm uma péssima relação com os Estados Unidos, que os considera regimes autoritários, mas isso não tem nada a ver com as relações de Moscou com esses países.

O comentário russo “tem o propósito de agitar a todos nós e não podemos cair nessa artimanha. É uma provocação, um blefe para gerar uma reação”, declarou à AFP Juan Cruz, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês) e ex-assessor sobre América Latina e Caribe no Conselho de Segurança Nacional, durante o mandato de Donald Trump.

“A ameaça não é crível”, coincidiu Evan Ellis, professor de estudos latino-americanos do Instituto de Estudos Estratégicos da Escola de Guerra do Exército americano.

“A Rússia carece de capacidade para projetar e manter forças militarmente significativas no hemisfério ocidental. Tampouco têm os recursos” necessários devido ao custo de sua mobilização na fronteira ucraniana e às sanções que seriam impostas por europeus e americanos se Putin decidisse invadir o país vizinho, acrescentou.

“[Os russos] não podem se dar esse luxo, nem mesmo através de seu instrumento, o Grupo Wagner”, uma organização militar privada. Seu único interesse “é meter o dedo no olho dos gringos [americanos]”, opinou Juan Cruz.

Venezuela, a aliada

A Rússia é a principal fornecedora de armas a Caracas, explica Rocío San Miguel, diretora da ONG venezuelana Control Ciudadano, especializada em temas de segurança nacional.

Além disso, o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López, comentou que “a Rússia considera a possibilidade de aprofundar as relações de cooperação militar” com Caracas.

Para San Miguel, o governo do presidente Nicolás Maduro aposta em uma presença militar russa “cada vez maior” na Venezuela, que inclusive se reflete em ações como o treinamento de forças venezuelanas por empresas de segurança russas.

Desde que chegou ao poder há mais de 20 anos, Putin tenta recuperar algo do poderio soviético do passado, “e países como Venezuela, Nicarágua e Cuba têm servido muito para esse propósito, porque aproximaram seus vínculos” com Moscou, afirma a venezuelana Giovanna de Michelle, especialista em Relações Internacionais.

Hermetismo de Cuba

Em Cuba, no entanto, prevalece o silêncio. “Os cubanos não querem barulho com os gringos”, diz Juan Cruz.

Os russos sabem que “qualquer movimentação militar teria que ser negociada com a parte cubana e que Cuba responderia levando em conta as circunstâncias”, opina Carlos Alzugaray, ex-diplomata e acadêmico cubano.

Na mente de todos está a crise dos mísseis de 1962, quando EUA e URSS estiveram à beira de uma guerra nuclear depois que Moscou posicionou mísseis balísticos em Cuba.

Porém, caso ocorra alguma movimentação russa agora, a reação americana “seria mais como nos anos 1980 do que como na década de 1960”, sem um enfrentamento direto, acredita Cruz.

O Exército americano tem a obrigação de levar a sério as ameaças de um Estado com capacidade nuclear como a Rússia, “mas duvido que o próprio vice-chanceler Ryabkov esperasse que sua ameaça fosse levada a sério”, concluiu Evan Ellis. (AFP)

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