POLÍTICA NACIONAL
Antonio Palocci cita pacto de sangue e dispara contra Lula
Ex-ministro foi interrogado pelo juiz da Lava Jato nesta quarta-feira (6), em Curitiba.
Em 06/09/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
O ex-ministro Antonio Palocci disse, em depoimento ao juiz Sérgio Moro nesta quarta-feira (6), que o Instituto Lula recebeu R$ 4 milhões da Odebrecht e que havia uma espécie de "pacto de sangue" entre o PT e os donos da empreiteira, que previa o pagamento de R$ 300 milhões ao partido. Segundo os advogados do ex-ministro, Palocci disse que os R$ 4 milhões foram dados em espécie.
O ex-ministro dos governos petistas também afirmou a Moro que Lula sabia da compra de um terreno para o Instituto Lula e de um imóvel vizinho ao apartamento do ex-presidente, em São Bernardo do Campo.
"Em 2012, 2013, eu volto a tratar de alguns recursos a pedido do ex-presidente Lula. Tem um episódio, que o Marcelo [Odebrecht] relatou, que é verdadeiro. É um pedido que eu fiz a ele, de R$ 4 milhões pro Instituto Lula. Isso é verdade", afirmou Palocci.
"O Paulo Okamotto me pediu para que eu ajudasse ele a cobrir o final de ano do instituto, que faltava recurso. Acho que foi meio para o final de 2013, começo de 2014. Ele tinha um buraco nas contas, me pediu para arrumar recursos. Eu fui ao Marcelo Odebrecht. Eu ia viajar para o exterior, ele disse que precisava com muita urgência. A ideia dele era que eu procurasse várias empresas. Eu disse: 'Não posso, vou procurar só o Marcelo'. Pedi R$ 4 milhões", detalhou o ex-ministro a Moro.
"O Marcelo concordou em dar, falou que tinha disponibilidade. Pedi ao Brani [Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci] para transmitir ao Paulo Okamotto que seriam dados os R$ 4 milhões que ele havia pedido."
O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, negou que o ex-presidente tenha recebido propina. "Não há vantagem indevida, não há qualquer relação com contratos firmados com a Petrobras. A denúncia é uma pura ficção, e os depoimentos prestados hoje não contribuem para nada. São depoimentos que não acrescentam nada, até porque sem qualquer prova".
Ainda conforme Zanin, que acompanhou o depoimento de Palocci na Justiça Federal de Curitiba, Lula esteve no terreno uma vez e descartou qualquer interesse. "Na verdade, a diretoria do Instituto Lula verificou que ele não era apropriado para a destinação que se buscava. Então, está muito claro e isso, evidentemente, é a verdade e é o que vai também ser esclarecido pelo ex-presidente Lula". O petista depõe em Curitiba no dia 13.
"A destinação dos recursos era determinada a partir da cúpula do PT, seja pelo presidente Lula, Paulo Okamotto ou Antonio Palocci. Aí, foram destinados R$ 4 milhões do ex-presidente, questões pessoais de Antonio Palocci. Por exemplo, R$ 4 milhões em espécie que foram retirados para pagamento de gastos do Instituto Lula. Então, isso foi um favorecimento pessoal", afirmou o advogado André Pontarolli na saída da Justiça Federal.
Prédio para instituto
Palocci relatou ainda uma conversa que afirma ter tido com o ex-presidente sobre um prédio que a Odebrecht iria comprar para ser sede do Instituto Lula. "Eu voltei a falar com ele [Lula] sobre o prédio do instituto. Falei da minha conversa com o Bumlai e falei: 'eu não gostaria que fizesse desse jeito. Se o senhor está fazendo um instituto para receber doações e fazer sua atividade, não sei porque procurar agora um terreno. Não tem problema nenhum receber uma doação da Odebrecht, mas que seja formal ou que, pelo menos, seja revestida de formalidade'", afirmou.
"Eu até comentei com ele nesse dia: 'nosso ilícito com a Odebrecht já está monstruoso. Se nós fizermos esse tipo de operação, nós vamos criar uma fratura exposta desnecessária'", disse Palocci a Moro.
Segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Lula recebeu o terreno e o imóvel como vantagem indevida da Odebrecht.
Neste processo, Palocci responde pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele já foi condenado em outra ação da Lava Jato e está preso na Superintendência da Polícia Federal (PF) na capital paranaense.
A denúncia
Lula foi denunciado neste caso em 15 dezembro de 2016, e o juiz Sérgio Moro aceitou a denúncia quatro dias depois. Segundo o MPF, a Construtora Norberto Odebrecht pagou R$ 12.422.000 pelo terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula. Esta obra não foi executada.
A denúncia afirma também que Lula recebeu, como vantagem indevida, a cobertura vizinha à residência onde vive. De acordo com o MPF, foram usados R$ 504 mil para a compra do imóvel.
Ainda conforme a força-tarefa, este segundo apartamento foi adquirido no nome de Glaucos da Costamarques, que teria atuado como testa de ferro de Lula. Os procuradores afirmam que, na tentativa de dissimular a real propriedade do apartamento, Marisa Letícia chegou a assinar contrato fictício de locação com Glaucos da Costamarques.
Lula foi condenado no processo sobre o triplex no Guarujá, em São Paulo, a 9 anos e seis meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Além disso, ele também foi denunciado pela Lava Jato no processo que envolve um sítio em Atibaia, no interior paulista.
Imagem: Divulgação/Internet