ESPORTE INTERNACIONAL
Após lutar contra câncer no pulmão, Johan Cruyff morre aos 68 anos
Líder do Carrossel Holandês da década de 1970 e um dos maiores ídolos da história.
Em 24/03/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
O futebol perdeu um de seus grandes ícones nesta quinta-feira. Johan Cruyff, considerado o líder do chamado Carrossel Holandês da década de 1970 e um dos maiores ídolos da história do Barcelona, morreu aos 68 anos, depois de lutar contra um câncer no pulmão.
- Em 24 de março, Johan Cruyff morreu pacificamente em Barcelona, rodeado por sua família, após um dura batalha contra o câncer. É com grande tristeza que pedimos respeito à privacidade da família durante seu período de luto - diz comunicado divulgado pelo site oficial do ex-jogador.
Cruyff teve um câncer no pulmão diagnosticado em outubro do ano passado, quando iniciou sua luta contra a doença. No mês passado, o ídolo holandês chegou a dizer que estava vencendo a batalha "por 2 a 0", elogiando o trabalho dos médicos que vinham comandando seu tratamento. O ex-jogador tinha longo histórico de fumante e, mesmo tendo deixado o vício há 24 anos, considera que o cigarro "quase tirou" tudo o que havia conquistado com o futebol.
ÍDOLO EM Ajax E BARCELONA E LENDA NA "LARANJA MECÂNICA"
Considerado responsável por um estilo revolucionário de jogar futebol, Hendrik Johannes Cruyff dividiu sua paixão entre a Holanda e a Catalunha durante a maior parte de sua vida. O meia-atacante conquistou com o Ajax três vezes seguidas a antiga Copa dos Campeões da Europa e seis vezes o Campeonato Holandês, entre as décadas de 1960 e 1970 - o que chamou a atenção do Barcelona, que buscou sua contratação às vésperas da histórica Copa de 1974.
No clube catalão, Cruyff conquistou apenas uma vez o Campeonato Espanhol, em sua temporada de estreia - encerrando um jejum de 14 anos. Astro em jogos históricos, como a goleada por 5 a 0 imposta sobre o Real Madrid dentro do Santiago Bernabéu, ele deixou seu nome marcado no local onde voltaria como treinador décadas depois e criaria raízes, passando os últimos dias de sua vida na cidade.
Cruyff foi o grande expoente da seleção holandesa que assombrou o mundo com sua maneira diferente de jogar futebol no Mundial de 1974. A equipe comandada por Rinus Michels adotou uma disposição tática muito diferente para a época, com os atletas tendo liberdade para trocarem de posição, em um sistema que fez o time entrar para a história como a Laranja Mecânica. Após vitórias histórias sobre Argentina e Brasil na segunda fase, a equipe acabou derrotada na final diante da Alemanha Ocidental, anfitriã do torneio.
REVOLUCIONÁRIO COMO TREINADOR
Após encerrar a carreira como jogador em 1984, Cruyff teve a primeira experiência como treinador em 1986, no Ajax. No clube holandês, ele ficou até 1988 e levou a Recopa Europeia em 1986-87. Porém, chegou ao seu auge no banco de reservas no comando do Barcelona. Assumiu o clube catalão em 1988, e permaneceu no comando até 1996. Lá, ele foi o responsável por uma filosofia de jogo que marca o Barcelona até hoje, passando pelas categorias de base e chegando ao time profissional. Toque de bola, domínio do adversário, jogo bonito e ofensivo. Tudo o que Messi & Cia desempenham até hoje.
Conquistou inúmeros títulos, formou verdadeiros esquadrões, como o Dream Team de 1992, que conquistou a primeira Liga dos Campeões da história do clube. Quem estava no time campeão como jogador era Pep Guardiola, que depois se tornou treinador e ganhou tudo no Barcelona seguindo a filosofia do holandês. Certa vez, Guardiola resumiu alguns métodos que levou de Cruyff para o comando do Barcelona, lembrando as características de jogo que o holandês implementou no clube catalão.
- Os jogadores precisam pensar de forma rápida e com inteligência, sabendo o próximo passe - disse Guardiola, lembrando que Cruyff sempre pedia a movimentação da bola de forma rápida.
Além da Champions League de 1991-92, Cruyff também conquistou no comando do Barcelona quatro vezes o Campeonato Espanhol, três vezes a Supercopa da Espanha, uma Copa do Rei, uma Recopa da Europa e uma Supercopa da Europa.
Elogios a romário e resistência a Neymar
No Barcelona, Cruyff comandou muitos atletas que viriam a se tornar ícones do futebol mundial, mas sempre teve uma relação intensa com Romário, que foi eleito o melhor jogador do mundo no clube catalão, em 1994. Após trabalhar com o Baixinho entre 1993 e 1995, o holandês disse que o melhor jogador que treinou foi o brasileiro, exaltando o fato do atacante "marcar gols de todas as maneiras possíveis".
Em um episódio que acabou se tornando uma das grandes lendas da carreira de Romário, Cruyff teria autorizado o Baixinho a faltar dois dias de treino para curtir o Carnaval no Rio de Janeiro diante da exigência de marcar dois gols em uma partida. Romário teria cumprido a missão em 20 minutos, pedindo para sair de campo imediatamente.
- Ele me disse: 'Treinador, meu avião sai em menos de uma hora' - afirmou Cruyff em entrevista ao jornal "L'Équipe", em abril de 2012.
Enquanto se mostrava um grande fã de Romário, Cruyff sempre foi uma voz resistente a Neymar dentro do Barcelona. Antes mesmo do clube selar a contratação do brasileiro, o holandês afirmou que o time não precisava do astro brasuca e afirmou que não colocaria os dois juntos em campo, temendo problemas de ego no elenco.
Mesmo depois da chegada de Neymar ao Camp Nou, Cruyff continuou a ter o brasileiro como alvo de críticas e chegou a dizer que ele era "o problema do Barça", dizendo que nenhum atleta com 21 anos era um Deus, fazendo referência ao alto salário do camisa 11. Mais recentemente, no ano passado, chegou a afirmar que Neymar se envolvia em muitas polêmicas:
- Neymar tem que jogar futebol para melhorar e crescer em muitos aspectos que só conseguirá jogando futebol. No entanto, está sempre associado a coisas negativas - disse ao "Marca" na época.