ESPORTE INTERNACIONAL
Após se garantir na elite com ajuda de Slater, Wiggolly estreia contra Medina
Novo integrante do "Brazilian Storm" espera "show de surfe" contra amigo de infância.
Em 24/02/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Foram sete anos de luta até garantir o seu lugar ao sol entre os 34 melhores surfistas do mundo. Para entrar na elite, o paulista Wiggolly Dantas, de Ubatuba, contou com a ajuda de ninguém menos que o mito Kelly Slater, onze vezes campeão mundial. O americano o auxiliou a montar uma planilha com os eventos que ele deveria competir e a estratégia deu certo. No ano passado, foram 34 etapas pela divisão de acesso - para 2015, serão 39. Especialista em tubos, Guigui veio de origem humilde e é um dos brasileiros mais respeitados no Havaí pelo talento e pela coragem ao enfrentar ondas grandes, sendo considerado por muitos um "showman" em Pipeline. Na abertura do Circuito Mundial de Surfe (WCT) de 2015, na Gold Coast australiana, ele vai encarar uma pedreira logo na estreia. Na sexta bateria da primeira fase, Wiggolly terá pela frente Gabriel Medina, primeiro brasileiro campeão do mundo na história, e outro rival a ser definido. A janela de espera do campeonato fica aberta de 28 de fevereiro a 11 de março.
Confira todas as etapas do WCT 2015
- Eu e o Gabriel somos bem amigos. Desde pequenos, competimos juntos. As expectativas são grandes, esta bateria aqui na Gold Coast vai ser muito boa. Vou dar o meu melhor, mas já adianto que vai ser um show de surfe. Todos os integrantes no WCT tem o seu mérito e muito surfe, acho que ninguém tem medo de ninguém, e sim respeito um pelo outro - disse o paulista, que desembarcou na Austrália no dia 10 de fevereiro para a reta final de sua preparação.
Campeão do WQS Prime de Saquarema (RJ), no ano passado, Wiggolly sempre sonhou virar surfista profissional. Aos sete anos, saiu do Brasil para surfar no Peru e nunca mais parou. Passava longas temporadas em países como a Austrália, o Havaí e a Indonésia desde cedo, o que lhe rendeu o apelido de "Gringolly". Ao longo dos anos de batalha, Guigui chegou a duvidar de si mesmo. Pensou até em desistir de competir, mas a família o impediu. Em uma reunião em casa, o pai e a mãe impuseram uma rotina militar por um ano. Acordava todos os dias às 5h e mesclava treinos físicos com o surfe e o jiu-jítsu, prática escolhida por outros atletas como o taitiano Michel Bourez para aumentar a resistência, a força e a agilidade sobre as águas. Se a tática não desse certo, ele estaria livre para surfar apenas por prazer, em busca de ondas grandes e perfeitas pelo mundo.
- Sempre tive o sonho de ser integrante do WCT. Tentei por anos, sempre batendo na trave e não me classificando por uma ou duas vagas. Com o tempo, fui ficando desacreditado, sem motivação. Eu treinava e abdicava de muitas coisas, e, no fim, não conseguia. Isto era o mais difícil. Há dois anos, pensei em parar de competir. Mas a minha família não deixou (risos). Quando eu pensava em desistir, eles estavam ali me cobrando. Agradeço a Deus, minha família, namorada e todos os que trabalharam comigo por terem acreditado em mim, muito mais do que eu. Não foi nada fácil. A ficha demorou a cair. Sou da elite e esta é a melhor sensação e satisfação para um atleta profissional. Isto me trouxe grandes felicidades e me trará grandes responsabilidades - analisou.
"Mãozinha de slater"
Natural de Itamambuca, em Ubatuba (SP), Wiggolly carimbou o passaporte para o "Circuito dos Sonhos" no WQS Prime de Carcavelos, em Portugal, em outubro do ano passado. O paulista terminou a temporada na quarta posição do ranking de acesso, sendo um dos dois brasileiros a assegurarem a vaga pelo G-10. O outro foi o potiguar Ítalo Ferreira, vice-campeão mundial júnior, em sétimo. O Brasil ficou no topo do WQS com Filipe Toledo, no entanto, ele já havia se classificado por estar entre os 22 melhores do WCT. O segredo para garantir a vaga foi saber escolher quais as etapas iria competir. E nada melhor do que contar com a ajuda do maior de todos os tempos, que a aconselhou a ir anualmente ao Havaí, que virou a sua segunda casa.
- O Kelly montou uma planilha bem legal e o único campeonato que ele falou que eu deveria competir era o de Pipeline. Foi muito prestativo e fez tudo com o maior prazer. Ele colocou bem no final da planilha uma dica: "Treina muito na onda de Pipeline e tentar mostrar para todo o mundo que você pode ser um brasileiro completo, que sabe surfar em todos os tipos de ondas!". O Havaí é muito especial para mim, um lugar que eu passo a maior parte do ano, que eu tenho muitos amigos, gosto da cultura, das ondas... Vou para lá desde os 13 anos e, se Deus quiser, vou continuar indo até eu ficar velhinho - contou o surfista, que se inspira em nomes como Slater, Mick Fanning e Andy Irons.
"Influência familiar"
Desde a infância, Wiggolly conta o apoio dos pais para seguir no esporte. Os primeiros passos foram influenciados pelos irmãos mais velhos, Wellington Carane, que hoje é seu treinador, e Suelen Naraísa, bicampeã brasileira. Guigui surfou pela primeira vez quando tinha apenas três anos e fez a sua primeira viagem aos sete, paga pela irmã, quem ele vê como um exemplo de superação. Quando ainda era pequena, ela superou um câncer nos rins e hoje é uma das melhores surfistas do país. O caçula Wesley, por sua vez, também tomou gosto pelo surfe e, aos 16, vem despontando pela nova geração. O único que não surfava era o pai, mas Wiggolly tratou de mudar essa história. No aniversário de 45 anos de José Dantas, o filho lhe presenteou com uma prancha longboard. A Praia de Itamambuca, em Ubatuba, onde a avó tem um quiosque, é o quintal de casa da família.
- Eu cresci vendo surfe. Tudo começou em Itamambuca, na melhor onda de Ubatuba, o melhor "point" do Brasil, na minha opinião. Quando consegui o meu primeiro patrocínio, avisei aos meus pais que queria viajar o mundo. Como os meus irmãos já surfavam, isso facilitou a aceitação deles. A minha avó, nossa matriarca, foi uma grande incentivadora desde o início da minha carreira. Quando eu era pequeno, teve um campeonato em Itamambuca e eu pedi para minha mãe me colocar. Fiquei em quarto em uma final de seis pessoas. Foi aí que eu comecei a amar o surfe e a competir. A primeira vez no pódio a gente nunca esquece. Fiquei deslumbrado e mordido pelo mosquitinho da competição. O pessoal me chamava de "máquina de competição". Eu participava de três a quatro categorias, foi uma das melhores fases da minha vida - lembrou.
paixão por ondas grandes no sangue
Aos poucos, Wiggolly foi se interessando cada vez mais pelas ondas grandes. No início, ele confessa que gostava de se arriscar para impressionar o irmão mais velho, que o chamava de "merrequeiro" (surfista de ondas pequenas). O apoio de Wellington, assim como o exemplo da irmã, foram fundamentais para a sua evolução. Hoje, o mais novo representante do "Brazilian Storm" ("Tempestade Brasileira", apelido dado à geração de surfistas brasileiros) na elite diz que se sente realizado ao surfar em família no lugar onde tudo começou.
- Eu sempre gostei de onda grande. Quando era pequeno, o meu irmão falava que eu era o "merrequeiro" da família e eu sempre quis mostrar que ele estava errado. Em casa era sempre um botando pilha no outro, somos todos competidores. E as com minhas viagens fui criando um gosto maior. Hoje, me considero um apaixonado e quero me desafiar cada vez mais. O Carane sempre gostou de viajar para lugares com ondas boas e eu não poderia ter um melhor técnico. Ele conhece o meu surfe desde pequeno. E a minha irmã é uma guerreira, porque passar pelo que ela passou e depois disto tornar-se bicampeã brasileira é algo que me motiva muito. Meu pai começou depois dos 45. Eu não entendia o fato de ele não pegar onda em uma família com quatro surfistas. Isto estava errado e eu comecei a incentivá-lo. Hoje, a minha maior alegria é surfar com o meu pai e meus irmãos em Itamambuca, o quintal da minha casa.
Para Guigui, Wesley está no caminho certo. E ele mal pode esperar para encontrá-lo no grupo dos melhores surfistas do mundo. Quem sabe até enfrentar o caçula em uma bateria.
- O Wesley tem um potencial enorme. Com a idade dele, eu não surfava nem metade do que ele surfa. Ele está surfando muito e tem tudo para entrar no WCT. Já falei para ele que não vai ser fácil, tem que treinar muito. Não vejo a hora de tê-lo ao meu lado no Circuito Mundial. Ele está começando a competir o WQS. Daqui a pouco, vai ter mais um Dantas na elite mundial.
confira as baterias da 1ª fase
1: Joel Parkinson (AUS), Miguel Pupo (BRA), Brett Simpson (USA)
2: Michel Bourez (PYF), Sebastian Zietz (HAW), Ricardo Christie (NZL)
3: Kelly Slater (USA), Fredrick Patacchia (HAW), CJ Hobgood (USA)
4: John John Florence (HAW), Jadson Andre (BRA), Glenn Hall (IRL)
5: Mick Fanning (AUS), Matt Banting (AUS), TBD
6: Gabriel Medina (BRA), Wiggolly Dantas (BRA), TBD
7: Jordy Smith (ZAF), Kai Otton (AUS), Jeremy Flores (FRA)
8: Adriano De Souza (BRA), Filipe Toledo (BRA), Dusty Payne (HAW)
9: Josh Kerr (AUS), Bede Durbidge (AUS), Keanu Asing (HAW)
10: Taj Burrow (AUS), Adrian Buchan (AUS), Matt Wilkinson (AUS)
11: Kolohe Andino (USA), Julian Wilson (AUS), Italo Ferreira (BRA)
12: Owen Wright (AUS), Nat Young (USA), Adam Melling (AUS)
Fonte:Globo Esporte