ECONOMIA INTERNACIONAL
Após novas tarifas dos EUA, China pede união contra o protecionismo
Na véspera, governo Trump anunciou nova lista de produtos sobretaxados
Em 11/07/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
A China pediu nesta quarta-feira (11) aos membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) que se unam solidariamente e "resistam" às práticas protecionistas dos EUA, depois que o governo norte-americano elevou o tom na disputa comercial, ameaçando com novas tarifas de 10% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses na terça-feira (10).
A alíquota de 10% entraria em vigor em pelo menos dois meses e inclui uma série de bens, entre eles soja, aço, alumínio, produtos químicos e alimentícios.
Pequim afirma que vai responder mais uma vez contra as medidas tarifárias de Washington, inclusive por "medidas qualitativas". Empresas norte-americanas na China temem que essa ameaça possa significar inspeções mais duras ou atrasos em aprovações de investimentos ou mesmo boicotes ao consumidor.
Na sexta-feira (6), a China apresentou uma ação contra os EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC) pela imposição de taxas de importação, informou seu Ministério do Comércio.
O Ministério das Relações Exteriores descreveu as ameaças de Washington como "intimidação típica" e disse que a China precisa contra-atacar para proteger seus interesses.
"Essa é uma luta entre unilateralismo e multilateralismo, protecionismo e livre comércio, poder e regras", afirmou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hua Chunying, nesta quarta.
Lista de produtos
Na terça-feira (10), autoridades dos EUA divulgaram a lista de milhares de importações chinesas que o governo norte-americano quer atingir com as novas tarifas. A medida provocou críticas de alguns grupos industriais dos EUA.
Os US$ 200 bilhões superam de longe o valor total de bens que a China importa dos EUA, o que significa que Pequim pode precisar pensar em maneiras criativas de responder a tais medidas dos EUA. O montante corresponde a 40% das vendas chinesas anuais para os EUA.
A nova lista de produtos sobretaxados da China inclui:
- centenas de produtos alimentícios
- soja e milho
- tabaco
- peixes
- produtos químicos
- carvão
- algodão
- aço e alumínio
"Por mais de um ano, a administração (do presidente Donald) Trump pediu pacientemente à China que pare com suas práticas injustas, abra seu mercado e se empenhe em competição legítima de mercado", disse o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, ao anunciar as tarifas propostas.
Reação dos mercados
Os mercados acionários da China caíram nesta quarta, após três dias seguidos de ganhos, e o iuan enfraqueceu depois que os Estados Unidos ameaçaram com mais tarifas de importação sobre produtos chineses, intensificando o conflito entre as duas maiores economias do mundo.
As bolsas de valores europeias também operavam em queda nesta quarta com a escalada na disputa comercial entre os EUA e a China, após ganhos seguidos de seis sessões.
O dólar sobe frente ao real, também refletindo o agravamento do cenário internacional depois que os Estados Unidos ameaçaram adotar novas tarifas sobre produtos da China. Veja mais cotações.
Entenda a tensão entre EUA e China
Há anos, os EUA reclamam de um considerável déficit comercial (que é a diferença do volume exportado entre os dois países) com a China. A meta de Trump era reduzir em pelo menos US$ 100 bilhões o rombo com a China.
Os EUA defendem que o país asiático rouba propriedade intelectual, especialmente no setor de tecnologia, além de violar segredos comerciais de empresas americanas, gerando uma concorrência desleal com o resto do mundo.
Por isso, o combate aos produtos "made in China" é uma bandeira de campanha de Trump que recebeu o apoio de vários países.
O tiro inicial foi dado em abril, quando os EUA anunciaram tarifas de US$ 50 bilhões sobre 1,3 mil produtos chineses, alegando violação de propriedade intelectual. Em resposta, a China impôs tarifas de 25% sobre 128 produtos dos EUA, como soja, carros, aviões, carne e produtos químicos.
Desde então, os dois países não pararam de trocar novas ameaças e agravaram a guerra comercial. Guerras comerciais começam quando um país impõe tarifas comerciais à importação de outro, que responde sobretaxando os produtos do concorrente.
Na semana passada, Washington impôs tarifas de 25% sobre US$ 34 bilhões em importações chinesas, somando 818 produtos. As taxas miram em produtos chineses que, para o governo de Trump, são comercializados de forma injusta, como veículos de passageiros, transmissores de rádio, peças para aviões e discos rígidos para computadores.
Uma segunda parte dos bens, avaliada em US$ 16 bilhões, será analisada após um processo de revisão e observação do público.
Veja abaixo a cronologia da tensão entre EUA e China:
2001: China entra oficialmente na OMC.
2006: Henry Paulson assume a secretária do Tesouro dos EUA com a missão de reduzir o déficit comercial do país com a China.
2007: Departamento de Comércio ameaçam sobretaxas sobre a importação de papel da China.
2012: Durante a campanha presidencial, Obama e Romney discutiram as práticas comerciais da China.
2016: Na eleição, Trump chega a ameaçar elevar para 30% a tarifa sobre todos os produtos chineses.
Dezembro de 2016: Ao fim dos 15 anos para fazer mudanças propostas pela OMC, China não altera nada e continua a ser encarada apenas como economia "semi-aberta" por EUA e UE.
8 de março de 2018: EUA impõem sobretaxas ao aço e alumínio importado de vários países.
22 de março de 2018: EUA anunciam tarifas de US$ 50 bilhões sobre 1,3 mil produtos chineses, alegando violação de propriedade intelectual.
2 de abril de 2018: em resposta, China impõe tarifas de 25% sobre 128 produtos dos EUA, como soja, carros, aviões, carne e produtos químicos.
5 de abril de 2018: China recorre à OMC contra tarifas dos EUA para o aço e alumínio.
5 de abril de 2018: Trump propõe sobretaxar mais US$ 100 bilhões em produtos chineses.
31 de maio de 2015: Trump retira isenção a tarifas sobre aço e alumínio da UE, Candá e México.
1 de junho: EUA oficializam imposição de cotas e sobretaxas à importação de aço brasileiro.
15 de junho de 2018: EUA começam a sobretaxar parte dos US$ 50 bilhões em produtos chineses. Outra parte é prevista para 6 de julho.
16 de junho de 2018: China surpreende com ameaças de novas tarifas, agora sobre o petróleo bruto, gás natural e produtos de energia dos EUA.
19 de junho de 2018: Trump ameaça impor tarifa de 10% sobre US$ 200 bilhões em bens chineses, em retaliação.
19 de junho de 2018: Pequim criticou "chantagem" e alertou que irá retaliar, em um rápido agravamento do conflito comercial.
6 de julho de 2018: começa a cobrança de tarifas sobre 818 produtos chineses, no valor de R$ 34 bilhões.
6 de julho de 2018: China apresenta ação na OMC contra as tarifas impostas pelos EUA.
10 de julho de 2018: EUA anunciam nova lista com tarifas de 10% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses.
11 de julho de 2018: China acusa os EUA de intimidação e alerta que vai responder às novas tarifas.
(Foto: Reuters/Aly Song)