TEMAS GERAIS
Armas, saúde mental e internet: ataques em escolas se repetem
Caso no Espírito Santo na sexta-feira, 25, deixou três mortos; especialistas discutem fatores.
Em 26/11/2022 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
O crescimento recente de ataques a tiros em escolas brasileiras tem levantado o debate sobre o País estar reproduzindo um cenário, já visto nos Estados Unidos, de massacres em colégios.
Segundo especialistas, o maior acesso a armas por civis, o compartilhamento de informações nas redes sociais - muitas vezes em fóruns secretos - e questões ligadas à saúde mental estão por trás do aumento de ocorrências, o que demanda soluções integradas.
Os casos armados em escolas deixaram, no total, 15 vítimas nos últimos quatro anos no País. Ao menos cinco ataques a tiros ocorreram em escolas brasileiras desde 2019, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz. O número de atentados é o mesmo do que foi registrado nos oito anos anteriores - entre 2011 e 2019. O governo do presidente Jair Bolsonaro editou medidas que facilitaram o acesso a armamento pela população civil.
Os números estão bem distantes dos observados nos Estados Unidos.Cconforme o CHDS K-12 School Shooting Database, foram mais de 280 incidentes com armas em colégios americanos só neste ano. No entanto, a tendência de alta liga o alerta para o Brasil.
Na manhã desta sexta-feira, 25, três pessoas morreram - dois professores e um aluno - e 13 ficaram feridas após um adolescente de 16 anos armado invadir dois colégios, um público e um particular, em Aracruz, no interior do Espírito Santo. O atirador, que é filho de um policial militar e usou a arma do pai, foi apreendido horas depois.
Na avaliação de Luciene Tognetta, pesquisadora e professora do Departamento de Psicologia da Educação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o País tem reunido fatores, que, somados, fizeram aumentar as ocorrências.
"Normalmente, os casos são associados ao bullying, e há uma situação de vitimização por um grande período de tempo, acirrada por outras questões, como as relações que o indivíduo estabelece com a família, com pais negligentes ou autoritários", aponta.
"Sujeitos que são violentos, e que querem cometer esse tipo de violência, procuram a escola não por coincidência. Eles podiam procurar um banco, um supermercado, se fosse matar por matar. Mas é um desejo de matar associado a uma condição que é vivenciada na escola."
Diante dessa condição, cujas consequências são validadas em grupos de pessoas que pensam de forma igual e por uma maior facilidade em obter uma arma, cria-se um cenário propício para que os atentados sejam cometidos, diz.
Segundo ela, é preciso pensar o quanto as relações virtuais precisam ser uma temática explorada pela escola. "Exatamente por esses pontos de encontro na internet, na deep web, você tem uma possibilidade de ter um aumento desses casos em função até do reconhecimento como algo natural, o que antes precisava de uma proximidade física", afirma.
"Os países que conseguiram vencer essas situações e reduzir o número de problemas foram os países que mais investiram em educação", explica a especialista.
Luciene cita como exemplos países nórdicos que, em vez de investir em vigilância, aplicaram políticas públicas para formação específica de professores e de resolução de conflitos entre alunos.
Armas
"Na maioria dos casos (de ataques em escolas), há comprovação de que a arma de fogo é obtida dentro de casa", afirma o gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani. A facilitação, explica, torna-se um impulsionador dos crimes. "O que é mais grave é que quando há um massacre desses com arma de fogo, em geral, o número de vítimas é maior", continua ele, que explica que costuma haver um padrão em casos desse tipo.
Conforme levantamento do Sou da Paz, ocorreram ao menos onze atentados a mão armada em escolas brasileiras desde 2003. A maioria deles foram cometidos por um ou dois atiradores, todos alunos ou ex-alunos. "A gente vê que existe um efeito de cópia desses casos", aponta Langeani. Diante disso, ele alerta para a necessidade de oferecer acompanhamento psicológico nas escolas e de fazer um trabalho de inteligência em fóruns de internet, usualmente usados para incentivar ataques.
"Tem alguns trabalhos de agências de inteligência do Brasil que têm conseguido antecipar alguns desses ataques e prender esses estudantes, o que é algo positivo", afirma Langeani.
"Mas a gente tem alunos cometendo ataques e que, em muitos casos, já estavam dando sinais de socialização, de algum problema, de raiva excessiva. Essa política de treinamento de professores para identificar isso, para conseguir conversar com os estudantes, resolver conflitos de bullying, também é algo fundamental." (Por Ítalo Lo Re / Estadão Conteúdos)
Leia também:
> Aprova Legal: Viana lança sistema de análise de projetos
> Jovem lança HQ na Casa da Memória neste sábado (26)
> Áreas urbanizadas no Brasil equivalem a 0,54 do total
> Ícone da música brasileira, Erasmo Carlos morre aos 81 anos
> Cantor Erasmo Carlos morre aos 81 anos, no Rio de Janeiro
> União Europeia anuncia mais 2,5 bi de euros para Ucrânia
> Parque da Cidade terá telão para jogos do Brasil na Copa
> Nível do rio Doce recua e Defesa Civil permanece em alerta
> Vitória: Procon verifica redução nos preços de itens básicos
> Serra abre credenciamento de ambulantes para as festas
> Vila Velha recebe certificação de qualidade ambiental
> Seger promove leilão on-line de bens móveis inservíveis
TAGS: ARMAS | SAÚDE MENTAL | INTERNET | ATENTADO | ESCOLAS