CIDADE
Artista de BH grafita palhaços crianças pelas ruas da cidade.
Pinturas realistas de Nilo Zack chamam a atenção na capital de MG.
Em 22/10/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Parece uma foto, mas é pintura e são várias imagens de palhaços crianças grafitadas em muros e paredes nas ruas de Belo Horizonte. O autor das obras é o artista Nilo Zack. Em tempos de “palhaços sinistros” aterrorizando as pessoas do mundo inteiro, os palhaços do artista belo-horizontino são feitos para passar sensações boas.
“A mensagem essencial é a questão da afetividade, tanto a minha com a as pessoas que conheço, quanto das pessoas com a cidade”, afirma Zack. Formado em cinema de animação e artes digitais na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ele é um estudioso da cultura do palhaço e tem a figura como a marca registrada de seu trabalho.
O trabalho com palhaços começou no primeiro ano de curso universitário, em 2010, segundo o artista de 29 anos. O primeiro modelo pintado foi um sobrinho. “Filho de um ex-namorado da minha irmã, que minha família pegou para criar aos três anos. A chegada dele trouxe alegria a casa e uniu a família”.
A primeira parede foi o muro da casa da avó, no bairro Taquaril, na Região Leste de Belo Horizonte. “Quando pintei, percebi que a população e a minha família gostou. Todos ficaram muito tocados. A partir daí, decidi investir neste tipo de grafite”, conta.
Desde 2005, Zack já fazia grafites, porém, não se sentia realizado com o trabalho. “Tinha uma linha e sentia que aquilo não era meu. Seguia linha do grafite original de Nova York”.
A partir da repercussão do primeiro grafite, ele começou estudar a história dos palhaços e, ao mesmo tempo, espalhar suas imagens realistas pelos muros da cidade. “Esta maquiagem [boca e nariz pintados de vermelho no rosto] é de um tipo de palhaço conhecido como augustos. Eram palhaços muito pobres. Que criticavam a nobreza e a burguesia. Eram palhaços de feiras”, conta.
Um ano depois do primeiro grafite, Nilo Zack já começou a ter o retorno das pessoas e os palhaços viraram sua referência. Hoje, ele já grafitou cerca de 35 palhaços por Belo Horizonte, alguns já foram até destruídos. Este é um dos motivos que, agora, tem feito seus trabalhos em tela. “Na tela fica mais fácil o transporte, a comercialização e a conservação”, conta.
O processo de criação das imagens é complexo. Envolve um modelo, maquiagem, foto, tratamento e depois a pintura. Nilo Zack diz que até hoje o principal modelo é o sobrinho que agora tem 10 anos. “Todas as crianças tem alguma relação comigo. Geralmente são filhos de amigos. O primeiro passo é algum vínculo afetivo. Já tentei fazer com desconhecidos e não deu certo”. Ele citou um caso de uma pintura que seria feita por encomenda, mas a criança não o conhecia e não deixou que ele a maquiasse.
Após a maquiagem vem a fotografia. “Você aponta a câmera e ela muda. Eu quero pegar a essência da pessoa, do momento”. Ele faz diversas fotos, seleciona a que vai usar, trata no computador, imprime e depois vai à pintura. Nas paredes, usa o spray. Zack disse que aplica ainda uma técnica para conservação envernizando cada camada de tinta. O resultado pode ser vistos nas imagens da reportagem. Nas telas também pinta com tinta óleo e acrílica.
Outro motivo para mudar a plataforma de trabalho, de acordo com o artista, é a forma como a prefeitura de Belo Horizonte trata o grafite e os grafiteiros. “Eles incentivam de um lado e cortam de outro”, avalia. Zack conta que já teve amigos grafiteiros presos, e que já teve um caso que consideraram um grafite dele como propaganda de uma escola de música e cobraram taxa do proprietário. “Vamos ver como será o tratamento com a nova prefeitura”.
Além da capital mineira, Nilo Zack já tem trabalhos em outras cidades do Brasil como São Paulo, Salvador, Porto Alegr e Brasília, entre outras e em Portugal. Ele também já expôs os palhaços em galerias e museus. O artista ainda mantém um canal no youtube – o “Dicas de Graffiti”.
Sobre esta onda de “palhaços sinistros”, Zack espera que a imagem do palhaço não seja “deturpada”. “O palhaço tende a levar felicidade. A essência do circo, da brincadeira, do homem bobo com a população”, conclui.