CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Atividade cerebral explica ligação entre estresse e risco cardíaco.

O estresse pode ser um fator de risco tão decisivo como fumo e pressão alta.

Em 12/01/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O efeito de estresse sobre uma região do cérebro pode estar associado a um risco maior de ataque cardíaco, segundo uma pesquisa publicada na revista especializada The Lancet.

No estudo com 300 pessoas foi observado que os que apresentavam uma atividade maior na amígdala (parte do cérebro responsável por orquestrar emoções) tinham uma probabilidade maior de desenvolver doenças cardiovasculares - e mais cedo que os outros.

De acordo com os pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, estresse pode ser um fator de risco tão decisivo como fumo e pressão alta.

Especialistas em doenças do coração afirmam que os pacientes em situações de risco devem receber ajuda para gerenciar o estresse.

O estresse já tinha sido ligado a um aumento no risco de doenças cardiovasculares, que afetam o coração e os vasos sanguíneos. Mas a forma como isso acontecia nunca tinha sido explicada.

Os pesquisadores de Harvard detectaram que uma atividade maior na amígdala, a região do cérebro que processa emoções como medo e raiva, ajuda a explicar a ligação.

As amígdalas - são duas, uma de cada lado do cérebro - são grupos de células localizadas dentro dos lobos temporais mediais do cérebro. Em humanos e animais a amígdala está ligada a respostas ao medo e também ao prazer.

Os cientistas sugerem que a amígdala sob estresse envia sinais para a medula óssea, para que esta produza mais células brancas para o sangue. Estas células vão causar inflamação nas artérias e isto pode causar ataques cardíacos, angina e derrames.

Quando exposta a estresse, esta parte do cérebro parece funcionar como uma boa forma de prever a ocorrência de eventos cardiovasculares. No entanto os pesquisadores de Harvard afirmam que ainda são necessários mais estudos para confirmar esta sequência de reações.

Inflamação

O estudo publicado na Lancet analisou duas pesquisas diferentes. A primeira analisou cérebro, medula óssea, baço e artérias de 292 pacientes durante quase quatro anos para verificar se eles desenvolveram doenças cardiovasculares.

Durante o período de acompanhamento, 22 pacientes desenvolveram o problema; estes eram os que tinham uma atividade maior nas amígdalas do cérebro.

O segundo estudo, com apenas 13 pacientes, analisou a relação entre os níveis de estresse e a inflamação no corpo.

Esta pesquisa descobriu que os que relataram os níveis mais altos de estresse apresentavam também os níveis mais altos de atividade nas amígdalas e mais sinais de inflamação no sangue e nas artérias.

"Nossos resultados dão uma percepção única de como o estresse pode levar à doença cardiovascular", afirmou Ahmed Tawakol, um dos líderes da pesquisa e professor na Faculdade de Medicina de Harvard.

"Isto aumenta a possibilidade de, ao reduzirmos o estresse, também obter benefícios que vão além da melhora no bem-estar psicológico."

"No futuro o estresse crônico poderá ser tratado como um fator de risco importante para doenças cardiovasculares, poderá fazer parte dos exames de rotina e ser gerenciado de forma eficaz como os outros grandes fatores de risco para doença cardiovascular", explicou Tawakol.

Controle de hábitos

Comentando a pesquisa, Emily Reeve, enfermeira especialista em problemas cardíacos da British Heart Foundation, explica que reduzir o risco de problemas no coração e derrame trabalhando com o estresse do paciente geralmente envolve o controle de hábitos e estilo de vida como tabagismo, alto consumo de bebidas alcoólicas e excesso de comida.

Mas, a partir desta pesquisa, isso deve mudar.

"Explorar como o cérebro administra o estresse e descobrir a razão do aumento do risco de doença cardíaca vai permitir o desenvolvimento de novas formas de gerenciar o estresse psicológico crônico."

"E isto pode garantir que pacientes que correm este risco sejam examinados com frequência e que o estresse destes pacientes seja controlado de forma eficaz."

Por BBC