ECONOMIA NACIONAL

Banco Central do Brasil vê meta de inflação cumprida em 2016.

A meta de inflação neste ano é de 4,5 por cento, com margem de dois pontos percentuais.

Em 22/12/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

BRASÍLIA  - O Banco Central passou a ver inflação dentro da meta neste ano, ao mesmo tempo em que piorou sua projeção de crescimento econômico tanto em 2016 quanto em 2017, reiterando que o ritmo de desinflação nas suas projeções pode se intensificar diante da retomada mais lenta na atividade, mantendo aberto o espaço para corte maior nos juros.

No Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta quinta-feira (22), o BC previu alta de 6,5 por cento do IPCA neste ano pelo cenário de referência, abaixo dos 6,6 por cento de antes. Para 2017 e 2018, as projeções não mudaram, com alta de 4,4 e 3,6 por cento, respectivamente.

A meta de inflação neste ano é de 4,5 por cento, com margem de dois pontos percentuais. Para 2017 e 2018, o centro do objetivo é o mesmo, mas com margem de tolerância de 1,5 ponto.

O BC também piorou sua perspectiva para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2017, com alta de 0,8 por cento, sobre 1,3 por cento antes. Para este ano, a perspectiva é de contração ligeiramente maior na atividade, de 3,4 por cento, contra 3,3 por cento até então.

O presidente do BC, Ilan Goldfajn, já havia pavimentado o caminho para cortes maiores da Selic em janeiro, próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ao afirmar que a autoridade monetária estava sensível ao nível de atividade e que a ancoragem das expectativas é o que abria a porta para cortes nos juros básicos, hoje a 13,75 por cento ao ano.

O BC iniciou o afrouxamento monetário em meio à profunda recessão econômica com cortes de 0,25 ponto percentual em cada uma das últimas duas reuniões do Copom.

Embora as apostas majoritárias do mercado se concentrem em corte de 0,5 ponto percentual na Selic no próximo mês, alguns economistas veem espaço para uma tesourada de 0,75 ponto diante da combalida atividade, da evolução recente na ancoragem de expectativas de inflação e do processo de desinflação em curso, fatores que voltaram a ser mencionados pelo BC no relatório.

No documento, contudo, o BC não trouxe novidade que pudesse corroborar uma redução mais agressiva no próximo mês, avaliou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, que enxergou no texto indicação de corte de 0,5 ponto percentual.

"Foi muito na linha da ata (do Copom) e talvez até um pouco mais tímido. O BC reconhece que a atividade veio pior, mas não tem sinalização do tipo: olha, a gente errou na nossa análise de atividade econômica, então nos próximos meses a gente vai fazer algo mais forte para compensar", afirmou ela.

O BC ressaltou a importância da ancoragem ao sublinhar que este ambiente permite que o comitê se concentre em evitar efeitos secundários sobre a inflação caso haja mudança no cenário externo e consequente alteração em preços relativos.

Também disse que as expectativas ancoradas possibilitam que "siga um princípio que confere flexibilidade aos regimes de metas para a inflação e que se aplica ao Brasil".

"Essa flexibilidade permite que os custos de desinflação sejam levados em conta nas decisões de política monetária", prosseguiu.

Ao comentar a expressão, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana, apontou que o princípio da flexibilidade sempre norteou a condução da política monetária nesta gestão. Prova disso, disse Viana, é que em nenhum momento a condução dessa política foi voltada para 2016.

Questionado se a menção à flexibilidade do regime de metas sinalizaria uma busca mais frouxa pelo centro da meta de inflação, Viana afirmou que o objetivo é explícito e segue sendo o de levar o IPCA a 4,5 por cento em 2017 e 2018.

Tamanho do corte

O BC repetiu no relatório divulgado mais cedo que a magnitude da flexibilização monetária e a intensificação do seu ritmo dependerão das projeções e expectativas de inflação e da evolução dos fatores de risco. Sobre a dinâmica da inflação, destacou que divulgações recentes indicam que o processo de desinflação pode estar se disseminando.  

"Essa leitura advém dos sinais de que as estatísticas mais favoráveis decorrem de fatores que não apenas o processo de reversão dos preços de alimentos", afirmou o BC, acrescentando ser razoável esperar que atividade mais fraca leve a uma descompressão na inflação de serviços, em relação à qual vinha demonstrando cautela.

O posicionamento do BC veio na esteira de uma inflação de novembro mais baixa que o esperado, e após a divulgação do IPCA-15 de dezembro, na véspera, que também surpreendeu positivamente. Viana destacou na coletiva que o BC não considerou no relatório de inflação os recentes dados do IPCA-15, e que eles serão contemplados "com calma" e "objetividade" para a próxima decisão do Copom, em janeiro.

Na véspera, o IBGE divulgou que a prévia da inflação oficial brasileira desacelerou a alta a 0,19 por cento, bem abaixo da estimativa de avanço de 0,30 por cento. No acumulado em 12 meses, o índice chegou a 6,58 por cento, próximo ao teto da meta deste ano.

No relatório, o BC reiterou que o cenário fiscal está sendo levado em conta na sua política. Após o governo do presidente Michel Temer ter conseguido aprovar no Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos, o BC avaliou que o passo representou "uma contribuição importante para a economia brasileira".

Por Marcela Ayres/Reutes