ECONOMIA NACIONAL
BC eleva Selic a 10,75% e indica redução do ritmo de ajuste
O Banco Central subiu a taxa básica de juros em 1,5% pela 3ª vez seguida, a 10,75% ao ano.
Em 02/02/2022 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Com a decisão, o BC abre 2022 com o patamar da Selic 8,75 pontos percentuais acima da mínima histórica de 2% ao ano, nível atingido em meio à pandemia e que vigorou até março de 2021.
O Banco Central subiu a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual pela terceira vez consecutiva, a 10,75% ao ano, em continuidade ao agressivo ciclo de aperto monetário implementado para conter a inflação, e surpreendeu parte do mercado ao indicar uma redução no ritmo de ajuste na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em março.
Em comunicado nesta quarta-feira, a autarquia revisou significativamente para cima sua projeção de inflação para este ano e passou a afirmar que o horizonte relevante para a política monetária é, “em maior grau”, o ano de 2023.
O BC manteve, no entanto, o posicionamento de que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista.
“Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante”, disse.
A intensidade da elevação veio em linha com a expectativa do mercado, de acordo com mediana da pesquisa Reuters. Dos 29 economistas consultados, 27 previram alta de 1,5 ponto, um apostou em 1,25 ponto, e outro estimou 1,00 ponto de elevação.
Com a decisão, o BC abre 2022 com o patamar da Selic 8,75 pontos percentuais acima da mínima histórica de 2% ao ano, nível atingido em meio à pandemia e que vigorou até março de 2021, numa tentativa de recolocar a inflação nos trilhos em meio à forte aceleração de preços na economia. É a primeira vez em quase quatro anos em meio que a taxa básica de juros fica em dois dígitos.
O BC afirmou que os indicadores de atividade econômica relativos ao quarto trimestre de 2021 vieram ligeiramente melhores do que o esperado, em particular o mercado de trabalho, mas ponderou que a inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente.
“As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”, disse, em referência aos núcleos de inflação, que desconsideram os preços mais voláteis.
A autoridade monetária piorou suas projeções para o IPCA nesta quarta-feira, enxergando alta de 5,4% em 2022, acima do percentual de 4,7% calculado no último Copom e também acima do teto da meta de 3,50%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Para 2023, a projeção está em 3,2%, mesmo patamar projetado no Copom de dezembro, abaixo da meta central de 3,25%.
Com a alteração, os cálculos da autoridade monetária ficaram mais alinhados aos traçados pelos agentes econômicos no boletim Focus mais recente: IPCA estourando o teto da meta em 2022 (+5,38%) e ficando acima do alvo central em 2023 (+3,50%).
“O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário de referência e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o anos-calendário de 2022 e, em grau maior, o de 2023”, informou.
Nesse cenário de referência, o BC supõe trajetória de juros que se eleva para 12% no primeiro semestre deste ano, termina 2022 em 11,75% e reduz-se para 8,00% ao ano em 2023.
Surpresa
O Bacen já havia dado fortes indicações de que faria o ajuste de 1,5 ponto na reunião. No entanto, além da incerteza sobre o tom do comunicado, não havia clareza sobre qual seria a sinalização do BC para a próxima reunião do Copom.
“Foi uma surpresa a indicação de redução do ‘pace’. Não esperávamos. A gente acreditava que o BC resguardaria a flexibilidade, deixaria em aberto para março”, disse o economista-chefe da Asa Investments, Gustavo Ribeiro.
Na avaliação do analista, porém, a projeção mais alta para a inflação do ano aumenta a probabilidade de extensão do ciclo para além de março. Para ele, o BC está fazendo uma aposta de que haverá uma reversão da trajetória das expectativas e “tomou uma decisão de maior risco”.
O economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, também demonstrou surpresa e disse que esperava um comunicado “mais altista nos juros”.
“Ele começou a colocar mais peso nas expectativas de inflação para 2023, então parece que o Bacen já não está mais tão disposto a subir as taxas de juros, ele antecipou a sinalização de redução do ritmo no ciclo. É um BC que olha para frente e parece menos preocupado em ficar com a inflação acima da meta”, afirmou.
Risco Fiscal
Depois de afirmar em outubro que ainda trabalhava para atingir o centro da meta em 2022, o BC passou a dizer, em dezembro, que passaria a atuar para ancorar as expectativas de inflação em torno da meta, não mais no alvo central.
Desde então, as expectativas do mercado para o comportamento dos preços na economia indicaram distanciamento da meta deste ano. Nesse período, ganharam força no radar dos analistas de mercado dois fatores associados ao risco fiscal durante o ano de eleições presidenciais.
No primeiro deles, o governo passou a discutir proposta que autoriza corte de tributos sem a adoção de medidas compensatórias, o que pode ampliar o rombo fiscal previsto para 2022. Após avaliar redução tributária sobre combustíveis, entrou em negociação um possível corte de alíquota de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) –a medida final ainda não foi formalmente apresentada pelo Executivo.
O outro elemento é a movimentação de carreiras do funcionalismo em busca de reajustes, com ameaça de greve a partir de março caso o governo não libere os benefícios. Os atos colocam pressão sobre o governo para ampliar despesas em um momento em que o Orçamento já está comprometido.
Além disso, está em vigor a emenda constitucional que flexibilizou a regra do teto de gastos, ampliando o limite de despesas neste ano em aproximadamente 60 bilhões de reais.
No comunicado, o BC reafirmou que apesar do desempenho melhor nas contas públicas, a incerteza em relação ao arcabouço fiscal segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação.
Em relação ao cenário externo, a nota afirma que o ambiente segue menos favorável, ressaltando que a maior persistência inflacionária aumenta o risco de um aperto monetário mais célere nos EUA, o que torna as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes.
“Além disso, a nova onda da Covid-19 adiciona incerteza quanto ao ritmo da atividade, ao mesmo tempo que pode postergar a normalização das cadeias globais de produção”, disse. (Por Bernardo Caram, com reportagem adicional de José de Castro - Reuters)
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