POLÍTICA NACIONAL

Brasil debate impeachment de Dilma em sessão dramática no Congresso.

Em plenário, os legisladores fazem discursos fervorosos.

Em 15/04/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A Câmara dos Deputados debate, nesta sexta-feira (15), a abertura de um julgamento que pode resultar na destituição da presidente Dilma, em um dos capítulos mais dramáticos da história democrática do Brasil.

Em plenário, os legisladores fazem discursos fervorosos, no início de uma maratona de sessões, enquanto as ruas que dão acesso ao Congresso eram patrulhadas por forças de segurança que permanecerão na área até o domingo, dia da votação, quando são esperadas grandes mobilizações populares.

O dia teve início com a apresentação dos argumentos da acusação, que afirmam que Dilma cometeu "crimes de responsabilidade" ao ter maquiado as contas públicas e aberto créditos sem a aprovação do Congresso em 2014, ano de sua reeleição, e no início de 2015.

O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, negou as acusações e denunciou uma tentativa de "golpe de Estado", causando indignação entre os opositores e aplausos dos deputados do PT, que gritavam "Não vai ter golpe!".

Cardozo também fez referência ao polêmico presidente da Câmara, Eduardo Cunha, um dos arquitetos do impeachment, embora esteja sendo julgado pela Suprema Corte por denúncias de que tenha embolsado somas milionárias em uma rede de subornos da Petrobras.

Alvo de ataques, Cunha chegou cercado por um enxame de câmeras para presidir uma sessão que o tem como protagonista.

"É um processo histórico, não há dúvida nenhuma. É um processo muito grave, ao qual nós temos a responsabilidade de sua condução e vamos conduzir para que se tenha uma decisão seja ela qual for e que o país possa ter a resposta dessa decisão e seguir sua vida normal", disse, antes de entrar no plenário.

A saga de três dias estressantes soma 170 deputados inscritos para se expressarem a favor do impeachment e 79 contra, e terá seu encerramento na noite de domingo, com um resultado que pode dar continuidade ao processo no Senado ou arquivá-lo de forma definitiva.

A abertura de um julgamento político requer o apoio de dois terços da Câmara (342 deputados de um total de 513) e sua ratificação pelo Senado. Segundo informações publicadas na imprensa, os partidários do impeachment contariam com os 342 votos necessários para dar o primeiro passo.

Neste caso, Dilma seria substituída temporariamente por seu vice-presidente, Michel Temer e, se o Senado a condenar formalmente em um prazo de seis meses, Temer, a quem Dilma chama de "traidor", completaria o mandato, até o final de 2018.

Neste dia agitado da Câmara dos Deputados, pairava a figura deste discreto constitucionalista.

O deputado Paulinho da Força, do opositor Solidariedade, disse à imprensa que havia discutido com "o presidente" Temer sobre "o futuro governo".

A menos de quatro meses para os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, o país se encontra em uma situação de absoluta instabilidade política e desconhece-se quem será o presidente no momento.

A presidente Dilma deveria fazer um pronunciamento à nação em rede de rádio e televisão às 20H00. Mas ela decidiu cancelar o discurso horas antes e avalia se o fará no sábado usando redes sociais, informou à AFP uma fonte governamental.

Segundo a Agência Brasil, a mensagem que a presidente pretende enviar é a de que não cometeu qualquer "crime de responsabilidade" que justifique sua destituição. No Twitter, vários usuários convocavam simpatizantes do impeachment às ruas a essa hora para participar de "panelaços".

O ex-presidente Lula saiu, mais uma vez, ao socorro de sua afilhada política. Em um vídeo, o líder icônico da esquerda pediu aos deputados que não embarcassem em "aventuras, acreditando no canto de sereia dos que se sentam na cadeira antes da hora".

"Quem trai o compromisso selado nas urnas, não vai sustentar acordos feitos nas sombras (...) o golpe do impeachment não passará", acrescentou.

Lula foi nomeado Chefe de Gabinete de Dilma, mas não chegou a assumir o cargo devido a uma suspeita de que sua nomeação seria uma manobra para protegê-lo das investigações realizadas pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro sobre supostamente haver se beneficiado de subornos que circularam pela Petrobras.

Para evitar incidentes no domingo, as autoridades levantaram um grande muro metálico de um quilômetro de extensão, que tem início na frente ao Congresso e chega à monumental explanada dos ministérios, no coração da capital.

Na sexta-feira, a área estava quase deserta e se notavam somente viaturas policiais e um helicóptero que sobrevoava a região.

Os partidários de Dilma começaram a se concentrar, desde o começo da semana, em um espaço esportivo junto ao Estádio Nacional Mané Garrincha, que, no sábado, poderá receber a visita da própria presidente.

Em São Paulo, os manifestantes anti-impeachment bloquearam várias ruas.

A instabilidade crescente que veio com a crise política desatada em 2015, no ritmo de uma feroz recessão econômica, entrou em sua etapa de definição, disse Leonardo Picciani, líder da bancada do PMDB. Em franca minoria a seu favor, o deputado demonstra seu apoio à Dilma.

"Chegamos à fase decisiva deste processo e o melhor para o país é ter um resultado no domingo, seja qual for, porque temos que virar a página e não perder mais tempo em guerras e disputas políticas", disse à AFP.

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