SAÚDE
Brasil precisa de salários dignos para fortalecer saúde pública.
Na Espanha, a maioria dos médicos trabalha com salário satisfatório.
Em 29/09/2014 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Diretor do Centro Esther Koplowitz, unidade de pesquisa biomédica ligada ao Hospital Clínico de Barcelona, o professor e médico espanhol Vicente Arroyo Pérez viaja de duas a quatro vezes por ano ao Brasil há pelo menos duas décadas para ministrar palestras e cursos em sua área de especialidade, a hepatologia, ramo da Medicina que trata de problemas no fígado.
Conhecedor da situação médica brasileira, Arroyo diz que a chave para melhorar as condições da saúde pública no país seria possibilitar que os profissionais trabalhassem de maneira integral nos hospitais públicos, o que só seria possível com um aumento nos salários.
"A dedicação dos médicos nos hospitais públicos não é integral. Ao contrário, até em hospitais brasileiros bons, os médicos dedicam poucas horas do dia (ao hospital) e acabam tendo de trabalhar na rede particular", diz o médico.
Ele lembra que a Espanha já enfrentou situação parecida, mas que um aumento nos salários dos profissionais de saúde fez com que mais médicos passassem a se dedicar integralmente ao serviço público.
"Na Espanha, há pouca atividade privada, a maioria dos médicos trabalha com salário satisfatório", afirma.
A crise econômica pela qual passa o país europeu, no entanto, está gradualmente revertendo a situação.
"Agora começa a haver esse problema outra vez. Com a crise econômica no país, os salários começam a não ter a mesma capacidade aquisitiva, então os médicos, de alguma maneira, vivem pior. Se isso se deteriora um pouco mais, talvez voltará a ser como antes", diz.
Gestão
Arroyo Pérez observa que existe uma heterogeneidade das unidades de saúde no Brasil, onde "há hospitais magníficos e outros deficientes".
Para o espanhol, essas diferenças estão relacionadas a diferentes formas de se gerir os centros de saúde, com alguns funcionando sob gestão federal e outros administrados por Estados e municípios.
Ele opina que o modelo mais centralizado de gestão da saúde na Espanha tem algumas vantagens em relação ao modelo brasileiro.
"Não é como na Espanha, onde os hospitais apresentam praticamente o mesmo padrão, recebem a mesma quantidade de dinheiro do governo central e trabalham sob uma organização similar. No Brasil, essas questões são absolutamente variáveis", afima o médico espanhol.
"(No Brasil) há hospitais com padrão de qualidade europeu, mas isso depende da riqueza de cada Estado, do dinheiro que investem e da organização especial que há em cada unidade de saúde", pontua.
O médico está constantemente em contato com profissionais brasileiros que fazem residência no hospital em que trabalha, graças a um convênio entre a Universidade de Barcelona e a Universidade de São Paulo (USP).
Ele não poupa elogios ao Hospital das Clínicas de São Paulo. Segundo ele, o HC está ligado a uma boa faculdade de Medicina (da Universidade de São Paulo), investe em pesquisa e tem programas muito avançados de assistência. "Também tem programas de cirurgia extraordinários para a formação médica", diz.
"Mas São Paulo não é representativo do Brasil, pois é uma região mais rica", diz.
Dificuldades
Arroyo, no entanto, afirma que com a crise econômica, a situação da saúde pública na Espanha também passa por problemas, que afetam diretamente médicos e pacientes.
"Os orçamentos, que já eram apertados, diminuíram cerca de 15%", estima.
Em função disso, ele conta que o mercado para profissionais de saúde está mais restrito, as contratações são menores e muitos médicos jovens e pesquisadores emigram por falta de expectativas de uma carreira satisfatória no país. "Mas é uma minoria que vai embora", ressalva.
"Ainda assim, em geral, a qualidade média dos hospitais espanhóis é homogênea e é mais alta que a média dos hospitais brasileiros", compara o professor.
Arroyo observa que a crise provocou uma queda no interesse de profissionais de saúde estrangeiros em trabalhar na Espanha. "Vinham muitos médicos da América Latina para trabalhar, agora menos", diz.
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