CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Butantan e USP esperam liberação para testar duas vacinas

Tecnologia da Butanvac utiliza vetor viral que contém a proteína Spike do novo coronavírus.

Em 27/03/2021 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: Amanda Perobelli/Reuters.

A técnica usada pela Butanvac, nome da candidata à vacina do instituto, é a mesma empregada na produção da vacina da gripe, que já é feita no Butantan.

O governador João Doria (PSDB) anunciou nesta sexta-feira (26), que o Instituto Butantan pretende pedir à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aval para iniciar testes clínicos, com humanos, de uma candidata a vacina contra a covid-19 com produção 100% nacional. Horas mais tarde, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, disse que outro imunizante, desenvolvido pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, só aguarda aval da agência para testes em humanos.

A técnica usada pela Butanvac, nome da candidata à vacina do instituto, é a mesma empregada na produção da vacina da gripe, que já é feita no Butantan. O imunizante é produzido em ovos de galinha e o País não dependerá de insumos importados para a sua produção. Dentre as vantagens dessa tecnologia, o presidente do Butantan, Dimas Covas, destacou o baixo preço e a segurança.

A tecnologia da Butanvac utiliza um vetor viral que contém a proteína Spike do novo coronavírus de forma íntegra. O vírus usado como vetor nesta vacina é o da doença de Newcastle, infecção que afeta aves, mas sem sintomas em humanos.

O governo disse que nenhuma outra vacina da covid usa essa técnica e o desenvolvimento seria 100% nacional. Mas uma instituição dos Estados Unidos já publicou estudos baseados em testes com a mesma tecnologia – o órgão paulista reconhece ter parceria com os americanos.

O lote piloto, que será usado nos ensaios clínicos, já está pronto. Se tudo correr bem nos testes, o instituto começará a produzir a vacina em larga escala em maio e fala em iniciar aplicação na população em julho. Isso depende, porém, da aprovação em três fases de testes, que vão determinar a segurança e eficácia do produto. O objetivo é fabricar 40 milhões de doses até o fim do ano.

O instituto tem capacidade para produzir 100 milhões de doses da Butanvac por ano, disse Covas. A prioridade de compra será do Ministério da Saúde, mas o excedente poderá ser vendido ao governo paulista ou exportado. O compromisso do Butantan é fornecer a vacina para países de baixa e média renda. Vietnã e Tailândia estão ao lado do Brasil no consórcio para a produção da Butanvac.

Segundo ele, os resultados dos testes pré-clinicos se mostraram promissores, mas não foram apresentados os dados. A vacina foi enviada à Índia para ser testada em animais e, segundo o Butantan, teve resultados “excelentes”. Já os testes clínicos de fase 1 e 2 devem começar em abril e durar de 45 a 75 dias. Depois, são testes da fase 3, com mais voluntários. Ontem à noite, a Anvisa recebeu a documentação do Butantan.

Para Covas, a fase de estudos clínicos pode ser encurtada, pois já há conhecimento maior sobre vacinas da covid. Ele ainda afirmou que a vacina é mais imunogênica – produz maior resposta imune, o que abre a possibilidade de uma só dose.

Segundo o Estadão apurou, o governo projeta que a Butanvac deve custar US$ 4, valor 60% menor que a dose da Coronavac. Não há nenhum recurso do Ministério da Saúde alocado no desenvolvimento da vacina neste momento. “Os recursos são do Butantan e do Estado de São Paulo”, disse Doria, sem revelar os valores gastos com o desenvolvimento Butanvac.

Governo federal

À tarde, ao lado do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, Pontes destacou que o governo federal investiu em 15 tecnologias de vacinas. “Três dessas vacinas entraram em pré-testes, já fizeram os testes em animais, e agora estão entrando na fase de testes com voluntários, testes clínicos.”

No caso da vacina da USP, um dossiê com os resultados foi enviado à Anvisa em fevereiro e, após uma primeira análise, a agência devolveu o pedido para ajustes. Mais documentos foram entregues esta semana.

O imunizante tem como estratégia uma proteína recombinante do próprio Sars-CoV-2. Na primeira fase, deve ser aplicado em 360 voluntários e levar cerca de três meses para concluir as fases 1 e 2. Depois, há outro cronograma para a fase 3.

Os estudos são coordenados pelo professor Célio Lopes Silva, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em parceria com a empresa brasileira Farmacore Biotecnologia e a PDS Biotechnology Corporation. A pesquisa é financiada pelo Ministério da Ciência. Segundo a pasta, há R$ 200 milhões disponíveis para custear estudos clínicos de vacinas brasileiras, com o aprovação do Orçamento nesta semana.

Na entrevista, Pontes afirmou que o anúncio de hoje não teve nenhuma relação com o fato de Doria também ter anunciado uma vacina nacional mais cedo. “Coincidência”, disse ele.

Para o ministro, o desenvolvimento de uma vacina nacional contra a covid-19 é uma estratégia de soberania. “Vimos as dificuldades que tivemos com importação”, afirmou. A entrevista de Pontes e Queiroga, porém, não estava prevista e a imprensa foi chamada apenas uma hora antes de começar.

Preocupado em evitar ganhos políticos de Doria, seu adversário político, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que não compraria a Coronavac, vacina chinesa produzida no Brasil pelo Butantan. Meses depois, precisou recuar. (Estadão - Com informações do jornal O Estado de S. Paulo)

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