EDUCAÇÃO

Candidatos do Enem estudam para provas em grupos.

Rede de mensagens no telefone ajuda quem tem pouco tempo para estudar.

Em 13/10/2014 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Para se preparar a tempo para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), vale estudar na escola, no cursinho, na biblioteca, em casa, sozinho, com amigos e até com desconhecidos que moram em outros cantos do país, segundo jovens de várias partes do Brasil inscritos nas provas dos dias 8 e 9 de novembro. Depois dos grupos organizados dentro do Facebook, que nas últimas edições se multiplicaram e hoje podem ter até mais de 40 mil pessoas, neste ano muitos candidatos decidiram levar as dicas no bolso, participando de grupo de estudo no WhatsApp, aplicativo de mensagens para smartphones.

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A estudante Bianca Luiza André, de apenas 16 anos, vai fazer o Enem pela primeira vez neste ano, mas acabou virando "gerente" de três grupos de estudo no WhatsApp. Acostumada a dar dicas de redação, tema em que sempre tira notas acima de 8, segundo ela mesma, Bianca diz que lançou a ideia de reunir estudantes com dúvidas de redação no WhatsApp em um dos grupo no Facebook sobre Enem.

"Eu tenho muita facilidade com português e redação. Como às vezes tem muita gente um pouco perdida com produção de texto, eu decidi criar esse grupo para ajudar", explicou ela.

Ela acabou recebendo cerca de 150 respostas com número de telefones, e precisou criar três grupos, que até hoje contam com mais de 40 participantes cada.

A reportagem do G1 participou de um deles durante três dias e encontrou centenas de mensagens enviadas a todas as horas do dia. Participantes do Maranhão, São Paulo, Alagoas, Bahia, Minas Gerais e Paraná, entre outros, recorrem ao celular para fazer perguntas sobre gramática, conhecimentos gerais, atualidades e, claro, para elaborar argumentos na hora de treinar com redações sobre temas que podem ser pedidos no Enem.

Realidades diversas
Além de Bianca, Jorge Crey dos Santos, professor da rede estadual na Bahia, também frequenta as conversas. "Não irei prestar o Enem, só estou aqui para auxiliar a quem precisar no que eu for útil", diz o docente, que tem licenciatura em matemática.

A idade dos participantes varia entre 15 e 22 anos e as realidades são distintas. Graziela Fazan, de São José dos Campos (SP), tem marido e filhos e afirma ter tempo limitado para os estudos. "Quero fazer direito e por falta de tempo estudo de madrugada ou quando me sobra tempo", explicou a jovem, que, dependendo da inspiração, chega a produzir três redações por dia.

"Estudo pela noite e quando dá no ônibus, através do celular, de aplicativo e outros", disse Priscila, de 21 anos, moradora de Salvador. A jovem pretende fazer faculdade de arquitetura.

Hugo Araújo, de 18 anos, mora em São Luís e diz que, para conquistar seu objetivo de ser aprovado em medicina na Universidade Federal do Maranhão (Ufma), vive e respira o Enem. "Em casa estudo cinco horas por dia, mais cursinho, que dura seis horas e meia de segunda a segunda", disse o estudante. Ele alerta, porém, que o uso das redes sociais deve ser feito "de forma correta", porque, do contrário, não farão diferença na aprendizagem. "Essa troca de ideias é de grande valia e com certeza fará diferença no dia 9 de novembro", afirmou ele sobre o grupo do qual participa, batizado como "grupo 1" por Bianca, para efeitos de organização.

Valdemar Viana, de 18 anos, também é maranhense como Hugo, mas se inscreveu no Enem com outro objetivo: conseguir o certificado de conclusão do ensino médio. Ele diz que trancou a matrícula e, por isso, não concluiu o ensino básico na idade certa. Já sobre uma possível faculdade, caso sua nota seja suficiente para conseguir uma vaga, ele ainda não decidiu o que cursar. "Como eu sou péssimo em redações, o grupo ajuda com opiniões, temas e dicas", explicou ele.

'Uma família unida'
"Você 'era' péssimo", disse Bianca a Valdemar, em um exemplo de que, além do apoio acadêmico, o grupo também serve como ombro nas horas de desânimo e preguiça. Para ajudar quem está com dificuldade de concentração, os estudantes dão dicas de músicas que servem de estímulo.

Nas horas de boas notícias, os estudantes também compartilham fotos e comemorações no grupo, que são celebradas pelos demais.

Segundo Adrielly Aquino, estudante da Bahia de 19 anos, seu único horário de estudo é durante a madrugada, quando ela tem tempo. "No grupo encontrei uma ajuda, ou melhor, um incentivo, para não desistir de ir em busca do melhor", explicou ela, resumindo o "grupo 1" em uma frase referendada por outros alunos: "Na verdade não somos um grupo, somos uma família unida."

Aluna de dia e professora à noite
Bianca é precoce, segundo a mãe, Salete Schiochet André. Ela ainda cursa o segundo ano do ensino médio em Rio do Sul (SC), mas, além de estudar para o vestibular, também já estuda direito com os livros do seu irmão de 24 anos, que já está na faculdade. No grupo, ela diz que tem pouco trabalho, já que todos se motivam sem precisar de liderança.

Mas ela se coloca disponível para ajudar a tirar dúvidas e corrigir redações. "Às vezes me pedem para corrigir, eu digo para eles se preferem mandar por e-mail ou postar no Whatsapp, e corrijo na hora e mando pra eles", disse ela. "Tem muita gente que reclama que tem dificuldade de ir bem em redação, e estou sempre ajudando. Eles ficam muito felizes, dizem, por exemplo, que não sabiam de tal regra [gramatical]."

Pelas manhãs, porém, ela deixa o celular de lado durantes as aulas do colégio. No resto do tempo, seu smartphone está sempre ao lado, e ela publica no grupo várias vezes ao dia dando respostas às duvidas ou sugerindo temas de discussão ou temas para redações de treinamento. "À tarde faço minhas tarefas, mas sempre tem alguém com alguma dúvida, o grupo não para, é direto."

Mas nem tudo é altruísmo para Bianca. A adolescente diz que, para ela, ensinar é um bom método de aprendizado. "Se eu estou ajudando, estou aprendendo mais também, vai reforçando o entendimento sobre o tema", garantiu a futura vestibulanda.

Fonte:G1.com