CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Cientistas mapeiam micróbios de SP, Rio e em mais de 50 cidades.

Nova York, Barcelona, Seul e Paris também estão em análise.

Em 23/06/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Uma pesquisa feita por cientistas de todo o mundo promete mapear o microbioma - quantidade e variedade de microorganismos como bactérias, vírus, fungos - de mais de 50 cidades. São Paulo, Rio de Janeiro e Ribeirão Preto participam do estudo norte-americano.

Os cientistas passam por locais de alto fluxo como praças, parques e estações de metrô com um cotonete especial chamado “swab”. Eles pincelam corrimões, catracas, balcões. As amostras são levadas para análise, onde é feito o sequenciamento genético para identificar todos os microorganismos e até seres superiores - como insetos - que estiveram no local

A pesquisa MetaSub, como foi batizada, começou em 2013 e foi idealizada por Christopher Mason, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos. Em entrevista ao G1, ele disse que serão coletadas amostras no Brasil antes, durante e após a Olimpíada. O mesmo será repetido em Tóquio, próxima sede dos Jogos.

As amostras ainda estão em coleta ao longo desta semana em todos os países. Cidades como Seul, Paris e Barcelona também participam.(clique para ver o mapa com todos os locais)

Até as 21h desta quarta-feira (22), estudantes e pesquisadores do mundo todo já haviam juntado 4 mil amostras pelo planeta. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, segundo o site do projeto, foram 190 amostras coletadas.

Ainda segundo Mason, o projeto deve extrair todas as amostras e processá-las. Os resultados sairão no início de 2017.

Projeto no Brasil

O professor Milton Moraes, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), coordena as operações no Rio. Segundo ele, o projeto tem variadas aplicações e resultará em milhões de resultados a serem analisados.

Quando começou em Nova York foi possível rastrear a existência de bactérias presentes no oceano dentro do metrô. Um ano antes, o furacão Sandy havia destruído boa parte do país.

“Vamos rastrear a ‘impressão digital’ do lugar. Tem algumas estações [de metrô] que são muito limpas. Outras nunca são limpas. Outro fator é que lugares muito úmidos podem ser degradados com mais facilidade, porque outras bactérias consomem aquele material orgânico que estava ali. Agora, se for uma região mais seca, com temperaturas baixas, podem ser encontradas bactérias de muitos anos”, disse o Moraes.

Em São Paulo, o projeto é coordenado pelo biólogo Emmanuel Dias Neto, do hospital A.C. Camargo. “São 7 milhões de pessoas diariamente no metrô de São Paulo”, disse. “Mas eu acho que não tem motivo para ter nada fora da curva. Nosso metrô é muito novo e é muito limpo”, completou. Pontos como o parque Ibirapuera e as bicicletas públicas também serão avaliados.

Neto e Moraes alertaram que, mesmo que existam milhões de microorganismos nos resultados, uma infecção depende da predisposição, do estado imunológico e outros fatores para ter “sucesso”.

Os participantes do projeto defendem outras aplicações após o resultado. Será possível preparar estratégias de prevenção e vigilância de saúde para a população, sempre de acordo com o microbioma encontrado.

Projetos arquitetônicos poderão ser pensados para durar mais onde serão construídos. “Alguns microorganismos consomem determinados materiais, como a madeira e algumas estruturas de concreto”, disse Moraes. Já na Olimpíada do Rio, o estudo avaliará o impacto de uma grande migração de pessoas durante um determinado intervalo de tempo.

A tecnologia utilizada pelos professores deverá, no entanto, fazer o sequenciamento dos micróbios que têm o DNA como material genético. Vírus RNA, do mesmo tipo do zika, não serão detectados na pesquisa.

Outro ponto abordado pelos professores é que, mesmo que um microorganismo tenha o material genético detectado, não significa que esteja vivo. “Se acharmos a bactéria da peste negra, não quer dizer que ela esteja ali. São estações muito antigas”, completa Milton. O projeto, de forma simplista, consegue mostrar “quem passou por ali”.

O início

A pesquisa é bancada por instituições internacionais e é feita por consórcio. No início, era feita apenas a análise dos microorganismos do metrô de Nova York. De acordo com Mason, a ideia surgiu quando sua filha passou a andar de transporte público e ele “se tornou um geneticista muito curioso”. Depois de um tempo, o projeto passou a juntar 30 cidades e, hoje, mais de 50. Cada localidade deve recolher, em média, 100 amostras de espaços urbanos.

“A gente não teria condições de fazer aqui no Rio de Janeiro se a gente fizesse sozinho. O projeto custaria milhares de dólares e, assim em larga escala, as amostras custam apenas centenas”, explicou Moraes.

Fonte: Bem Estar