MEIO AMBIENTE

Clima, um dilema para a África do Sul dependente do carvão

A África do Sul ocupa o 12º lugar como maior emissora de gases de efeito estufa do mundo.

Em 18/10/2021 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: AFP

Com a 26ª Conferência do Clima (COP26) em Glasgow se aproximando, o país enfrenta um dilema: como produzir eletricidade suficiente para uma classe média cada vez maior.

Na descida de avião para Joanesburgo, painéis solares cintilam nos telhados de casas luxuosas com piscinas, assim como em algumas casas modestas das favelas. Mas essas instalações mascaram, na verdade, a dependência do carvão da principal potência industrial da África.

Em 12º lugar como a maior emissora de gases de efeito estufa do mundo, a África do Sul obtém 80% de sua eletricidade de combustíveis fósseis, em centrais antigas que mal são mantidas por uma empresa pública com problemas financeiros, a Eskom.

Com a 26ª Conferência do Clima (COP26) em Glasgow se aproximando, em novembro, o país enfrenta um dilema: como produzir eletricidade suficiente para uma classe média cada vez maior e apoiar a atividade econômica, sem piorar a crise climática global?

Neste país da África Austral, os apagões fazem parte da vida quotidiana. Os cortes são planejados, e os horários, compartilhados em aplicativos móveis e veiculados na mídia.

“Nosso país está enfrentando uma crise de energia que requer atenção urgente”, alertou o ativista ambiental Ditebogo Lebea na última quarta-feira (13) durante uma conferência on-line.

“Como um jovem sul-africano, tenho medo”.

Os cortes de energia são um desastre para a atividade econômica e minam os esforços para reduzir a taxa recorde de desemprego de 34%.

No escuro

Durante os primeiros apagões, quase 15 anos atrás, cidades inteiras mergulharam na escuridão. O governo primeiro abordou o problema extensivamente.

Descontos de até 100% foram oferecidos para famílias que adotam aquecedores solares de água. As turbinas eólicas cresceram rapidamente, e a maior fazenda solar da África emergiu do deserto.

Paralelamente, o país decidiu construir duas novas centrais a carvão, uma das quais ainda não está concluída. Com uma potência de cerca de 4.800 megawatts cada, formarão a maior unidade de geração de energia a carvão do mundo, superando a China.

Para efeito de comparação, a fazenda solar no norte do país tem capacidade de 50 megawatts. A África do Sul desfruta, no entanto, de 2.500 horas de sol por ano, cerca de 600 a mais do que a Alemanha, campeã da energia solar.

“Todos reconhecem que as energias renováveis são uma grande oportunidade na África do Sul”, diz o especialista em energia Argon Poorum, da ONG GreenCape.

Em 2010, a África do Sul tentou lançar um sistema pioneiro de leilão de energia renovável para atrair investidores privados. Cinco anos depois, Eskom acabou com isso, sob o pretexto de que as energias renováveis são muito caras.

Efeito Zuma

A bagunça da política energética começou com Jacob Zuma, eleito presidente em 2009 e pressionado a renunciar após uma série de escândalos em 2018.

Ele rejeitou todos os projetos solares e tentou negociar em condições obscuras um acordo nuclear com a Rússia por um valor de 58 bilhões de euros.

Seu plano falhou, mas as emissões de gases de efeito estufa aumentaram 10% entre 2000 e 2017, de acordo com dados do governo.

Seu sucessor, Cyril Ramaphosa, tentou mudar de rumo, relançando o programa de energia renovável no ano passado.

A nuclear ainda é uma opção e três licenças foram recentemente aprovadas para usinas flutuantes a gás natural.

A Eskom também se comprometeu a eliminar as antigas usinas elétricas movidas a carvão nas próximas três décadas. Mas alguns ainda não veem outra maneira.

Entre eles, está o ministro da Energia, Gwede Mantashe, que se tornou um campeão das polêmicas técnicas de “carvão limpo”, as quais, segundo ele, tornarão este combustível fóssil menos poluente.

Cerca de 500.000 empregos na mineração estão em jogo.

Um dos objetivos da Conferência do Clima é fazer os países ricos cumprirem suas promessas de arrecadar pelo menos US$ 100 bilhões por ano para apoiar os países em desenvolvimento em direção à energia limpa.

A África do Sul, que precisa de financiamento, agora está de olho em uma fatia do bolo. “Antes tarde do que nunca”, suspira o especialista em energia Chris Yelland. (AFP)

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