ECONOMIA NACIONAL

Com Brasil em crise, concessão de visto de trabalho para estrangeiros cai 21%.

Liberação de vistos passou de 46.740 em 2014 para 36.868 no ano passado.

Em 18/12/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O Brasil perdeu atratividade na rota de trabalho internacional. A concessão de visto de trabalho para estrangeiros caiu 21,12% em 2015, último dado disponível, somando 36.868 autorizações. O levantamento foi feito pelo G1, com base em estatísticas da Coordenação Geral de Imigração (CGIg) do Ministério do Trabalho. Quase metade desses profissionais foram para o Estado do Rio de Janeiro.

"É uma queda natural que acompanha o momento econômico que estamos vivendo", afirma Luiz Alberto Matos dos Santos, coordenador geral substituto de imigração do Ministério do Trabalho.

Segundo Marta Mitico, sócia-fundadora do escritório BR-Visa, empresa que presta consultoria e assessoria em imigração, o cenário econômico internacional e a crise no país contribuíram para a queda. "A crise internacional somada a crise de credibilidade institucional traçaram caminho para a queda de investimentos no Brasil e da vinda de estrangeiros. Com a economia tão volúvel, os empregadores estão mais conservadores", afirma.

A variação cambial também pesou nesse movimento. Muitos desses expatriados buscam fazer sua poupança em dólar. Em 2015, a moeda brasileira perdeu 48% do seu valor na comparação com o dólar. Ficou, portanto, menos interessante para um estrangeiro receber em real.

Mudança de rota

Quando a economia brasileira ia bem, o país ganhou destaque internacional e foi apontado como um mercado emergente e atrativo para investimentos. Um dos momentos mais emblemáticos foi em novembro de 2009, quando o país ganhou a capa da revista The Economist, com uma foto do Cristo Redentor "decolando". Entre 2008 e 2013, o Brasil era uma promessa de crescimento em um contexto em que os Estados Unidos e a Europa enfrentavam um cenário de crise.

Nesse contexto, o Brasil viveu um "boom" de profissionais estrangeiros entre 2011 e 2013, quando mais de 198 mil chegaram ao país, segundo dados do Ministério do Trabalho. Foram 69.077 em 2011, passando para 67.220 em 2012 e 62.387 em 2013.

Raphael Falcão, diretor da consultoria de carreiras Hays, explica que os estrangeiros chegavam ao Brasil por três motivos: empresa enviava funcionário de confiança para liderar operação no país, deslocava jovens talentos para projetos com potencial de crescimento para lançamento de serviço ou produto ou trazia do exterior profissionais com conhecimentos técnicos que não eram encontrados aqui.

Mas, a partir de 2014, a crise política e econômica fez o Brasil sair do radar das empresas e investidores. Com esse cenário, investimentos foram deslocados para outros países e os profissionais estrangeiros também mudaram a sua rota.

Além disso, o custo de manter um expatriado no Brasil fez com que muitas empresas reavaliassem o seu quadro de expatriados. "Todas as empresas repensaram o seu modelo de negócio", afirma Falcão.

"O período de recessão foi preponderante para o rebaixamento da nota de crédito do Brasil, o que gerou uma redução da atratividade do país aos novos estrangeiros", diz Tomás Jafet, gerente executivo da Michael Page.

Menos profissionais qualificados

A redução de vistos de trabalho no ano passado foi ainda maior para os profissionais qualificados. O número de autorizações caiu de 37,04%, de 28.497 em 2014 para 17.940.

A maior queda foi para profissionais com nível superior completo, que chegou a 15.947 em 2015, quase 10 mil a menos do que registrado em 2014. As autorizações para trabalhadores com ensino médio completo também registraram queda, de 17.755, em 2014 para 11.028, em 2015.

Enquanto os vistos para profissionais com níveis de escolaridade mais alto caíram, as autorizações para trabalhadores com menos qualificação subiram. Em 2014, foram 24 autorizações para profissionais com nível fundamental incompleto. Já em 2015, o número saltou para 3.299. No caso dos profissionais com nível médio incompleto, o número de vistos saltou de 94 para 4.260 em 2015.

"É um comportamento do mercado que, muitas vezes, começa cortando os postos de maior salário e mais especializados", diz Santos.

Marta explica que as empresas que estão investindo em mão de obra estrangeira atualmente tendem a buscar prestadores de serviços específicos, que são técnicos especializados e de assistência. "Por conta da instabilidade econômica do país e fragilidade financeira de muitos setores, o número de estrangeiros diminuiu e entram no país profissionais com custos menores", diz.

As autorizações de trabalho podem ter 90 dias de concessão, até 1 ano, até 2 anos com contrato de trabalho no Brasil e até 2 anos sem contrato de trabalho no Brasil. Os vistos mais pedidos são os de até 2 anos sem contrato de trabalho.

Futuro
Segundo os especialistas ouvidos pelo G1, o Brasil pode voltar para o radar das empresas e receber investimentos. "Se o Brasil fizer a lição de casa e trabalhar nas devidas reformas para recriar um ambiente de estabilidade, podemos novamente atrair investimentos e, consequentemente, o interesse dos profissionais em desenvolver uma carreira por aqui", afirma Jafet.

Marta e Falcão ressaltam que um país com as dimensões e a população do Brasil sempre será um mercado atraente. "Quando você olha quais as opções que existem no mundo para ter um retorno consistente, o Brasil é um dos mais fortes. A pergunta agora é quando isso vai acontecer", diz Falcão.

  Fonte: g1