EDUCAÇÃO

Com olhar digital, alunos precisam de escolas mais conectadas

Esse cenário foi o pano de fundo para o último Meet Point da Série Reconstrução da Educação.

Em 27/05/2023 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: Divulgação/Freepick

O Meet Point da Série Reconstrução da Educação recebeu especialistas para debater a janela de oportunidade aberta pela inovação tecnológica no contexto do ensino fundamental 2, que compreende alunos dos 11 aos 15 anos.

Os dados das avaliações educacionais são bem nítidos: se nos anos iniciais do ensino fundamental grande parte das crianças atinge os índices desejáveis de aprendizado, nos anos finais a equação se inverte, com queda acentuada no cumprimento das metas estipuladas. Esse cenário foi o pano de fundo para o último meet point da série Reconstrução da Educação. Promovido pelo Estadão, o evento recebeu especialistas para debater a janela de oportunidade aberta pela inovação tecnológica no contexto do ensino fundamental 2, que compreende alunos dos 11 aos 15 anos.

“A tecnologia hoje é indispensável para que o cidadão exerça seus direitos, e com a educação não poderia ser diferente”, diz Cristieni Castilhos.

Diretora-executiva da MegaEdu, organização que trabalha pela conectividade em escolas públicas, ela cita ao menos dois componentes para explicar a importância das ferramentas tecnológicas nessa fase do ensino: perfil do aluno e receptividade dos docentes.

Ela aponta que crianças da atual geração já têm um olhar mais digital, então é natural que precisem de uma escola mais conectada. Quando isso acontece, há mais engajamento e prazer em aprender. Além disso, antes da pandemia, metade dos professores achava interessante o uso de tecnologia. Depois, o porcentual subiu para 97%, segundo pesquisas. Como destaca a diretora da MegaEdu, a análise de dados propiciada por softwares de educação pode, inclusive, ajudar o professor a evitar tomadas de decisões erradas na elaboração das estratégias de retomada do aprendizado, permitindo uma análise precisa das dificuldades de cada aluno.

“Se 80% da turma está errando raiz quadrada, muitas vezes o professor toma a decisão de dar novas aulas de raiz quadrada. E esses softwares ajudam a mostrar que, por exemplo, a defasagem do aluno pode ter ficado na parte de fração, que é a base para pensar a raiz quadrada. Isso ajuda muito o professor a elaborar as estratégias de retomada do aprendizado.”

Brasil afora, algumas poucas redes já têm conseguido bons resultados. Na rede pública paranaense, há o uso de sete plataformas, cada uma voltada a uma área do conhecimento, sempre em sala de aula.

“O debate mais importante não é sobre usar ou não a tecnologia, mas sim pensar em como aproveitar a inteligência dos softwares educacionais”, diz Roni Miranda, secretário de Educação do Paraná.

Apesar dos resultados, no Brasil a universalização do apoio tecnológico esbarra em desigualdades históricas entre regiões. Segundo o último Censo Escolar, no ensino fundamental, só 76% das escolas estaduais e 56% das municipais têm internet banda larga. Em números absolutos, mais de 20 mil escolas não têm nenhum acesso à internet, o que corresponde a mais de 4 milhões de alunos fora da rede.

“Mais da metade das escolas públicas têm de um a três computadores, enquanto, nas privadas, é muito comum vermos o computador como parte da lista de materiais solicitados. Estamos falando de uma grande diferença”, diz Cristieni.

OPORTUNIDADE E RISCO. Se bem implementada, ressalva a diretora da MegaEdu, a tecnologia é uma janela de oportunidade para diminuir a grande heterogeneidade na sala de aula.

“A gente incluiu muito rápido as pessoas em um País muito desigual e multicultural, então cada criança traz uma história, um background familiar muito diferente. A tecnologia possibilita em alguma medida individualizar um pouco mais os processos pedagógicos. Esse percurso é muito interessante”, avalia Cristieni.

Tecnologia não é TikTok

O uso da tecnologia para aprendizagem não significa abrir o sinal do Wi-Fi da escola para os estudantes. De acordo com a especialista, é preciso um software pedagógico e formação dos professores.

“Abrir o sinal aqui do Wi-Fi no intervalo para os alunos acessarem o TikTok não é uso da tecnologia para aprendizado. Durante a pandemia, foi importante a gente ter distribuído os chips, o aluno em casa ter tido acesso. Só que agora a escola precisa estar conectada, o professor na sala de aula precisa ter essa ferramenta para que ele decida como vai fazer essa utilização”, afirma Cristieni.

Nesse sentido, o debate sobre eventuais limites ao uso das redes sociais, inclusive nas escolas, tem ganhado atenção. Em março deste ano, o governo de São Paulo bloqueou o acesso de alunos da rede estadual a redes sociais e serviços de streaming. Estados como o Paraná têm seguido um caminho parecido.

Na opinião de Cristieni, o uso excessivo das redes, de fato, pode trazer impactos negativos à saúde mental dos alunos, mas é preciso achar uma alternativa em que os seus benefícios não sejam desperdiçados.

“As redes sociais são um ambiente de oportunidade e de risco. Se você sabe trabalhar esse ambiente, há muitos caminhos positivos”, afirma.

E o quanto antes esses caminhos forem explorados, maior será o proveito dos alunos no restante de sua trajetória escolar.

“Educação não é corrida de 100 metros rasos, é uma maratona, os processos são cumulativos. Quanto mais sólida for essa base no ensino fundamental, melhor será o desempenho no ensino médio e a capacidade de tomar decisões”, diz Daniel Santos, pesquisador do Lepes (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social) da Universidade de São Paulo (USP).

Perfil

Com idade entre 11 e 15 anos, o aluno dos anos finais do ensino fundamental vive a delicada fase da entrada na adolescência, com impactos recorrentes na saúde mental e na autoestima. Com a pandemia, o crescimento na notificação de problemas de saúde mental, como os que resultam na automutilação de jovens, tornou-se um dos principais temas de discussão entre as famílias e os gestores escolares no País.

“Essa é uma etapa em que o jovem começa a formar sua identidade e isso também repercute na educação. Em cada transição, mudam-se os contextos, os ciclos de amigos, tudo isso deve ser observado”, resume Daniel.

Por isso, tendo em vista os desafios próprios à pré-adolescência, os especialistas avaliam que o cuidado com a promoção de uma escola mais atrativa deve ser redobrado, passando, principalmente, pelo acolhimento desses alunos, que estão em fase de transformações e novas descobertas. (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo - Estadão Conteúdo - https://istoe.com.br/autor/estadao-conteudo/)

Leia também:

Ifes lança a 2ª turma do curso de programação de software
Prazo para instituições públicas aderirem ao Sisu termina hoje
Curso busca aumentar presença feminina na área tecnológica
Vitória nomeia mais 440 profissionais da educação
Cariacica entrega kits de material escolar para estudantes
Escola de Linhares promove aulas dinâmicas e criativas
Quatro em cada dez alunos do 4º ano não dominam a leitura
Professores de todo país terão cursos de educação financeira
Escola realiza ação de combate ao abuso sexual infantil
Vitória forma profissionais de excelência para o mercado

TAGS:
MEET | POINT | EDUCAÇÃO | ALUNOS | ESCOLAS | CONECTADAS | RECONSTRUÇÃO