POLÍTICA INTERNACIONAL

Como a disputa pela Casa Branca está afetando a saúde dos americanos.

Analistas consideram que a atual campanha registra o maior nível de agressividade e pessimismo.

Em 20/10/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A atual disputa pela Casa Branca está fazendo tão mal à saúde dos americanos que levou a maior organização de psicólogos do país a lançar uma lista de sugestões para combater o estresse causado pela eleição.

Analistas consideram que a atual campanha, que opõe a democrata Hillary Clinton ao republicano Donald Trump, registra o maior nível de agressividade e pessimismo da história recente.

Segundo a pesquisa Stress in America (Estresse nos EUA), encomendada pela American Psychological Association (Associação Americana de Psicologia, ou APA, na sigla em inglês), 52% dos americanos com 18 anos ou mais dizem que a eleição deste ano é fonte de estresse.

A disputa chega à reta final após o último debate entre os dois principais candidatos, realizado na noite desta quarta-feira. No encontro, houve nova troca de farpas e até ofensas entre os dois (Trump chamou Hillary de "nojenta", e a candidata disse que o rival seria um "fantoche" do presidente russo, Vladimir Putin).

Segundo analistas, a retórica agressiva dos presidenciáveis é um dos principais motivos por trás do mal-estar entre a população.

O fenômeno afeta igualmente democratas (55% dizem sofrer estresse significativo causado pela eleição) e republicanos (59%), homens (51%) e mulheres (52%).

"Ficamos surpresos com quantas pessoas relataram estresse", disse à BBC Brasil a psicóloga Vaile Wright, integrante da equipe da associação responsável pela pesquisa.

É a primeira vez em que a pesquisa, realizada anualmente desde 2007, inclui uma pergunta sobre a eleição.

"Em outros anos, dinheiro, trabalho e economia eram as principais fontes de estresse", observa Wright.

Redes sociais
Como o resultado final da pesquisa só será divulgado no início de 2017, ainda não é possível saber se a eleição é fonte maior ou menor de estresse do que os outros fatores mencionados por Wright.

A pesquisa foi realizada pela internet entre os dias 5 e 31 de agosto. Ouviu 3.511 pessoas de 18 anos ou mais que residem nos EUA.

"Nunca perguntamos sobre eleições antes, então não temos dados para comparar esta campanha com as anteriores. E também não perguntamos especificamente aos entrevistados por que consideram esta eleição tão estressante, mas temos uma ideia", afirma Wright.

Para a psicóloga, há uma combinação de fatores. Um deles é o tom da disputa.

"Temos esta campanha com uma retórica agressiva, negativa. Os eleitores estão mais polarizados do que nunca: ou você está de um lado ou está do outro. Então há muito medo e preocupação sobre o que pode acontecer se o candidato que você não apoia vencer", ressalta Wright.

Mas um dos principais fatores, segundo a associação, são as redes sociais. De acordo com a pesquisa, 38% dos americanos afirmam que discussões políticas e culturais nas redes sociais causam estresse.

Entre os usuários de redes sociais, 54% dizem que a eleição é fonte de estresse. Entre os que não usam as redes, o percentual é de 45%.

"O estresse causado pela eleição é exacerbado por discussões, artigos, imagens e vídeos nas redes sociais, que podem elevar a preocupação e a frustração, especialmente com milhares de comentários que podem variar de factuais a hostis ou mesmo incendiários", diz Lynn Bufka, uma das diretoras da APA.

Gerações
A pesquisa revela diferenças entre as gerações. A eleição parece causar mais estresse entre os entrevistados com 71 anos ou mais (59% dizem ser atingidos) e integrantes da chamada geração Y (pessoas de 19 a 37 anos, entre as quais 56% relatam estresse).

Entre os baby boomers (52 a 70 anos), 50% dizem ser afetados, e entre os membros da geração X (38 a 51 anos), 45%.

Wright ressalta que esse resultado é curioso, já que em geral pessoas mais velhas costumam relatar menor estresse.

"Temos algumas teorias para explicar. Pode ser que pessoas mais velhas estejam mais preocupadas com o tipo de futuro reservado a seus filhos e netos", afirma Wright.

"Pode ser também porque muitas questões importantes para esse público, como seguridade social e saúde, não estão sendo muito discutidas nesta campanha."

"Acho ainda que eles estão realmente chocados com a retórica e o tom negativo desta eleição. Pessoas mais velhas geralmente aprenderam a resolver suas discordâncias de maneira diferente", observa a psicóloga.

Dicas
Diante desse quadro, a Associação Americana de Psicologia lançou uma série de dicas para enfrentar o estresse causado pela eleição. As principais recomendações são:

- Se o ciclo de notícias 24 horas sobre a eleição está causando estresse, limite seu consumo de mídia. Leia apenas o suficiente para ficar informado, pare de atualizar seu feed de notícias ou tire um intervalo digital. Reserve tempo para si, faça uma caminhada ou passe tempo como amigos e família fazendo o que gosta;

- Evite entrar em discussões sobre a eleição se você acha que poderão escalar para conflitos. Esteja ciente da frequência com que você está discutindo a eleição com amigos, familiares ou colegas;

- Estresse e ansiedade em relação ao que pode acontecer não são produtivos. Direcione preocupações para fazer diferença positiva em questões que considera importantes. Avalie a possibilidade de fazer trabalho voluntário em sua comunidade, fazer campanha por uma causa que apoie ou ingressar em um grupo local. Lembre-se de que além da eleição presidencial, há eleições estaduais e locais em muitas partes do país, oferecendo mais oportunidades para envolvimento cívico;

- O que quer que aconteça em 8 de novembro, a vida continua. O sistema político e os três Poderes significam que é possível esperar um grande grau de estabilidade imediatamente após uma grande transição de governo. Evite pensar em catástrofe e mantenha uma perspectiva equilibrada;

- Vote. Em uma democracia, a voz de um cidadão realmente importa. Busque informações equilibradas para saber mais sobre todos os candidatos e questões em votação (não apenas a corrida presidencial), tome decisões bem informadas e use seu adesivo de "eu votei" com orgulho.

Fonte: BBC