OPINIÃO

Como Pôncio Pilatos, Bolsonaro lavou as mãos

AGU reconheceu que o Ministério da Saúde tinha conhecimento da gravidade da situação.

Em 19/01/2021 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: Reprodução/ Facebook

Pontius Pilate foi o governador da província romana da Judeia, entre 26 e 36 d.C, e ficou eternamente conhecido como o responsável pela crucificação de Cristo pelos fariseus, já que “lavou as mãos” e não interveio no julgamento que condenou Jesus à morte.

Em documento enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal), a AGU (Advocacia Geral da União) reconheceu que o Ministério da Saúde tinha conhecimento, desde o final de dezembro de 2020, da gravidade da situação sanitária de Manaus por causa da Covid-19.

No começo deste ano, secretários da Pasta se reuniram em pelo menos duas oportunidades, dias 4 e 5 de janeiro, e concluíram que o sistema manauara entraria em colapso dali a cerca dez dias, especificamente entre o período de 11 a 15 de janeiro. Não deu outra!

A empresa White Martins, que fornece oxigênio para os hospitais públicos do estado, alertou o governo do Amazonas, por e-mail datado de 7 de janeiro, que não seria capaz de suprir a demanda em curso, e que outros fornecedores deveriam ser contratados.

A bomba-relógio estava armada e datada, e mesmo assim o general fantoche do maníaco da cloroquina, também conhecido como presidente Jair Bolsonaro (uma piada de mau gosto, tanto como Pazuello, ministro da Saúde) só deu as caras na cidade em 11 de janeiro.

Antes disso, o ajudante de ordens do amigão do Queiroz, em reunião com prefeitos em Brasília, declarou que não havia aviões disponíveis para levar oxigênio para Manaus. Porém não era verdade. Pazuello se especializou na maior arte do seu chefe: contar mentiras.

Cientes da tragédia que se aproximava, Presidente e sabujo limitaram-se a enviar para o Amazonas 120 mil comprimidos de hidroxicloroquina, que o próprio médico-cientista que a divulgou como “eficaz contra o coronavírus” admitiu não produzir qualquer efeito.

Também em 7 de janeiro, ao lado do Jim Jones da Covid (quem não souber, pesquise quem foi James Warren), numa daquelas lives patéticas de quinta-feira, o bibelô de três estrelas defendeu o tal “tratamento precoce” – bem como o próprio Ministério da Saúde.

Semana passada, em visita a Manaus, criador e criatura tiraram o corpo fora, ou melhor, o bumbum da seringa (com medo de ser a vachina do Doria) e disseram ter feito o que podiam: enviar dinheiro e saquinhos de pirlimpimpim: cloroquina + ivermectina + azitromicina.

O que aconteceu em Manaus ficará registrado como um dos maiores casos de omissão de um governo – ou governos -, que levou dezenas, senão centenas de brasileiros à morte por asfixia. Em qualquer país decente, os responsáveis seriam julgados, condenados e presos.

Mas em Banânia, cuja capital atual é Bolsolândia, um presidente psicopata e um ministro criado são inimputáveis politicamente e criminalmente. E o motivo é um só: Congresso e Suprema Corte resolveram se ajoelhar perante a pulsão de morte do governo federal.

Sobre o autor

Ricardo Kertzman, é blogueiro, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, reclamou do hospital, brigou com o obstetra e discutiu com a mãe. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração.