MOTOR

Compartilhamento de carros cresce e ganha mais opções no Brasil

Entenda como funcionam as modalidades disponíveis.

Em 07/07/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O compartilhamento de carros é uma tendência mundial e existe no Brasil desde 2010, mas demorou para sair da primeira marcha.

Só no último ano a opção de mobilidade ficou mais conhecida e o número de usuários cresceu, com novas iniciativas que tentam colocar o país no mesmo rumo de países europeus, da América do Norte e China.

No mundo inteiro, mais de 7 milhões de pessoas usam algum tipo de compartilhamento, segundo dados da consultoria Frost & Sullivan.

No Brasil, o número de usuários mais que dobrou desde julho do ano passado, mas ainda não passa de 100 mil, somando todas as plataformas.

Novas opções

Desde março passado, a Moobie opera em São Paulo com um aplicativo para colocar seu carro próprio para alugar ou então alugar de outras pessoas, com processo 100% pelo smartphone e preço menor que o de locadoras convencionais.

  (Foto: Arte/G1)

A partir de 9 de julho, a Urbano disponibilizará 60 carros, sendo 15 elétricos do modelo BMW i3, em um sistema em que é possível pegar o carro em um ponto da capital paulista e devolver em outro, dentro da área de operação.

Esses novos nomes se juntam a Zazcar, Pegcar, Parpe, Olacarro e Vamo, que já oferecem alguma modalidade de compartilhamento no país, inclusive com abrangência nacional.

Grandes montadoras de veículos, como a General Motors, dona da Chevrolet, também fazem testes por aqui, mas ainda com público muito restrito.

Em busca da consolidação

Não é apenas um nicho da chamada economia colaborativa. A relação com o carro está mudando, tanto que até as gigantes da indústria, que até então viveram apenas da venda dos veículos, agora investem também em plataformas de compartilhamento.

Pode ser uma forma de ganhar dinheiro em um futuro não tão distante, no qual motoristas poderão se tornar desnecessários e ter um carro na garagem poderá ser visto como algo "retrô", segundo apontam pesquisas.

Maior empresa do ramo no mundo, a Car2Go faz parte do mesmo grupo da Mercedes-Benz e tem 2,4 milhões de usuários em 26 cidades, nos EUA, Canadá, Áustria, China, Alemanha, Itália, Holanda e Espanha.

"Principalmente em São Paulo, o compartilhamento está num momento de começar a crescer. Não é viável continuar aumentando a frota", diz Tamy Lin, CEO e fundadora da Moobie.

"É natural que tenham barreiras culturais. Mas a gente precisa melhorar a nossa relação com a mobilidade", completa.

O LDS Group, até então especializado em aluguel de veículos de luxo para celebridades, começa agora o projeto piloto Urbano na capital paulista. Para Leonardo Domingos, CEO do grupo, quanto mais competidores entrarem, melhor para todos.

"Cria a educação para utilizar o serviço, cria o desejo, aí ele pode sentir a experiência e ver que funciona, até virar mais um modal de transporte. É um caminho sem volta."

Um estudo em 5 cidades americanas mostrou que, para cada carro compartilhado, entre 7 e 11 veículos deixaram de circular nas ruas, o que gera efeitos no trânsito, na economia e na emissão de poluentes.

Como funciona?

Há diversos tipos de compartilhamento de veículos, mas a ideia básica é ser mais barato, ter menos burocracia e mais flexibilidade que um aluguel convencional, com pacotes por horas ou minutos de uso. Com os apps, é possível achar um carro próximo, solicitar o aluguel e abrir o veículo, tudo pelo celular.

Para quem tem carro próprio, e um certo nível de desapego, é possível alugar o veículo a outras pessoas e aumentar a renda. Alguns proprietários chegam a embolsar mais de R$ 1 mil por mês. Conheça essa e outras modalidades de compartilhamento:

Clássico ou 'round-trip'

Neste sistema, uma empresa disponibiliza sua frota em diversos pontos espalhados pela cidade. O usuário pode pegar o carro em qualquer ponto e deve devolvê-lo no mesmo lugar ao fim da reserva.

É indicado para quem precisa de um carro apenas por algumas horas, mas algumas empresas fazem também pacotes com diárias para o fim de semana. Seguro e combustível estão inclusos no valor do aluguel.

O ponto negativo é que o usuário tem que se deslocar até um ponto de retirada e entregar no mesmo lugar. Ou seja, não é vantajoso se você quer ir ao trabalho ou ficará muitas horas com o carro parado até conseguir voltar ao ponto de retirada.

  • Zazcar

A Zazcar é a mais antiga deste tipo na América Latina. A iniciativa começou em 2010, mas o número médio de aluguéis só disparou quando foi lançado um app com tecnologia própria no segundo semestre de 2016.

O investimento de R$ 3 milhões cortou custos e diminuiu os recorrentes apertos com a variação do dólar. "Agora não é só operação de compartilhamento, a Zazcar se tornou um empresa de tecnologia", afirma o CEO, Felipe Barroso.

A Zazcar possui unidades do Ford Ka espalhadas em diversos pontos de São Paulo, concentrados no Centro, Zona Sul e Zona Oeste. Sem reserva, é possível pegar um dos carros com abertura do carro pelo aplicativo no celular.

Os preços começam em R$ 8 por hora mais R$ 0,50 por quilômetro rodado, com cobrança mínima de R$ 20 por aluguel. Há também pacote para 24 horas (R$ 132), 48h (R$ 240) e 5 dias (R$ 500), sempre acrescidos de R$ 0,50 por km rodado.

  • Audi e Chevrolet

A Chevrolet trouxe seu serviço de compartilhamento Maven, logo depois do lançamento nos Estados Unidos, mas por enquanto ele é limitado aos funcionários das fábricas. Há expectativa de abertura para o público em geral, ainda sem data certa para ocorrer.

No caso dos testes em São Caetano, ficar uma hora com o Cruze sai por R$ 35. A diária custa R$ 210, e quando um motorista fica mais de 6 horas com o carro, o preço é o mesmo da diária.

Em novembro do ano passado, a Audi lançou um programa de compartilhamento restrito a pessoas que trabalham no mesmo condomínio da sede da Audi, na zona sul de São Paulo.

Neste caso, o diferencial é dar uma volta com um esportivo como o TT Coupé, por R$ 120 a hora mais R$ 1,15 por km rodado. A diária sai por R$ 495 e o final de semana por R$ 990 - bem mais em conta que os R$ 225 mil exigidos para adquirir um Audi TT.

'Free-floating'

Neste sistema é possível pegar o carro em uma região da cidade e devolver em outra, dentro da área operacional da empresa. Este é o modelo usado pela Car2Go e um dos mais populares por causa da possibilidade de pegar o carro perto de casa e encerrar o aluguel perto do trabalho, por exemplo, deixando o carro livre para outro usuário.

  • Vamo Fortaleza

Em Fortaleza, a Vamo foi a primeira plataforma a colocar uma frota formada 100% por carros elétricos, em setembro do ano passado. Com investimento de R$ 7 milhões feito por um patrocinador em parceria com a prefeitura, 20 carros ficam distribuídos em 12 estações da capital cearense.

Para os primeiros 30 minutos, o valor cobrado do usuário da Vamo é de R$ 20. Depois disso, a cobrança é por minuto, variando de R$ 0,80 entre 30 min e 1 hora, até R$ 0,40 por minuto após 4 horas de uso.

Há uma mensalidade de R$ 40, com desconto de R$ 10 para quem tem também o bilhete único de transporte público local. O carro pode ser devolvido em qualquer uma das estações com vagas disponíveis, não necessariamente na que foi retirado.

  • Urbano

A Urbano começará a operar em um projeto piloto na capital paulista em julho, com 60 veículos. Inicialmente, o usuário poderá pegar e largar o carro nos seguintes bairros: Jardim Europa, Vila Olímpia, Vila Nova Conceição, Itaim Bibi.

Moema e a região da Berrini devem entrar logo em seguida. Quando o motorista entrar na área de operação, uma luz verde se acende no painel e ele pode estacionar em qualquer lugar para encerrar o uso. Tudo pode ser feito pelo celular, inclusive a abertura do carro.

"O usuário pode achar o carro mais próximo e com 3 cliques estará dentro do carro", afirma Leonardo Domingos.

Os interessados poderão pagar uma mensalidade de R$ 89, que é revertida totalmente em minutos de uso. A bandeirada inicial será de R$ 29 por 20 minutos, depois desse período o minuto custa R$ 1,20.

Para trazer a tecnologia francesa ao Brasil, foram investidos R$ 6 milhões. O grupo espera receber um aporte de mais R$ 19 milhões de investidores, que terão 30% da empresa. Até o final de 2017, a Urbano pretende ter 500 carros na frota.

Pessoa para pessoa (P2P)

Nesta modalidade, proprietários de veículos que ficam sem uso por muito tempo colocam os próprios carros à disposição de outras pessoas, algo semelhante ao AirBnB, onde é possível alugar sua casa ou um quarto para turistas.

Os valores para quem precisa do carro são até 30% menores do que uma locadora normal e têm seguro incluso. O combustível é por conta do usuário.

As plataformas fazem uma checagem de informações para cadastrar usuários, o que pode envolver Detran, antecedentes criminais, situação financeira e até redes sociais.

Uma porcentagem da transação, geralmente em torno de 20%, fica para a empresa que conectou proprietário e interessado. Ou seja, um carro listado por R$ 100 dará R$ 80 ao dono no fim da diária.

  • Moobie

Enquanto planejava tirar 1 ano sem emprego fixo para ir em busca da felicidade, a administradora Tamy Lin percebeu que ela estava mais perto do que imaginava: era o momento de virar empreendedora. O ano sabático virou 3 semanas de férias e logo em seguida nascia a Moobie.

"A gente escolheu essa modalidade com objetivo de não colocar mais carros na rua e otimizar uma frota de quase 8 milhões de veículos, só na Grande São Paulo, que fica mais de 98% do tempo parado.

"Também ajudamos pessoas que têm carro e precisam de uma renda complementar."

Com um conceito de criar uma comunidade, a plataforma permite que um interessado faça o cadastro, envie documentos e assine o contrato pelo celular. Passada a fase de inicial, também é possível buscar os carros e fazer o "check-up" do estado do veículo pelo app.

Em apenas 3 meses, a Moobie tem 5 mil usuários e cerca de 300 carros cadastrados na Grande São Paulo, além de Santos e Bertioga, no litoral paulista. O empreendimento já teve apoio de 4 investidores anjo.

  • PegCar

Em operação desde outubro de 2015, a PegCar soma cerca de 20 mil usuários e 500 carros disponíveis nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.

Os sócios Bruno Hacad e Conrado Ramires estão sempre estudando novos locais para expansão, mas por enquanto o foco é consolidar a operação nos atuais e conseguir mais proprietários que queiram entrar na economia colaborativa.

Todos os veículos têm menos de 10 anos, quilometragem inferior a 100 mil km rodados e valor abaixo de R$ 90 mil na Tabela Fipe. Para alugar é preciso ter pelo menos 21 anos, 2 anos de habilitação e no máximo dois sinistros nos últimos 2 anos.

  • Parpe

Com cerca de 1 ano e meio no ar, o Parpe diz ter o maior número de usuários, com cerca de 30 mil, e veículos disponíveis (800) para compartilhamento entre pessoas.

A abrangência é nacional, mas São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Paraná e Santa Catarina são os principais estados de atuação.

  • Olacarro

Fundada em Curitiba (PR) com investimento de R$ 100 mil, a Olacarro funciona desde agosto de 2015. Assim como a Parpe, não há limite territorial, mas os cerca de 100 veículos e 12 mil usuários estão mais concentrados no Sudeste do país.

"Trouxe o modelo da Europa, da minha cidade natal Paris, onde sempre utilizei plataformas similares", afirmou Jérémy Dupont, fundador da Olacarro. Segundo ele, a maior dificuldade é conseguir mais proprietários que aceitem compartilhar o veículo.

Está aí nosso maior desafio, atender a grande demanda de usuários interessados no aluguel de veículos particulares com um número de carros ainda reduzido em relação a procura."

(Foto: REUTERS/Jorge Silva)