ECONOMIA NACIONAL
Confiança na economia avança, mas dúvidas persistem.
Esses indicadores não podem ser considerados uma garantia de que a retomada virá.
Em 02/10/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Os índices de confiança na economia atingiram em setembro os níveis mais elevados em quase um ano e meio, o que sinaliza que há uma forte esperança na retomada do crescimento econômico. Mas, para analistas, esses indicadores não podem ser considerados uma garantia de que a retomada virá.
Para Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o mercado financeiro tem traçado um cenário otimista porque se apoia nesses índices de confiança. Ele reconhece que houve avanços nos indicadores, mas frisa que os fundamentos, como investimento e emprego, não estão muito melhores. "A confiança está subindo não porque as coisas estejam melhorando, mas porque as pessoas têm esperança de que isso aconteça. Isso é algo bastante frágil e pode não ocorrer", observa.
Quando olhados no detalhe, os índices de confiança revelam que tanto empresários quanto consumidores estão mais confiantes com as perspectivas para os próximos meses do que com a situação atual. E, apesar de as expectativas serem mais favoráveis a médio prazo, elas não são suficientes para impulsionar as intenções de contratação, investimento e consumo, que ainda continuam baixas.
Pessimismo menor
Pessimismo menor. Castelar destaca outro ponto de fragilidade da retomada projetada a partir da melhora na confiança: é que esses índices subiram porque diminuiu a quantidade de pessimistas, não porque as pessoas estejam mais otimistas.
"O primeiro passo é o pessimismo diminuir e isso está acontecendo", diz Aloisio Campelo, superintendente responsável pelos índices de confiança do Ibre. Ele observa que os indicadores de expectativas melhoraram, mas continuam abaixo da média histórica.
Para Campelo, pelo fato de a recessão atual ser atípica - muito profunda e longa -, a retomada, ao contrário de outras crises, tende a ser mais lenta e gradual. "Desta vez, o consumidor está mais alavancado e existe um engessamento das políticas fiscal e monetária", afirma. Mesmo assim, ele acredita que falta uma "novidade" para que a retomada ganhe ritmo. Entre essas "novidades", o economista aponta a redução dos juros e a aprovação das reformas.
A velocidade da recuperação
"Não estamos tão otimistas com a velocidade da recuperação da economia quanto está o mercado ou o governo", afirma Castelar. O Ibre projeta crescimento do PIB de 0,6% em 2017, enquanto o mercado - pelos números do boletim Focus, do Banco Central - e o governo esperam avanços de 1,3% e 1,6%, respectivamente.
Fabio Pina, assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), também avalia existir uma fragilidade nos prognósticos de recuperação da atividade. O economista lembra que há alguns sinais positivos, como as importações reagindo e a indústria parando de cair. "Mas essa melhora da confiança pode se esvair e os índices voltarem para os patamares anteriores, se as reformas não forem aprovadas. A prova de fogo é a aprovação da PEC dos gastos", frisa.
Para Pina, não estão dadas as condições de retomada sem a aprovação das reformas. "O que se tem hoje é a expectativa de uma reforma que gera a perspectiva de uma retomada."
O Estado de S. Paulo.