ESPORTE NACIONAL
Conta de luz poderá aumentar se Brasil deixar de cumprir Convenção de Estocolmo
Segundo Mattar, há pelo menos 3,3 milhões de litros de askarel que precisarão ser retirados de circulação.
Em 28/11/2014 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) estima que o setor precisará investir R$ 25 bilhões para cumprir, até 2028, parte dos compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção de Estocolmo. O tratado, firmado em 2004 e ampliado em 2010, tem por objetivo proibir produção e uso dos chamados Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs). São 21 substâncias químicas que, além da afinidade com tecidos gordurosos, têm facilidades para se acumular e se espalhar pelo meio ambiente.
Entre esses poluentes, o askarel - óleo resistente ao fogo - é bastante usado para condução de energia elétrica em transformadores, capacitores, reatores, interruptores e cabos elétricos. Em contato com pessoas, o produto pode causar males como câncer, além de problemas em diversos órgãos. Se descartado de forma inadequada, pode contaminar o meio ambiente, em especial o solo, lençóis freáticos e a vegetação.
“Em alta temperatura, o askarel libera um vapor bastante tóxico”, acrescentou Shelley Carneiro, gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Esclareceu que o risco de contaminação ocorre apenas quando a quantidade é superior a 50 miligramas por quilo de equipamentos, limite previsto pela Convenção de Estocolmo.
De acordo com Carlos Alberto Mattar, superintendente de Regulação da Distribuição da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), é possível que os custos para retirada de circulação do askarel sejam repassados aos consumidores, caso o governo não encontre outra solução.
Com base em estudos da Abradee, que, em 2012, contabilizava custo de R$ 13 bilhões para o setor apenas com logística, aferição, tratamento e descarte do askarel, Mattar projeta impacto de 44% na receita anual das distribuidoras. “Se [os gastos] fossem pagos de uma vez, provavelmente resultariam em aumento de 44% nas tarifas de energia pagas pelos consumidores”, adiantou.
"O problema é que os valores aumentaram. Só para distribuição, prevemos a necessidade de aporte de R$ 25 bilhões. Serão pelo menos 3,8 milhões de transformadores descartados, excluídos cabos e capacitores”, ressaltou Daniel Mendonça, diretor de Relações Institucionais da Abradee. Para ter uma ideia mais próxima do número de equipamentos e da quantidade de askarel contida neles, a associação desenvolve pesquisas com associados, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente.
Segundo Mattar, há pelo menos 3,3 milhões de litros de askarel que precisarão ser retirados de circulação. “Deste total, 83% estão nos equipamentos das distribuidoras. São aproximadamente 8,1 milhões de máquinas com algum nível de contaminação. Para que a descontaminação seja feita, é necessário definirmos o cronograma para uma política industrial”, observou o superintendente da Aneel.
Os problemas não param por aí. “Também encontraremos dificuldades na logística para levar o material para identificação de quais equipamentos têm contaminação acima dos limites permitidos”, informou o presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE), Alexei Vivan, que também preside o Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico (Fmase).
Diretora de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Letícia Carvalho disse que o desafio é encontrar tecnologias alternativas à incineração, método mais adotado para o descarte do askarel. “O Brasil conta com apenas oito ou nove incineradoras. A definição sobre a melhor forma de descarte tem sido discutida desde os anos 80. Mesmo assim, não há consenso sobre o assunto”, informou.
Segundo Letícia, os valores de custos estimados pela Abradee para cumprimento das metas definidas pela Convenção de Estocolmo “ainda são iniciais e imprevisíveis, mas dão dimensão ao desafio que temos no país para implementar o acordo”, acrescentou.
“Nosso ponto mais fraco está relacionado à saúde dos trabalhadores que manuseiam equipamentos do setor elétrico. Também temos preocupação em sensibilizar setores com menos conhecimento sobre o problema”. assinalou Letícia, referindo-se a empresas de manutenção de equipamentos e ambientes coletivos como escolas, shoppings, aeroportos e portos.
Por Agência Brasil