POLÍTICA NACIONAL
Cunha clama por uma coalizão de verdade entre o PT e o PMDB.
A política brasileira só entrará nos eixos se Dilma governar o país com uma coalizão de verdade.
Em 17/03/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
O PT precisa aderir ao governo, ele ainda não aderiu". A frase é do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que foi entrevistado na noite desta segunda-feira (16), no programa Roda Viva, da TV Cultura.
No programa, Cunha defendeu que a política brasileira só entrará nos eixos se "Dilma deixar de governar a partir de uma cooptação" e passar a governar o país com "uma coalizão de verdade".
Disse também que a insatisfação vista nas ruas no último domingo (15) é reflexo de uma eleição que alcançou uma vitória nas urnas, mas não conquistou uma hegemonia dos votos, como as eleições anteriores.
Além disso, o presidente da Câmara disse que não há motivo para o impeachment de Dilma e que as manifestações de rua foram parte de uma "organização desorganizada" das redes sociais e de um avanço no processo do exercício de cidadania.
A origem do problema: a falta de hegemonia eleitoral
Para Cunha, a coletiva de imprensa que o governo cedeu na noite deste domingo deu a entender que o protesto que eles viram nas ruas não foi o mesmo que efetivamente aconteceu.
Responsável por fazer a interlocução do Palácio do Planalto com a sociedade civil, o ministro Miguel Rossetto (Secretaria Geral) voltou a abordar a tese do governo de que as manifestações vieram de pessoas “que não votaram” em Dilma.
"Toda a eleição tem uma hegemonia eleitoral. Neste caso, não teve. Nesse caso, houve uma vitória, em uma disputa acirrada dos votos", lembrou Cunha. "O protesto juntou os que não votaram nela, os que se decepcionaram com as medidas dela e os que estão revoltados com a corrupção na Petrobras", afirmou.
"Se o PT tivesse tido, nesse quarto mandato, a mesma hegemonia que teve nos outros três, o País não estaria passando pelo que está passando hoje", analisou o peemedebista.
A solução: abandonar a cooptação e agir com coalizão
Cunha passou grande parte do programa insistindo na ideia de que o governo Dilma Rousseff atua com base em cooptação - atraindo os demais para os seus objetivos - e é necessária a prática da coalizão - um contrato de cooperação entre partidos.
"O PMDB quer fazer uma política com 'p' maiúsculo. Ninguém está atrás de cargo. Nós queremos é fazer uma coalizão de verdade", afirmou o deputado. "Quando eu falo em coalizão, falo em governar em conjunto mesmo. Não só dando cargo, mas compartilhando as decisões e as medidas que são adotadas".
Para ele, o mal-estar que existe entre o PMDB (partido do vice-governador e dos presidentes da Câmara e do Senado - respectivamente, Michel Temer, Cunha e Renan Calheiros) e o PT é justamente relacionado a isso.
"O PMDB supostamente está numa coalizão, mas essa coalizão é desiquilibrada. E não é em número de cargos, mas em decisões políticas. A presidente vai precisar fazer com que ocorra uma coalizão de verdade", insistiu. "A crise é política, acima de qualquer coisa".
Impeachment está fora de questão
O presidente da Câmara deixou claro que não concorda com qualquer pedido de impeachment contra a presidente Dilma, justamente por não acreditar que sejam pedidos coerentes.
"A presidente não praticou, no exercio do mandato atual, qualquer atitude que levasse ao seu impeachment", afirmou. "Com Collor, foi totalmente diferente".
"O mandato dela se iniciou no dia 1º de janeiro e, neste mandato, não há nenhum crime comprovadamente cometido por ela. O Brasil não é uma republiqueta", ressaltou. "Se hoje houvesse motivo de impeachment, haveria um processo de impeachment após o outro na nossa história", explicou Cunha.
"Nós não podemos transformar uma discusão sobre impedimento da presidente da República em uma discussão política. Não é simples pedir o impeachment da presidente por motivos políticos", concluiu.
Investigações na Operação Lava-Jato
De acordo com Cunha, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, "usou dois pesos e duas medidas" em sua lista de políticos citados na Operação Lava-Jato, que investiga os crimes de corrupção na Petrobras.
"É muito incoerência. Ele escolheu a quem investigar", afirmou. Perguntado se ele deixaria o cargo, caso houvesse uma manifestação pedindo o "Fora, Cunha", por conta das investigações, afirmou que não.
Cunha respondeu também às afirmações de Dilma, em sua primeira entrevista após as manifestações de domingo, que disse que "a corrupção não nasceu hoje, ela não só é uma senhora bastante idosa nesse País, como não poupa ninguém, pode estar em tudo quanto é área, inclusive no setor privado”.
"Eu acho que a corrupção é um câncer. 'Uma senhora' é uma imagem muito boa, é suave", afirmou Cunha. Ele disse também que a raiz da corrupção está no Poder Executivo e não no Poder Legislativo.
Lula deve opinar no governo, afinal "ele elegeu ela"
O presidente da Câmara afirmou que Lula deve, sim, ser consultado pela presidente Dilma, neste momento de crise política.
"Vamos colocar as coisas no lugar: ele (Lula) pode não ter participado da reeleição, mas ele elegeu Dilma no primeiro mandato dela", analisou. "Eu, no lugar dele, iria querer interferir mesmo, porque ele também será prejudicado com tudo isso", afirmou Cunha.
Perguntado se ele votou em Dilma, Cunha disse que o voto é secreto e que "não é agora que ele vai revelar isso".
Manifestações são produto de uma 'organização desorganizada'
Cunha acredita que, além do sentimento de desilusão quanto à prática política, a população está aprendendo a se "organizar" para defender uma causa.
"Há uma 'organização desorganizada' nas redes sociais e, a partir daí, as pessoas estão sabendo como protestar. Isso começou em 2013. Hoje, as pessoas estão indo à ruas com uma motivação em comum", analisa. "Eu vi duas bandeiras claras. Contra a corrupção e contra o governo. Fora disso, não vi outra bandeira".
Para ele, o Congresso está mais preparado que a presidente para dialogar e entender o pedido "das ruas". Isso porque ela nunca teve um cargo parlamentar e há um distanciamento entre ela e o povo, justamente pelo cargo que ela ocupa hoje.
A respeito dos pedidos de intervenção militar, Cunha foi contundente. "Conservador não é defender a intervenção militar. Isso é golpista".
Contra a "ditadura da minoria" e com posição conservadora
Em um dos momentos polêmicos do programa, Cunha disse que "a minoria deve se submeter ao papel de minoria" no Congresso.
"Não dá para ter ditadura da minoria. Uma coisa é respeitar direitos. Os direitos de minoria são estabelecidos claramente, mas eu não posso permitir que a minoria paute a maioria. A minoria deve se submeter ao papel de minoria", afirmou.
Nas redes sociais, muitas pessoas interpretaram a frase como se o contexto fosse aplicado à sociedade também. Em um momento da entrevista, Cunha ressaltou "isso para o Congresso".
Além disso, o deputado se posicionou novamente contra o aborto e contra a adoção de crianças por casais homossexuais.
"Eu tenho que me preocupar com a vida do indefeso, do feto. Uma coisa é atentar contra a vida de quem pode se defender, outra é atentar contra a vida de quem não pode se defender", afirmou. "Se você tirar a tipificação, você vai estimular a prática de aborto, sim".
Por fim, se mostrou contra a regulação da mídia. "Sou absolutamente contrário a qualquer tipo de regulação de mídia. E digo mais, isso é bandeira do PMDB", disse.
Fonte: TVCultura/Terra