POLICIA
Defesa diz que assassino do ex-governador Camata está arrependido
Em nota, os advogados contam a trajetória do ex-assessor e do ex-governador.
Em 08/01/2019 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Os advogados de defesa de Marcos Venicio Moreira Andrade, preso por ter confessado ter atirado e matado o ex-governador do Espírito Santo Gerson Camata, divulgaram uma nota à imprensa nesta segunda-feira (7), em que manifestam o arrependimento do cliente e também pedem um julgamento justo para o caso.
O G1 também procurou a defesa da família de Camata para se manifestar sobre a nota emitida. Para os advogados, a divulgação da nota da defesa de Marcos Venicio demonstra uma "postura desesperada. Numa clara tentativa de travestir os fatos narrados na denúncia".
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Na nota da defesa do ex-assessor, os advogados contam a trajetória do Marcos e Camata juntos e sobre as denúncias feitas. Também pedem que Marcos Venicio "tenha um julgamento justo e não um 'justiçamento' público."
Morte
O assassinato aconteceu em uma rua movimentada do bairro Praia do Canto, em Vitória, no dia 26 de dezembro de 2018. Marcos Venício Moreira Andrade, de 66 anos, confessou o crime e foi preso a 100 metros do local. A arma usada não tinha registro e foi apreendida. A defesa de Marcos não quis comentar o caso.
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“O assessor foi tirar satisfação ao encontrar Gerson Camata na rua, na calçada, próximo a uma banca de revista e a uma padaria. Neste encontro, iniciou uma discussão verbal, onde o assessor sacou a arma e efetuou o disparo contra o ex-governador”, explicou o secretário estadual de Segurança Pública, Nylton Rodrigues.
Depois de ser baleado, Camata ficou caído na calçada. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado, mas ele não resistiu. Depois da perícia da Polícia Civil, o corpo foi levado ao Departamento Médico Legal (DML) de Vitória e foi liberado no final da noite de quarta-feira (26).
Briga na Justiça
Marcos Andrade trabalhou como assessor de Gerson Camata por quase 20 anos. Em 2009, contudo, a relação entre eles ficou comprometida quando Marcos denunciou um suposto crime de caixa 2 cometido por Camata ao jornal "O Globo".
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Em entrevista, Marcos afirmou que Camata recebia mesadas de empreiteiras, apresentava recibos falsos de contas eleitorais e obrigava funcionários a pagar, com salários do Senado, suas despesas pessoais. Na época, ele apresentou documentos e anotações para comprovar a denúncia.
Gerson Camata negou as acusações à época. Ele afirmava que Marcos sofria de problemas psicológicos e que suas acusações não deveriam ser levadas em consideração.
O ex-governador processou Marcos por danos morais por conta das denúncias. Uma ação foi movida na Justiça do Espírito Santo e na do Distrito Federal.
Foi o juiz do Distrito Federal, Leandro Borges de Figueiredo, que decidiu pela condenação do ex-assessor em 9 de abril de 2012. Marcos foi condenado uma pagar indenização de R$ 50 mil, além de honorários e custas processuais.
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O ex-assessor recorreu em instâncias superiores, ao longo dos anos, mas sem sucesso. O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, Nylton Rodrigues, disse que houve um bloqueio de R$ 60 mil na conta de Marcos para que ele pagasse a indenização em janeiro de 2018.
Sobre as investigações da denúncia de caixa 2, as denúncias publicadas em "O Globo" foram submetidas, ainda em 2009, à Procuradoria Geral da República e à Corregedoria do Senado (onde Camata exercia mandato na época). Nos dois casos, ficou entendido que as acusações não tinham lastro e foram arquivadas.
Trajetória de Camata
Camata foi governador do Espírito Santo entre 1982 e 1986, exerceu três mandatos como senador, de 1987 até 2011. Ele ainda foi vereador de Vitória, deputado estadual e deputado federal.
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Gerson Camata nasceu em Castelo, no sul do Espírito Santo, em 1941. Começou a vida profissional como jornalista e apresentador no programa Ronda Da Cidade, na Rádio Cidade de Vitória. Era formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Vitória.
Camata começou na vida pública como vereador da capital do Espírito Santo em 1967, no mandato seguinte, em 1971, foi eleito Deputado Estadual. Foi Deputado Federal por dois mandatos, de 1975 a 1983, governador do Espírito Santo em 1983 e foi por três vezes senador pelo estado, de 1987 até 2011.
Em 1999, foi autor do projeto de lei que deu origem ao Estatudo do Desarmamento. Camata também foi senador constituinte.
Camata foi o primeiro governador democraticamente eleito depois da Ditadura Militar, no período de reabertura política.
Gerson era casado com Rita Camata, ex-deputada federal. Ele deixa dois filhos.
Confira a nota na íntegra:
Gostaríamos, primeiramente, de externar toda a tristeza e arrependimento do senhor Marcos Venicio com o fatídico ocorrido ao ex-senador da República Gerson Camata, bem como pelo sofrimento causado aos familiares e a todo o Estado do Espírito Santo.
É inegável a dor sofrida com a perda de um ser humano, nesse caso, em específico, com a perda da uma pessoa pública, bastante expressiva, que deixou um enorme legado para o povo capixaba.
Contudo, é preciso que o processo se atenha às evidências para não deixar que o sentimento de revolta o contamine e que se condene previamente quem quer que seja. Todo indivíduo tem direito a um julgamento justo, que resguarde direitos e garantias constitucionais, o que não poderá ser diferente no presente caso em destaque.
O marco inicial da amizade e relacionamento entre Gerson Camata e Marcos Venicio se deu na eleição de Camata para o governo do Estado do Espírito Santo, em 1982. Por sua honestidade e caráter, Marcos recebeu a confiança de Camata e passou a ser o responsável por toda a parte financeira das campanhas eleitorais.
Ele teve acesso à intimidade do então governador, assim como aos valores recebidos e pagos durante os 20 anos em que prestou serviços para o ex-senador. Além de desempenhar a função de assessor parlamentar, era assessor para assuntos particulares de Camata, tinha chaves de sua casa, fazia pagamentos pessoais, abastecia a residência dele com mantimentos, atendia seus filhos menores sempre que necessário, transportando-os dentro da cidade ou, por vezes, levando-os até seus familiares no interior. Além disso, realizava pagamentos de funcionários domésticos, entre outros, havendo, assim, mais do que que uma relação de trabalho entre eles.
Em 2003, Marcos passou a presidir o Banestes Seguros, cargo que ocupou até o final de 2005, quando à frente da seguradora, sua personalidade honesta e correta, acabou colidindo com alguns pedidos não muito éticos e, por fim, com uma solicitação de um importante político do nosso Estado para pagamento do sinistro de seu carro, uma vez que a seguradora havia negado.
Ao manter a negativa de pagamento e não atender ao pedido do conhecido político, por coincidência, mesmo com excelente desempenho à frente da seguradora, sua carreira foi interrompida por uma súbita exoneração imotivada.
Marcos, aos 53 anos, se viu desempregado. A partir daí, as portas do meio político se fecharam, simplesmente por ter sido honesto. As portas foram fechadas inclusive pelo ex-senador Camata, quando se rompeu a relação de amizade.
Além do emprego, Marcos perdeu o amigo, a quem considerava um irmão. A dor profunda e o sentimento de abandono o abateram, dando início a um verdadeiro calvário. Marcos entrou em depressão profunda entre os anos de 2006-2009, quando fez as primeiras denúncias relacionadas ao Camata.
Em 2009, ainda bastante magoado, revelou supostos desfalques nos caixas de campanha do ex-senador e diversos pagamentos que teriam sido feitos com as sobras das campanhas a parentes dele e de sua esposa, de modo a não devolvê-las ao partido.
Até onde se sabe, as denúncias foram dadas como infundadas, apesar de Marcos ter apresentado vários documentos que as comprovassem. Nesse contexto, foram quase 10 anos de sofrimento e angústias, que culminaram com o descontrole emocional visível do último dia 26/12. Laudos médicos e o testemunho de amigos comprovarão a gangorra emocional que ele viveu por anos, entrando e saindo de crises depressivas recheadas de remédios para ansiedade e depressão, alterações de humor, comportamento bipolar e esquizofrenia.
O motivo apresentado pela acusação não justifica o homicídio mas, para análise adequada do fato ocorrido, é fundamental que se respeite e entenda a linha histórica dos fatos narrados. O que se clama agora é por um julgamento justo, por um inquérito decente, em que o sensacionalismo e o clamor popular não tenham espaço.
Destaca-se que Marcos mora na Praia do Canto e o local onde o fato aconteceu é frequentado por ele todos os dias, há muitos anos, mantendo o hábito de fazer suas refeições e comparecer diariamente na padaria local. Ele possui uma conta na banca de revista da esquina e encontra com amigos e comerciantes daquela região diariamente, sendo conhecido e querido por todos, o que não foi apurado nem veiculado pela mídia.
Marcos - conhecido por todos, carinhosamente, como “Marquinhos” -, nunca respondeu a processo criminal de qualquer natureza que fosse.
Infelizmente, o Relatório Final do Inquérito Policial, que serviu de base para o Ministério Público oferecer a denúncia, foi consubstanciado somente por elementos recentes e depoimentos de testemunhas que presenciaram o fato, não apurando e levando em consideração o contexto histórico que alimentou desentendimentos mútuos.
Prova e convicção não são sinônimos. A convicção processual depende de provas que estejam dentro do processo e que não sejam apenas presunções, principalmente, quando essas convicções são internas de quem julga ou investiga. Ainda mais quando se trata de uma vítima com tanta notoriedade e respeito, em um caso amplamente midiático e de grande clamor público.
Por fim, Marcos nem mesmo imaginava que Gerson Camata tinha vindo a óbito, tomando conhecimento da gravidade da situação e do seu falecimento através de seus advogados, já na delegacia.
O que de fato defendemos é a garantia da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal, para que Marcos Venicio Moreira Andrade tenha um julgamento justo e não um “justiçamento” público.
Acreditamos sempre no Poder Judiciário do ES.
VITORIA/ES, 07 de janeiro de 2019.
LAYLA FREITAS
OAB/ES
JÚNIA KARLA PASSOS RUTOWITSCH RODRIGUES
OAB/ES 20.321
ZACARIAS FERNANDES MOÇA
OAB/ES
Defesa da família de Camata
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"Os advogados Ludgero Liberato e Renan Sales, que representam a família Camata como assistentes de acusação, elogiaram o brilhante trabalho realizado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público, por realizarem investigação técnica, profunda e que retrata fielmente a injusta, torpe, gratuita e covarde agressão sofrida pelo ex-governador Gerson Camata que o levou à morte. Os advogados informaram, ainda, que alegações de distúrbios devem ser alegadas e provadas pela defesa, no momento processual próprio, ocasião em que serão rechaçadas, por não retratarem a verdade. Afirmaram, por fim, que a nota demonstra postura desesperada, numa clara tentativa de travestir os fatos narrados na denúncia deflagrada pelo MPES."