CIDADE
"Dia do Bolinho de Aipim" é criado e divide opiniões em Guarapari, ES
Nas redes sociais, assunto virou polêmica entre moradores da cidade.
Em 04/09/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Aprovado por unanimidade na Câmara de Vereadores e sancionado pelo prefeito, o projeto de lei que institui o ‘Dia do Bolinho de Aipim’ em 12 de outubro está dividindo opiniões no município de Guarapari, litoral do Espírito Santo. De um lado, o autor do projeto e a prefeitura defendem a iniciativa como uma forma de valorizar o turismo na região. De outro, moradores questionam a necessidade da lei e as prioridades das pautas no legislativo municipal.
O projeto, de autoria do vereador Marcial Souza Almeida (SDD), mais conhecido como Dito, foi votado no dia 20 de maio e sancionado pelo prefeito Orly Gomes (DEM) no dia 19 de junho deste ano. No entanto, o assunto ganhou repercussão nas redes sociais nos últimos dias e já é considerado “polêmico” até na prefeitura e no Gabinete do vereador autor da ideia.
O projeto
O autor do projeto explicou que a criação da lei está associada à organização de um evento gastronômico.
“Quando propus este projeto, vislumbrei, a médio prazo, um futuro evento gastronômico em nosso município, com o intuito de promover a culinária local. Como no município de Vitória já existe o PL que institui o Dia da Moqueca, escolhi o bolinho de aipim por se tratar de uma iguaria que torna nossa cidade conhecida na região e fora dela”, disse Dito.
De acordo com ele, o projeto foi estudado e até a data escolhida foi pensado como forma de alavancar o turismo local.
“A escolha da data (12 de outubro) se deu por conta de ser um período em que a cidade está cheia, em virtude da semana do saco cheio em Minas Gerais e do feriado de 12 de Outubro”, explicou o vereador.
Dito ainda pediu que a população conheça melhor o projeto e o apoie. “Peço à todos que se inteirem acerca deste projeto e o abracem. São iniciativas como estas, ‘bobas, vazias e sem importância’ à primeira vista, que tem capacidade e fundamentos para alavancar o progresso de nosso município”, finalizou.
Prefeitura
Procurada pelo G1, a prefeitura de Guarapari enviou uma nota esclarecendo alguns pontos sobre a lei.
De acordo com o texto, a Lei “trata de valorizar um ícone da culinária local de Guarapari, destacando-o com um dia especial para ser comemorado oficialmente” e “visa contribuir para a pauta do turismo gastronômico da cidade, tornando o município ainda mais conhecido e desejado como destino turístico do Brasil”.
A prefeitura destacou que o Bolinho de Aipim da Zezé, comercializado em Meaípe, é um patrimônio gastronômico da cidade, reconhecido e premiado nacionalmente. A administração municipal também enfatizou que o projeto não anula outras ideias tão ou mais importantes a serem sugeridas e colocadas em prática.
“Não se trata de ter ou não projetos mais importantes a serem propostos pela Câmara ou pelo Executivo. Trata-se de um projeto que também tem o seu valor sociocultural para o município. Em momento algum esse foi um trâmite que ocupou a pauta do Legislativo ou do Executivo, em detrimento de outras prioridades. Como é de conhecimento público, a demanda de projetos é diária, os debates são diários e esse foi apenas mais um item de pauta”, diz a nota enviada à imprensa.
A prefeitura também lembrou que outros municípios capixabas já tornaram tradicionais as festividades em torno de comidas típicas locais, como a Festa da Banana e do Leite, a Festa da Uva e do Vinho, a Festa do Inhame, o Festival do Morango, o Festival de Frutos do Mar, entre outros.
Opiniões
Nas redes sociais, principalmente em grupos do Facebook que reúnem moradores guaraparienses, o assunto tornou-se pauta de discussão. Grande parte das opiniões são contrárias à instauração de uma lei que cria uma data a ser comemorada. Um internauta chegou a citar as “pérolas legislativas” do município.
“A sensação que temos com a administração municipal é que tudo está a mil maravilhas. Ao invés de se preocuparam com bobagem, deveriam colocar a mão na massa para colocar as câmeras de vídeomonitoramento para funcionar, organizar e fiscalizar nosso trânsito, propor melhorias salariais aos professores, melhorar nossa estrutura de saúde e principal propor leis para diminuir os salários e benefícios do nosso executivo e legislativo.”, opinou o empresário Alexandre Rauta.
Para a advogada Otília Brandão, a novidade pode fortalecer o turismo regional, mas o município precisa ter um lugar apropriado para a realização de eventos.
"Não sou nem tão contra, nem tão a favor. Isso, porque criando esse dia, estarão divulgando uma parte da culinária de Guarapari já tão conhecida por muitos em outros estados. A Lei vai fomentar ainda mais o turismo daquela região, pensando pelo lado culinário. Agora, o que devemos nos preocupar é com a maneira em que vão divulgar a data, já que entra para o calendário municipal. Aqui não temos sequer um lugar público reservado para grandes festas regionais", falou.
“Existir um Dia do Bolinho de Aipim, no fim das contas, é irrelevante. O que é necessário de fato é termos um projeto de governança, o que infelizmente não parece existir em Guarapari. Sob o discurso de crise, inventam o Dia do Aipim, mas cancelam a festa da cidade para depois voltarem atrás sob um formato engessado que não traz desenvolvimento cultural algum à cidade”, disse o professor e produtor cultural Bruno de Deus e Magnago.
"Oi? Como assim Dia do Bolinho de Aipim? Pagar conta do INSS pra não fechar, não paga né? Asfaltar rua, não asfalta né? E Creche, ta faltando ai pessoal? Ahhhh.. e o povo que ta sendo despejado? Acho tudo isso um pouca vergonha! Tanta coisa pra fazer, tanta coisa pra se preocupar, tanta coisa pra resolver e vem querer instituir Dia do Bolinho?", escreveu o universitário Gustavo Nascimento em seu perfil do Facebook.
Fonte: G1-ES