POLÍTICA INTERNACIONAL

Eleições legislativas no Haiti têm incidentes e baixa participação.

Segundo estimativas de Opont, 290 mil eleitores não puderam votar.

Em 10/08/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O Haiti retomou a ordem constitucional, ao organizar neste domingo (9) as primeiras eleições legislativas desde 2011, mas a consulta foi marcada por vários incidentes, alguns violentos, atrasos na abertura dos locais de votação e baixa participação.

Os centros de votação abriram às 6h locais, mas, na capital, muitos eleitores tiveram que esperar mais de uma hora para que os mesários terminassem os preparativos para a votação. O atraso também foi registrado em cidades do interior.

Segundo autoridades, por este motivo, algumas seções fecharam depois das 16h00 locais (17h00 de Brasília), horário previsto para o fim da votação.

O Conselho Eleitoral Provisório (CEP) declarou-se, na noite deste domingo, "satisfeito em termos gerais", embora tenha admitido que incidentes e atos de sabotagem afetaram o primeiro turno das legislativas.

Pierre Louis Opont, presidente do CEP, explicou em coletiva de imprensa que "4% dos centros de votação foram afetados por atos de violência" que forçaram seu fechamento antes do horário previsto.

Segundo estimativas de Opont, 290 mil eleitores não puderam votar.

Antes da quarta-feira (12), o CEP decidirá se vai organizar uma nova votação nos locais afetados.

Após se negar a dar uma estimativa sobre a taxa de participação, Opont admitiu que "não houve aglomeração" de eleitores nos centros de votação. Ele tampouco deu um balanço dos atos de violência que ofuscaram este dia de votação.

Três centros teriam sido incendiados em Savanette (centro), segundo a presidente do partido opositor Fusion, Edmonte Supplice Beauzile.

Esta é a primeira eleição desde 2011, devido à profunda crise entre o presidente Michel Martelly e a oposição.

O país mais pobre das Américas tem uma história de instabilidade crônica e ainda luta para se recuperar do terremoto de 2010. O desastre matou mais de 250.000 pessoas e destruiu grande parte da infraestrutura do Haiti.

Agora, com quatro anos de atraso, os 5,8 milhões de eleitores, de uma população de 10,3 milhões, são convidados a escolher os novos deputados e a renovar dois terços do Senado.

Mas o grande número de candidatos - um total de 1.855 -, que aspiram a 139 cadeiras no parlamento, somado à onda de violência que marcou a campanha política e ao baixo comparecimento, representa um desafio.

"Apesar dos incidentes em alguns centros de votação, em geral, os problemas se corrigem", disse à AFP a chefe da missão de observação eleitoral da União Europeia, Elena Valenciano.

Após constatar a fraca participação, ela indicou que "é necessário fazer um chamado aos haitianos para que exerçam seu direito ao voto, para saber, de uma vez por todas, que futuro querem para seu país".

Três seções eleitorais foram saqueadas durante a manhã na capital, Porto Príncipe. Urnas foram jogadas na rua e cédulas de votação, rasgadas por desconhecidos.

"Entraram e gritaram que as eleições eram manipuladas pelo poder", contou o mesário Dieunel. "Abriram as urnas e rasgaram os envelopes com os votos. Outros, do lado de fora, atiravam garrafas e pedras contra nós. Não pudemos fazer nada, estamos trabalhando, não estamos aqui para arriscar nossas vidas", lamentou o jovem.

O porta-voz da Polícia Nacional do Hatiti, Frantz Lerebours, indicou que, na metade do dia, 26 seções eleitorais em todo o país já haviam fechado, devido a incidentes violentos em seu interior ou nos arredores.

Ante o temor de episódios de violência, a polícia nacional mobilizou mais de 7 mil agentes em todo o país, e a Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah) estava pronta para prestar apoio.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, incentivou os haitianos a votar neste sábado.

"Estas eleições, tão esperadas, constituem uma grande etapa para a democracia no Haiti", declarou Ban em um comunicado, pedindo "eleições confiáveis, inclusivas e transparentes".

Mas, segundo pesquisas pré-eleitorais, a participação dificilmente irá superar os 15%. No segundo turno das presidenciais de 2011, ela foi menor do que 25%.

"O comparecimento às urnas, principalmente quando se trata de eleições legislativas, é muito baixo", reconheceu o chefe da missão de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Enrique Castillo Barrantes. "Temos uma certa esperança de que o nível aumente um pouco. Esperamos chegar, pelo menos, a 20%".

Os candidatos e os partidos, que investiram muito dinheiro na campanha, também desejam um comparecimento maior do que o habitual.

Com a votação deste domingo, o Haiti dá início a um longo processo eleitoral, que terminará em dezembro, com o segundo turno das eleições presidenciais.