ECONOMIA NACIONAL
Empresas de mineração lutam para sobreviver em meio a grave crise.
Empresas continuam aumentando produção mesmo com superoferta.
Em 27/12/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
As empresas de mineração lutam pela sobrevivência depois de um ano de forte queda dos preços das matérias-primas e de sobreoferta, que poderiam provocar novos fechamentos em 2016.
A avidez tradicional da China pelas commodities diminuiu e o consumo interno está se tornando o motor do crescimento da segunda economia mundial, em detrimento dos investimentos maciços.
Paralelamente, as grandes empresas mineradoras continuam aumentando sua produção – acentuando a derrubada dos preços – e são acusadas de querer, com esta política, tirar definitivamente do jogo concorrentes de menor porte.
O preço do minério de ferro – usado para fabricar aço – despencou abaixo dos 40 dólares a tonelada no começo de dezembro, seu nível mais baixo desde maio de 2009; o preço do carvão térmico caiu 80% com relação ao seu ápice em 2008 e a cotação do barril do petróleo está em seu mínimo em oito anos.
Estas depreciações tiveram um grave impacto na atividade mineradora em todo o mundo, empurrando para o precipício os menores atores e erodindo orçamentos governamentais das economias mais dependentes de recursos naturais, como a da Austrália.
Menos investimentos
No Chile, primeiro produtor mundial de cobre, os investimentos estrangeiros diretos, concentrados principalmente no setor de mineração, caíram 10% entre janeiro e agosto, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Até mesmo grandes nomes do setor, como a Anglo-American, cotada na bolsa de Londres, tiveram que cortar sua planilha em quase dois terços e fechar minas deficitárias.
A gigante suíça Glencore planeja cortar sua dívida reduzindo os investimentos e vendendo ativos. Em outubro, pôs à venda a mina de cobre Lomas Bayas, no Chile, e a de Cobar, na Austrália.
"Só é preciso olhar qualquer preço da ação para saber que foi um ano traumático para os mercados de matérias-primas e para as empresas mineradoras", disse à AFP Andrew Driscoll, chefe de pesquisas de recursos da CLSA.
Ressaca depois da festa
A queda marca o fim de um superciclo das commodities ao longo da última década, liderado pela China, mas também impulsionado pela forte demanda de outras economias em desenvolvimento com rápido crescimento.
Segundo analistas, as mineradoras pediram empréstimos demais e superestimaram o crescimento da demanda. "Aumentaram muito sua capacidade de produção e agora temos excedentes em cada commodity", afirmou Daniel Morgan, analista do setor no banco UBS.
"Acho que é, sem dúvida, um dos anos mais difíceis que a indústria mineradora já enfrentou", acrescentou, comparando a situação à da crise financeira de 2007-2008, à da crise financeira asiática de 1997 e, inclusive, à registrada após a queda da União Soviética, em 1991.
O banco Goldman Sachs avaliou na semana passada que o setor do minério de ferro necessitava "hibernar durante um longo período", prevendo que os preços se manteriam abaixo dos US$ 40 durante três anos.
A Agência Internacional de Energia (AIE) assegurou, em meados de dezembro, que a produção energética mundial poderia estar saindo da idade do carvão, devido à menor demanda chinesa e ao auge das energias renováveis como alternativas a este combustível fóssil extremamente poluente.
A Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) decidiu este mês manter inalterados seus limites de produção, apesar dos apelos de países como a Venezuela para reduzi-los, a fim de apoiar os preços do petróleo, que estão em seus níveis mais baixos em anos.
"Tivemos uma grande festa de 2011 a 2015, e agora, sentimos a ressaca", disse Mark Gordon, analista da Breakaway Research.
Mais fechamentos e redução de custos
Com uma demanda que deveria seguir a tendência da economia chinesa à desaceleração, haverá ajustes do lado da oferta, segundo analistas, para os quais as mineradoras demoraram demais para conter sua produção.
A adaptação deveria, por isso, se acelerar no ano que vem, com novos fechamentos, de forma a restabelecer um equilíbrio entre oferta e demanda.
"Há sinal de luz no fim do túnel, mas se você é um produtor de alto custo, se tem muitas dívidas, então, as coisas continuarão sendo muito difíceis", avalia Driscoll.
Fonte: AFP