ECONOMIA INTERNACIONAL
Epidemia de coronavírus ameaça economia da China
As repercussões poderiam chegar a outros lugares da Ásia.
Em 27/01/2020 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
A epidemia de coronavírus gerou drásticas restrições ao tráfego, uma paralisia do turismo e queda do consumo, e ameaça agravar a desaceleração da economia chinesa, já fragilizada, como ocorreu no trauma da Sars, em 2003.
Para conter o vírus, que contaminou mais de 2.000 pessoas e causou em torno de 80 mortos, Pequim adotou medidas de confinamento sem precedentes, o que pode ser devastador para a atividade econômica.
A metrópole de Wuhan, berço do vírus, está de fato cortada do mundo, assim como quase toda a província central de Hubei, a que pertence.
E, para restringir a influência sobre os transportes em plenas festividades do Ano Novo chinês, o governo suspendeu nesta segunda-feira as viagens organizadas na China e para o exterior, um duro golpe para o turismo, peso-pesado da economia com 11% do PIB em 2018 segundo cifras oficiais.
Trip.com, o gigante chinês das reservas de viagens on-line, e que deseja se lançar na Bolsa em Hong Kong, viu como sua ação caía em Wall Street cerca de 18% em quatro sessões.
As repercussões poderiam chegar a outros lugares da Ásia, do Japão à Tailândia, onde os gastos dos turistas chineses são motor econômico crucial.
Pânico de consumidores
O consumo também pode ser prejudicado: um clima de pânico impulsiona os chineses a permanecer em suas casas, longe dos centros comerciais e restaurantes, geralmente cheios nas festividades de Ano Novo.
Os gastos de consumo, especialmente em transporte e diversão, caíram 10% e o crescimento do PIB da China pode cair em cerca de 1,2 ponto, segundo a agência Standard & Poor’s.
“Os consumidores vão evitar provavelmente os lugares públicos”, e “os setores que dependem dos gastos das famílias serão os mais afetados”, segundo essa agência.
Isso agravará a desaceleração econômica: o crescimento chinês registrou no ano passado seu pior desempenho em 30 anos (+6,1%), e Pequim contava com o consumo para resistir a essa tendência.
O espectro do vírus da Sars (Síndrome Respiratória Aguda Severa) que em 2002-2003 deixou 349 mortos na China continental está na memória de todos.
“No pior momento, em maio de 2003, o tráfego de passageiros (em todo tipo de transportes) caiu 50% em cifras anuais, e o crescimento das vendas do varejo caiu pela metade em poucos meses”, lembra Julian Evans-Pritchard, da Capital Economics.
Impacto econômico
Como “os gastos na capital das empresas são muito sensíveis à demanda, um retrocesso prolongado do consumo pune os investimentos”, adverte a S&P.
O coronavírus “pode ter um forte impacto econômico, mas de curta duração”, como ocorreu com a Sars, antecipa Tommy Wu, da Oxford Economics.
Segundo ele, o impacto pode ser “menos severo” do que na época da Sars, porque “agora houve uma resposta mais rápida das autoridades”.
No nível industrial, o status de Wuhan – de “hub logístico” e centro de produção de automóveis – “complica mais a situação”, destaca a S&P.
Wuhan é a base da Dongfeng, segunda fabricante automotiva chinesa. As francesas Renault e PSA têm uma parceria com a Dongfeng, com fábricas instaladas na região.
A cidade produziu 1,7 milhão de veículos em 2018 e o setor automotivo gera um volume de negócios anual de mais de 58 bilhões de dólares, segundo a imprensa local.
Fora de Hubei, as empresas também foram afetadas pelas consequências da epidemia. Por exemplo, pediram às empresas de Xangai para que não retomem suas atividades antes de 9 de fevereiro, segundo um anúncio de autoridades municipais. (AFP)