EDUCAÇÃO
Estudantes quilombolas discutem sobre o racismo no Brasil
Cinco alunos oriundos do Quilombo Pedra Branca leem e discutem uma obra de Lima Barreto.
Em 06/02/2025 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Por meio de parceria entre o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) e a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Presidente Lüebke, de Vargem Alta (ES), cinco estudantes participam do projeto de Iniciação Científica Júnior da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).
Discutir questões sobre o racismo no Brasil por meio da Literatura: esta é a proposta do projeto de Iniciação Científica Júnior “Vila Quilombo: trilhas literárias antirracistas sob a perspectiva de Lima Barreto”, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e realizado pelo Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes).
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No projeto, cinco alunos oriundos do Quilombo Pedra Branca, estudantes do Ensino Médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Presidente Lüebke, em Vargem Alta (ES), se reúnem quinzenalmente com a tutora do projeto para realizar a leitura e a discussão de uma obra de Lima Barreto, quando são incentivados, ainda, a fazer registros em seus diários de bordo, relatando suas percepções sobre as obras e as respostas às questões propostas. Os encontros aconteceram entre junho e dezembro do ano passado, nos quais foram realizadas as leituras e discussões dos seguintes textos do autor carioca: “Um especialista”, “O pecado”, “Clara dos Anjos” (conto), “Maio”, “O moleque” e “Sua excelência”.
Eventos na comunidade
Além das discussões na escola, os alunos têm participado de eventos na comunidade. No ano passado, em 15 e 16 de maio, eles estiveram presentes na feira “Conexão Digital de Inovação Agro”, em Vargem Alta, onde puderam compartilhar com quem passou pelo evento a proposta do projeto, que estava em fase inicial, apresentando, ainda, dados sobre o racismo no Brasil e no Espírito Santo, como forma de justificar a relevância do trabalho que seria desenvolvido.
Em 10 de outubro, foi a vez do grupo promover uma roda de leitura e discussão da crônica “Maio”, durante a “Literalta - Festa Literária de Vargem Alta”. No dia 21 de novembro, os alunos participaram da “Mostra dos resultados finais dos projetos de Iniciação Científica Júnior da Fapes” (PicJr 2024), no campus de Alegre da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde puderam compartilhar informações sobre o projeto e as obras estudadas.
Companheira desde cedo
Para Paulo Henrique Damazio Paulino, 17 anos, aluno que vai iniciar o 3º ano do Ensino Médio e participante do projeto, a leitura tem sido sua companheira desde cedo.
“Sempre fui apaixonado por ler desde criança, principalmente quando se trata de livros de ficção e ação.”
Com o sonho de cursar Letras/Inglês quando sair da escola, Paulo Henrique acredita que o projeto tem contribuído muito para seu desenvolvimento pessoal e para mudar a visão que sempre teve das produções nacionais.
“Sempre tive muito interesse no idioma inglês, por conta de músicas, filmes e séries, e por isso penso em cursar Letras/Inglês. Mas participar do projeto e ler os contos de Lima Barreto está me fazendo perder aquela certa ‘síndrome de vira-lata’ muito comum em nosso país, de só valorizar o que vem de fora, e me fazendo enxergar que há muitos livros e contos nacionais que são ótimos.”
Morador de Pedra Branca desde criança, Paulo Henrique conta que se mudou para o quilombo quando tinha 8 anos, após sua família sofrer um roubo em sua antiga casa. Seu pai, natural do quilombo, não conseguiu completar o ensino fundamental pois tinha que trabalhar desde muito cedo para ajudar em casa. Sua mãe também passou pela mesma situação e, hoje, a família sente muito orgulho do filho que está quase se formando e por poder possibilitar o acesso de Paulo à escola.
Objetivos específicos
De acordo com o Doutor em Letras e coordenador do projeto, Raoni Huapaya, os objetivos específicos do projeto incluem a seleção e adaptação de materiais literários, a criação de conteúdos críticos que expliquem referências culturais, históricas e sociais na obra de Lima Barreto, a produção de ferramentas pedagógicas interativas para estimular a reflexão crítica, a implementação de estratégias de ensino-aprendizagem integradas ao currículo escolar e a avaliação do impacto na compreensão crítica dos estudantes.
“Além disso, ao valorizar e disseminar tradições literárias afro-brasileiras e quilombolas, o projeto contribui para o enfrentamento do racismo e a preservação dos saberes ancestrais, alinhando-se também a princípios de igualdade e sustentabilidade social.”
Para este ano de 2025, a proposta é de que os alunos continuem sua formação literária, estudando obras de outros de autores que abordam a temática antirracista, como Lima Barreto, Conceição Evaristo, Itamar Vieira Jr., Carolina Maria de Jesus, Jeferson Tenório, Ana Maria Gonçalves, Paulo Lins, entre outros.
Aprovada em Direito
Outra novidade relacionada ao projeto é a aprovação da estudante Lyara Vicente da Silva, 17 anos, participante do Vila Quilombo, no curso de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
A jovem conta que, desde nova, sempre sonhou em estudar Direito e lutar para fazer a diferença na vida das pessoas. Ela acrescenta que o projeto Vila Quilombo também teve um papel fundamental em sua jornada.
“Através dele, eu pude desenvolver habilidades importantes, como liderança e trabalho em equipe, e contribuir para a promoção da igualdade racial e da preservação da cultura afro-brasileira. O Vila Quilombo me deu a oportunidade de aprender e crescer, e me ajudou a entender a importância de lutar por uma sociedade mais justa.”
Orgulhosa, a moradora do Quilombo Pedra Branca explica que a aprovação na universidade pública é uma conquista muito importante, tanto para ela quanto para a sua comunidade.
“Meus planos são continuar no projeto Vila Quilombo e ajudar as pessoas da minha comunidade, utilizando meus conhecimentos em Direito para defender os direitos e interesses da nossa comunidade. Quero contribuir para o desenvolvimento e a justiça social da minha comunidade, e estou ansiosa para começar essa jornada.” (Por Gabrielle Tallon/AsImp)
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