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Estudo demarca novo limite entre Espírito Santo e Minas Gerais

Os limites territoriais entre Espírito Santo e Minas Gerais finalmente foram demarcados.

Em 29/07/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Os limites territoriais entre Espírito Santo e Minas Gerais finalmente foram demarcados. O novo mapa está sendo redesenhado pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (IDAF), em parceria com o Instituto de Geoinformação e Tecnologia de Minas Gerais (IGTEC), e põe fim às discussões que deram origem à Guerra do Contestado, mais de 70 anos.
 
No Espírito Santo, os trabalhos foram conduzidos pelos técnicos do Departamento de Terras e Cartografia (DTCAR) do Idaf. “O que fizemos foi utilizar as ferramentas cartográficas modernas vigentes para refazer o limite do Estado. Fizemos demarcações precisas, utilizando ortofotografias, as cartas atuais e a legislação estabelecida. Depois das visitas a campo, confrontamos as informações com os dados colhidos em Minas Gerais”, disse Robson de Almeida Britto, chefe do DTCAR.
 
A adequada delimitação do traçado entre os estados traz uma série de benefícios. As informações relacionadas à localização de imóveis, por exemplo, serão mais exatas. Também serão facilitadas as atividades pertinentes às administrações públicas, como o cadastro de propriedades rurais e a emissão de documentos e certificações. O limite preciso implica, ainda, na redistribuição de participação financeira da União para os estados e dos estados para os municípios. Além disso, o traçado unificado deve garantir mais precisão aos levantamentos censitários feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 
 
Britto ressalta que, no Espírito Santo, praticamente não houve mudança em relação aos limites territoriais existentes. “Foram apenas alguns acertos de linha, mas os dados são irrisórios. Com o Rio de Janeiro, por exemplo, o limite do Estado é o Rio Itabapoana, e houve uma retificação do leito do rio na calha final. Aqueles meandros que existiam viraram uma linha reta, e foi necessário acertar esse desenho”, pontuou
 
O relatório com as inconsistências encontradas durante os trabalhos será encaminhado ao IBGE, responsável no país pelos limites estaduais. “A única pendência é o município de Dores do Rio Preto, que deve ficar pronto até setembro. Assim que os dados forem homologados pelo IBGE e os limites inseridos no sistema cartográfico nacional, teremos um novo mapa”, finalizou Britto.
 
Guerra do Contestado
 
Nas décadas de 1930 e 1940, Espírito Santo e Minas Gerais empreenderam uma disputa territorial na Serra de Aimorés. No local os ânimos ficaram acirrados e, nessas terras consideradas “sem lei”, as relações entre grileiros, posseiros e fazendeiros resultaram em episódios violentos. Surge então Udelino Alves de Matos, figura envolvida na religiosidade e no misticismo, que idealizou a criação de um novo Estado abrangendo terras das cidades capixabas de Montanha, Pinheiros, Ecoporanga, Água Doce do Norte e Mucurici e mineiras de Carlos Chagas, Nanuque, Mantena e Ataleia. Denominado de “União Estado de Jeovah” teve secretariado, bandeira, sede e hino. Ele foi desmantelado por uma ação policial, em 1953.
 
Udelino Alves de Matos era procedente de Alagoinha, na Bahia. Ao chegar à região contestada empregou-se como professor em uma fazenda. Segundo Adilson Vilaça, no livro “Cotaxé: a reinvenção de Canudos”, Udelino era “(...) bem-falante e socorria-se na bíblia para difundir ensinamentos aos desbravadores da terra ainda indomada”. Em suas viagens à Bahia costumava carrear posseiros para o trabalho no local. Conforme afirma: “O rapaz eloquente, enquanto distribuía lotes e apostolava, vislumbrou a ocasião de constituir um estado independente no território”
 
Vilaça explica que a região começou a atrair muitos colonos e teve um crescimento populacional vertiginoso. Porém, a dupla jurisdição trouxe uma marca: a violência ascendente. Diante da situação, relata o autor: “Udelino não tardou em descobrir que havia uma língua para unificar milhares e milhares de deserdados: o dialeto da terra”. Com isso, angariou recursos e esteve na capital do Brasil, o Rio de Janeiro, para solicitar a oficialização do “Estado União de Jeovah”. Cotaxé - distrito de Ecoporanga -foi escolhido como capital.
 
Os governos do Espírito Santo e de Minas Gerais, sob a representação de Jones dos Santos Neves e Juscelino Kubitschek, reagiram energicamente contra 866 homens armados de Udelino. O “Estado União de Jeovah” ruiu e o paradeiro do líder continua um mistério. Em 1963 foi acertada a partilha das terras, encerrando o período de conflitos.
 
“Ao sul do Rio Doce, a demarcação se deu com o trabalho executado pelo Serviço Geográfico do Exército (SGE), na década de 1940. ao norte, foi resolvido com o Acordo do Contestado em 1964, com a edição de uma resolução por parte de Minas Gerais, e com a lei 2.084 por parte do Espírito Santo. Ambas com a mesma redação, descrevendo as divisas entre os estados. O que fizemos agora foi um ajuste fino, que antes ocorriam discordâncias quanto à interpretação de alguns trechos da lei”, acrescentou Vailson Schneider, chefe da Seção de Geografia e Cartografia do Idaf.
 
Fonte:Secom ES