EDUCAÇÃO
Estudo sobre aleitamento materno dá a professor brasileiro prestígio mundial.
O médico epidemiologista César Victora, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Em 06/04/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Ao receber em Toronto o Prêmio Gairdner, mais importante premiação científica do Canadá, o médico epidemiologista César Victora, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), tornou-se um potencial candidato à indicação ao Nobel. Primeiro brasileiro a receber o prêmio canadense, Victora está sendo reconhecido pelas suas pesquisas sobre nutrição materno-infantil, iniciadas nos anos 80, que comprovaram que o aleitamento exclusivo, sem água ou chás, reduz em 14 vezes o risco de morte infantil por diarreia e em 3,6 vezes por doenças respiratórias.
Em 1991, o resultado de suas pesquisas deu origem a uma política de governo no Brasil. O aleitamento exclusivo passou a ser recomendado por organismos internacionais de saúde e voltados para a infância, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), e começou a ser adotado por outros países, especialmente em regiões mais pobres da África e Ásia.
César Victora, 65 anos, é doutor em epidemiologia pela Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Inglaterra. Esta semana, depois de chegar de Bogotá, Colômbia, onde proferiu palestras, ele participa como principal conferencista do Congresso Mundial de Saúde Global, em Washington, Estados Unidos. “Os grandes prêmios científicos, em geral, refletem descobertas feitas 20, 30 até 40 anos antes. É necessário um tempo (uma janela) para que se observe se a descoberta realmente levou benefício para a população”, observou ele, ao explicar por que só agora recebeu a premiação.
“Nosso país é atualmente a maior referência na valorização do leite materno”, disse Victora. Após adotar a recomendação, o país conseguiu reduzir o índice de mortalidade infantil em pelo menos 45%. Segundo o epidemiologista, a prática tem prevenido a morte de 800 mil crianças anualmente em todo o planeta.
“Temos muito ainda o que avançar aqui, mas é muito satisfatório ver essa proposta em manuais emitidos por órgãos de saúde e nas cadernetas de acompanhamento do bebê, além do apoio imprescindível da Sociedade Brasileira de Pediatria, uma forte aliada”, diz.
Do que falta avançar, o professor destacou o tempo concedido à mãe, antes que ela necessite voltar ao trabalho. “Nossa licença maternidade, apesar de ser uma das melhores do mundo, ainda é curta, de apenas quatro meses”, informa. “Ainda por cima, muitas mulheres não contam com carteira assinada, não têm condições de prolongar o aleitamento, já que precisam retornar às suas ocupações informais, como as diaristas e camelôs. É quando entram os chazinhos e sucos, que dependendo das condições de higiene da casa em que a família mora, podem ser focos de bactérias perigosas.”
Entre as ações do Brasil a favor da inciativa, César Victora ressaltou a regulamentação de propagandas de suplementos alimentares, algo ainda muito presente em algumas culturas. No ano passado, o professor participou de um trabalho de revisão da amamentação em todos os continentes. Constataram em nações como a Etiópia e a Nigéria hábitos de dar líquido à criança, ainda que a mãe continue amamentando por muito tempo. Na China, uma peculiaridade chamou a atenção e mereceu um estudo mais aprofundado. Não existem restrições à publicidade de leite em pó. No próprio hospital onde ocorre o parto os pais chegam a receber amostras grátis do produto.
(Foto: Daniela Xu)