POLÍTICA INTERNACIONAL

Ex-vice do Zimbábue pede renúncia de presidente após ação militar

Expulsão de Emmerson Mnangagwa provocou a intervenção das Forças Armadas.

Em 21/11/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O ex-vice-presidente do Zimbábue Emmerson Mnangagwa, destituído há duas semanas, pediu nesta terça-feira (21) ao presidente Robert Mugabe que renuncie e assegurou que não retornará a seu país até que sua segurança esteja garantida.

Na segunda-feira (20), o prazo dado pelo seu partido, Zanu-PF, para Mugabe renunciar expirou e os parlamentares começaram a discutir o processo de impeachment do líder que já está há 37 anos no poder.

"Convido o presidente Mugabe a considerar os pedidos feitos pelo povo para sua renúncia de forma que o país possa avançar e preservar a herança" do chefe de Estado, afirmou Mnangagwa em uma declaração, segundo a France Presse. O ex-vice presidente foi anunciado como o novo líder do Zanu-PF e vai ser indicado à presidência do país.

Mnangagwa foi destituído em 6 de novembro, por iniciativa da primeira-dama, Grace Mugabe, com quem competia para suceder o presidente, de 93 anos. Sua expulsão provocou a intervenção das Forças Armadas, que começou no início da semana passada.

Em seu texto divulgado pela imprensa, Emmerson Mnangagwa, no exterior desde sua renúncia, confirmou que estava em contato com o presidente Mugabe, assim como o chefe do Estado-Maior do exército, o general Constantino Chiwenga.

"Posso confirmar que o presidente (...) me convidou a voltar ao país para discutir sobre os acontecimentos políticos em curso na nação. Eu lhe respondi que não voltaria enquanto não estivesse satisfeito com as condições de minha própria segurança", explicou.

O decano dos chefes de Estado ativos no mundo se recusa a deixar o poder, apesar das pressões do governo, seu partido e a opinião pública. No domingo, ele foi afastado da liderança do partido.

A CNN informou que Mugabe concordou em renunciar e já redigiu sua carta de demissão, mas até esta terça o líder não fez um pronunciamento oficial. Os generais teriam concordado com todas as demandas feitas pelo chefe de estado, entre elas a imunidade para ele e sua mulher, Grace. Mugabe convocou para esta terça uma reunião ministerial.

Impeachment

Na teoria, o impeachment é um processo relativamente longo, que envolve uma sessão conjunta do Senado e Assembleia Nacional, depois a formação de um comitê de senadores de nove membros. Depois, prevê outra sessão conjunta para confirmar sua demissão com uma maioria de dois terços.

No entanto, especialistas constitucionais disseram que o partido tem o número necessário e poderia tirá-lo em menos de 24 horas. "Eles podem acelerá-lo. Isso pode ser feito em questão de um dia", disse John Makamure, diretor executivo do Southern African Partition Support Trust, uma ONG que trabalha com o parlamento em Harare, segundo a Reuters.

Na terça, os parlamentares do principal partido de oposição do Zimbábue, o MDC, realizarão uma reunião para decidir se devem se juntar aos rivais da legenda no poder no impeachment.

Entenda a crise

A crise no Zimbábue começou no início da semana passada, quando militares informaram ter começado uma operação contra "criminosos" próximos ao presidente Robert Mugabe, tomando as ruas e assumindo o controle de prédios públicos e da TV estatal.

Isso aconteceu uma semana depois da queda do vice-presidente Emmerson Mnangagwa, que começava despontar como possível sucessor de Mugabe (e agora assume seu lugar na liderança do partido).

Mnangagwa foi demitido por deslealdade e sua saída foi vista como uma estratégia para ascender a primeira-dama Grace Mugabe ao poder.

Mugabe e a esposa chegaram a ficar confinados em sua mansão de luxo, conhecida como "Blue Roof", por imposição dos militares. No sábado, um sobrinho do líder havia dito que ele estava "pronto para morrer pelo que é correto" e não tinha nenhuma intenção de deixar o poder.

O partido Zanu-PF estabeleceu um prazo, que terminou nesta segunda-feira, para que Mugabe deixasse o poder. Contrariando as expectativas, o presidente de 93 anos chegou a fazer um longo discurso na TV estatal ZBC (Zimbabwe Broadcasting Corporation), mas não anunciou a sua renúncia. Por isso, os parlamentares decidiram começar a discutir o impeachment ainda nesta segunda-feira (20).

(Foto: Tsvangirayi Mukwazhi, Fil/ AP)