NEGÓCIOS
Excesso de agrotóxico ameaça exportação de pimenta no ES.
Manuseio incorreto pode levar estado a perder parte do mercado externo.
Em 20/02/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Um dos principais produtos do agronegócio do Espírito Santo, a pimenta-do-reino tem enfrentado barreiras para ser comercializada no exterior, principalmente nos países da União Europeia, devido ao uso indiscriminado de agrotóxico nas lavouras e manuseio incorreto da especiaria.
Quem faz esse alerta é a própria Associação Capixaba dos Exportadores de Pimentas e Especiarias (Acepe), que estima que 50% da pimenta capixaba já encontra “severos problemas” para ser comercializada fora do Brasil.
“Usa-se regularmente defensivos agrícolas na pimenta capixaba. E esse uso acontece indiscriminadamente, já que não existe qualquer lei que regulamente o uso e a aplicação de produtos químicos na pimenta-do-reino”, destaca o presidente da entidade, Rolando Martin.
A secagem direta é outra barreira, acrescenta Rolando, já que essa é uma técnica trazida do café, mas que, na pimenta, deixa a especiaria com cheiro e gosto de fumaça.
A Acepe acrescenta que, através de análises laboratoriais, verificou-se altos níveis microbiológicos em amostras da pimenta do estado, o que seria resultado do mau manuseio do produto.
“O produtor ainda não se conscientizou que está produzindo um alimento; que este será moído pelo consumidor final; e que, se a pimenta estiver contaminada, irá contaminar o prato do consumidor final”, reforça Rolando.
O representante dos produtores e exportadores ressalta que, há alguns anos, a pimenta do Brasil era considerada livre de pesticidas, o que possibilitava uma procura crescente pelo produto nacional, principalmente por parte dos países Europeus.
“Ano após ano, fomos perdendo esse status. Agora, o importador continua querendo comprar nosso produto, porém ele exige comprovação de que nosso produto não está contaminado”, diz Rolando.
Os produtores reclamam que esse processo demanda tempo e dinheiro, pois o produto fica retido no armazém do exportador por 30 dias ou mais, até que todas as análises sejam feitas e se comprove que o produto está liberado para exportação.
Economia
A Acepe prevê que, até 2019, o Espírito Santo deve se consolidar como maior produtor de pimenta-do-reino Brasil, com cerca de 20 mil toneladas anuais, ultrapassando a produção do estado do Pará (PA).
“A produção mundial subiu também. Nesse contexto, onde a oferta está aumentando, tem que ter um produto de qualidade. Com o preço caindo, os compradores exigem um produto melhor”, avalia o engenheiro agrônomo e extensionista do Incaper de São Mateus, Welington Secundino.
O Espírito Santo produz e comercializa 3% da pimenta-do-reino consumida no mundo. “Se não agirmos rapidamente para consertar esses problemas, corremos o risco de perder 50% do mercado ainda existente, principalmente levando-se em consideração que a produção mundial do produto saltará para 690 toneladas anuais”, completa Rolando.
Incaper oferece cursos para orientar produtores
O diretor-presidente do Incaper, Marcelo Suzart de Almeida, reforça que o mercado está cada vez mais exigente e começa a primar pela qualidade.
“O Incaper, a Acepe, o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), juntamente com o governo do estado, estão preocupados com a qualidade da produção. Por isso, é importante que o produtor amplie o conhecimento sobre melhoramento, nutrição, manejo fitossanitário, pós-colheita e secagem para garantir a qualidade do produto”, reforça Marcelo.
Já o engenheiro agrônomo do Incaper de São Mateus, Welington Secundino, ressalta que o órgão tem atuado para capacitar e orientar o produtor sobre as técnicas adequadas de manuseio da especiaria.
“A pimenta é um produto praticamente comercializado in natura. Por isso, tem que ter um cuidado maior no seu beneficiamento. Essas informações vão desde a colheita, passando elas sacarias, que têm que ser novas e limpas, até as etapas de manuseio e o transporte”.
O Incaper diz que a pimenta é um condimento que apresenta grande valor econômico, com mais de 80% da área de cultivo sob sistema de irrigação, o que propicia maior produtividade quando comparado a outros estados. No total, 90% das áreas de plantios no Espírito Santo estão em propriedades de base familiar.
Por Patrik Camporez, De A Gazeta