ECONOMIA NACIONAL
Experiência brasileira com algodão orgânico será difundida no Mercosul.
A produção de algodão orgânico em Juarez (PB) rendeu, em 2015, R$ 36 mil a produtores locais.
Em 01/03/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
O assentamento da reforma agrária Margarida Maria Alves, em Juarez Távora, no Agreste paraibano, tem uma característica especial. Lá, a cem quilômetros de João Pessoa, há um grupo de agricultores especializado no cultivo de algodão orgânico colorido, com alta produtividade. Isso chamou a atenção da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que agora pretende difundir a experiência dos produtores da Paraíba pelo Mercosul.
Em 2015, grupo formado por nove agricultores do assentamento produziu mais de 9 toneladas de algodão em rama (como é conhecido o algodão antes do processo de descaroçamento e separação da pluma) e pouco mais de três toneladas de plumas de algodão orgânico colorido. Com o quilo comercializado a R$ 11,80, a safra do ano passado rendeu aproximadamente R$ 36 mil aos produtores.
A intenção da FAO é utilizar a experiência para fortalecer o setor algodoeiro no Brasil e em outros países-membros e associados do Mercosul. Juliana Rossetto, especialista da entidade em cooperação técnica entre países em desenvolvimento, esteve no assentamento. Ela conversou com os agricultores e conheceu a estrutura de beneficiamento do algodão. A visita foi acompanhada por técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além de representante da prefeitura de Juarez Távora.
Juliana explicou que a FAO, em parceria com órgãos como o Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), está concedendo suporte a instituições dos países parceiros (Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru) para o desenvolvimento de capacidades e o compartilhamento de conhecimentos, experiências e tecnologias em sistemas sustentáveis de produção, extensão rural, cooperativismo e comercialização solidária para o fortalecimento da cultura do algodão.
"Foi a possibilidade de troca de conhecimentos que nos trouxe para o assentamento Margarida Maria Alves. Vamos promover a aproximação dos atores e o intercâmbio de tecnologias entre entidades governamentais de pesquisa, de assistência técnica e de extensão rural para tratar de temas estratégicos para apoiar os agricultores familiares que produzem algodão e promover as cadeias produtivas, o acesso a mercados, a agregação de valor e a produção sustentável", afirmou Juliana.
A experiência com algodão orgânico no assentamento vem atraindo a atenção de pesquisadores brasileiros e do exterior. Além da FAO, já visitaram o assentamento representantes da Biofach (considerada a maior feira de orgânicos do mundo, realizada anualmente na Alemanha); de países do continente africano; de outros Estados brasileiros, como Rio Grande do Norte, Amazonas e Bahia; e de instituições de ensino superior, como a Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
A Embrapa Algodão, em parceria com o Instituto Penha e Margarida (Ipema), pretende implantar pequenos plantios de algodão orgânico colorido no assentamento José Horácio, em Alagoa Grande (PB), e em comunidades vizinhas, nos municípios de Mulungu e Mogeiro. O Ipema é contratado pelo Incra para executar serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) em Margarida Maria Alves e em outros 16 assentamentos de quatro municípios paraibanos.
Algodão orgânico
“O algodão orgânico é diferenciado, o que exige um agricultor diferenciado. Existem agricultores que pensam que tudo tem que levar veneno, principalmente o algodão, que é uma das culturas que mais utilizam veneno. As plantações de algodão convencional são responsáveis pelo consumo de cerca de 25% da produção de agrotóxicos do mundo”, afirmou o técnico da Embrapa Dalfran Gonçalves Vale, que também acompanhou a visita da representante da FAO ao assentamento.
O cultivo de algodão colorido orgânico no assentamento Margarida Maria Alves foi implantado em 1999, um ano após a criação do assentamento, como parte do projeto-piloto Algodão e Cidadania, coordenado pela Rede Nacional de Mobilização Social, em parceria com a Embrapa Algodão.
A plantação de algodão colorido orgânico ocupa 26,5 dos 736 hectares do assentamento Margarida Maria Alves, onde 36 famílias vivem e produzem de forma orgânica o algodão e várias espécies de alimentos.
O plantio do algodão no assentamento é feito em sistema de sequeiro e é consorciado com outras culturas, como o milho, feijão, fava, gergelim, sorgo e coentro, sem o uso de agrotóxicos e de insumos químicos. A diversificação garante o equilíbrio ambiental, o melhor aproveitamento da terra e a diversidade de alimentos na mesa das famílias de Margarida Maria Alves.
Comercialização
Praticamente toda a produção de algodão colorido orgânico do assentamento é vendida à Natural Cotton Color e ao Casulo Arte Natural, empresas ligadas à Associação da Indústria do Vestuário da Paraíba (Aivest-PB), que produzem peças de vestuário, bolsas e acessórios exportados para a França, Itália, Espanha, Alemanha, Japão, Estados Unidos e países escandinavos, levando o nome da Paraíba a exposições nacionais e internacionais.
Como o algodão da variedade BRS Rubi já nasce colorido, a fibra dispensa o uso de produtos químicos para tingimento, gerando uma economia de água no processo industrial de acabamento da malha e reduzindo a agressão ao meio ambiente e o risco de alergias.
Após mais de 20 anos de melhoramento genético, a Emprapa Algodão obteve cinco variedades com tonalidades que vão do verde-claro aos marrons claro, escuro e avermelhado. Em breve será lançada uma nova variedade marrom, com melhor qualidade de fibra para a indústria têxtil. Outra linha de pesquisa também busca obter o algodão de cor azul através da biotecnologia para transferir o gene que fornece a cor azul para a fibra do algodão, o que reduziria significativamente o uso de tinta na indústria.
Fonte: Incra