MOTOR
Fiat Mobi: visual exclusivo se destaca; mecânica joga contra.
O Mobi de fato quebra alguns parâmetros da Fiat.
Em 29/04/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Querendo abrir mão da imagem de ser só uma marca da carro “barato”, a Fiat diz que a recém-lançada picape Toro é o topo do “sanduíche” que representa a nova fase da marca no Brasil. O Mobi, veículo racional, pensado para uso urbano, e por isso, oferecido exclusivamente com motor 1.0, é a base. Ou seja, todos os novos modelos não serão nem mais simples nem mais sofisticados do que esses dois.
A missão do Mobi, portanto, é ser o novo modelo de entrada. Mas e o Palio Fire, que ainda representa metade das vendas do Palio (os balanços costumam somar os emplacamentos desse hatch da geração antiga com os do atual)? O defasado e “peladão” vai continuar no mercado, pelo menos por enquanto, mas a montadora afirma que seu foco é basicamente a venda para frota.
Como o novo modelo “básico” para os clientes comuns, o Mobi de fato quebra alguns parâmetros da Fiat nesse segmento. Além de um design longe de ser básico, ele é o único a ter poucos opcionais. Nos demais, era preciso pagar a mais por quase tudo nas versões iniciais e intermediária.
O novo tem ainda uma versão “peladona” (Easy) – que, logo de cara, causa o primeiro desapontamento. Não se deixe levar pelo preço inicial de R$ 31.900 dela, pois a lista de itens de série é escassa. Devem ser consideradas as versões seguintes. A Easy On, por exemplo, de R$ 35.800, já é mais equipada.
Nada que seja inovador para o mercado: a Fiat basicamente segue a receita de sucesso que começou outras marcas começaram a adotar há alguns anos. Hoje, não há Forda Ka, Hyundai HB20 e Chevrolet Onix sem ar e direção hidráulica de série. Tal tática foi erroneamente ignorada pela Volkswagen, com o Up!, em 2014.
É caro demais?
No entanto, a expectativa de que o Mobi seria também o mais barato dos concorrentes caiu por terra com o anúncio dos preços. Mesmo a versão sem ar ultrapassa a faixa dos R$ 30 mil.
De novo, a Fiat responde dizendo que não quer mais ser uma marca só conhecida pelos carros baratos, como se isso fosse sinal de baixa qualidade. “(Partir de) R$ 29.900 talvez fizessem sentido há 1 ano”, diz o gerente da marca, Carlos Eugênio Dutra, considerando a inflação.
É verdade que, atualmente, com a saída da chinesa Geely do mercado, a lista dos carros que custam menos de R$ 30 mil ficou limitada ao Palio Fire. Fora o Up!, os grandes concorrentes do Fiat já passam de R$ 40 mil.
A questão é que o Mobi também pode superar - e bem os R$ 40 mil. Na configuração mais completa, Way On, as cifras chegam a quase R$ 44 mil. Com esse valor, dá pra comprar versões bem equipadas de Onix, HB20, Ka e Gol.
Soma-se a isso o fato de que todos os modelos acima são maiores, um quesito que pesa bastante quando alguém busca por um carro que será o único da casa – o Up! (que nem é tão pequeno) que o “diga”.
É pequeno demais?
O Mobi é descrito pela Fiat como “irmão” menor do Uno. Ele tem 24,5 centímetros a menos de comprimento e críticos 7 cm a menos da distância entre-eixos, que representa o espaço interno e o de bagagem. Ele também é menor que o Up!, sobretudo nesse quesito (expressivos 12 cm a menos de entre-eixos).
Nas medidas, o problema principal está no porta-malas. São 235 litros de capacidade, segundo a Fiat, contra 290 l do Uno e 285 l do Volkswagen. Para compensar, todas as versões do Mobi têm banco traseiro bipartido. Se for levar 4 pessoas, no entanto, não resolve.
Mesmo com bagagem restrita, esses 4 ocupantes terão quase tanto espaço no Fiat quanto em outros carros compactos. Andar atrás não é uma tortura (se não forem muitas horas de viagem, claro), desde que os ocupantes da frentes sejam generosos na posição dos bancos.
Uma diagonal que vem subido a partir das portas da frente em direção ao porta-malas deixa as janelas mais estreitas, e causa uma pequena sensação de claustrofobia.
Há quem se incomode com os bancos um pouco mais estreitos na frente. No mais, a ergonomia segue regras básicas, com controles à mão. A visão traseira não é ruim, mas desaponta quem se empolga com todo aquele vidro na tampa do porta-malas. A área de visão do motorista é limitada.
Boas sacadas
Nesse quesito, o Mobi não passa batido: o design lembra alguns elementos do Uno, como a traseira quadrada, mas há mais vincos, com a missão de deixar o carro com uma cara mais robusta. Como já aconteceu com o “irmão” maior, tudo parece direcionado a um público mais jovem: inclusive as propagandas.
A tampa do porta-malas em vidro, que a Volkswagen dispensou no Up! brasileiro, acrescenta estilo e dá o ar mais sofisticado que a Fiat buscou. O painel também é parecido com o do Uno na predisposição, mas é mais básico. Seguindo a tradição dos modelos de entrada, há muito plástico duro, com grafismos que tentam dar um ar menos simplório.
Apesar de ser mais equipado a partir da segunda das seis configurações oferecidas, vidros elétricos só são inclusos a partir da terceira, Like (R$ 37.900).
A maior sacada em termos de equipamentos será opcional - também a partir da Like - e só será vendida a partir de junho: é a central Live, que faz do smartphone do usuário a tela do sistema de entretenimento.
Não é um simples porta-celular. Por meio de um aplicativo exclusivo, ela cria uma interface própria, que se parece com uma central multimídia, e permite que o usuário lance mão de apps famosos que já tenha instalados no smartphone, como Waze, Spotfy e Deezer. Isso além das funções básicas de atendimento de chamadas telefônicas e reprodução de músicas do aparelho.
Esteticamente, não é a solução mais bonita (veja na foto), mas é das mais completas entre os concorrentes. É pena que não esteja disponível desde o lançamento do carro e não possa ser instalada posteriormente. Quem comprar agora vai sair com a mesma central do Uno, a Connect, pagando R$ 2.100 a mais (o preço da futura central Live ainda não foi divulgado, mas a Fiat diz estudar manter o valor dessa).
Mecânica peca
Apesar do visual descolado e de boas sacadas, a Fiat pecou ao lançar o Mobi com um “coração” antigo e cansado. O conjunto mecânico é o mesmo do velho Palio, o 1.0 Fire, de 4 cilindros e 75 cavalos e 9,9 kgfm de torque.
Há a expectativa de que, num futuro não tão distante, o Mobi estreie um motor de 3 cilindros e 6 válvulas da Fiat, aderindo, enfim, ao que seus concorrentes HB20, Up! e Ka já têm: projetos mais modernos.
A montadora admite que o Mobi deveria ter sido lançado no começo do ano, mas nega que o atraso tenha ocorrido por conta de espera por um motor de 3 cilindros. “O Mobi foi já pensado para ter esse motor (do Palio)”, diz o presidente da Fiat Chrysler no Brasil, Stefan Ketter.
O primeiro contato do G1 com o carro foi basicamente em trajeto urbano, que deve ser seu principal território. A suspensão, mais mole, não chega a incomodar e absorve razoavelmente as imperfeições de asfaltos judiados, como em outros Fiat.
Mas basicamente todos os seus rivais se mostram mais espertos no desempenho, principalmente em momentos que exigem arrancada. Subidas requerem esforço, mesmo com o carro pouco carregado.
Apesar de ser menor, o novo hatch é mais pesado que seu concorrente direto, o Up!: até 966 kg contra até 958 kg do Volkswagen. No consumo, a briga é a ainda mais desigual. Segundo dados do Inmetro, o Up! faz 9,2 km/l (etanol) e 13,5 km/l (gasolina) na cidade. O Mobi, 8,4 km/l (etanol) e 11,9 km/l (gasolina). Na estrada, o consumo dos dois é mais parecido.
Vai ‘colar’?
A Fiat espera vender cerca de 60 mil unidades do Mobi até o fim do ano. Isso significa colocá-lo entre os 3 carros mais vendidos no país mês a mês. A montadora já reconheceu que o mercado brasileiro vivia outros tempos quando foi aprovada a construção do carro e, com a crise dos últimos anos, ele encolheu bastante, o que aumenta o desafio para os modelos de entrada, baseados em vendas volumosas.
A montadora diz que não colocou o Mobi no mercado para perder: “Ele é bastante competitivo tanto nas versões mais simples quanto nas mais equipadas comparado com outros concorrentes. Fizemos clínicas (testes com clientes) extensivas”, diz Dutra.
Apesar de o novo hatch não ser o mais barato do país e da derrapada do conjunto mecânico datado, a montadora tem ao seu lado o fato de ser uma especialista em modelos de volume, colocando 2 entre os 10 mais emplacados no ano até agora (Palio e Strada), feito só igualado pela Chevrolet (Onix e Prisma), de acordo com dados de março da federação dos concessionários, a Fenabrave. A questão é que, agora, a marca vai precisar conquistar mais o cliente comum e depender menos do frotista.