ESPORTE INTERNACIONAL

Fifa vive um verdadeiro filme de terror em 2015.

A perseguição implacável aos dirigentes cria um frenesi midiático e uma crise geopolítica.

Em 28/12/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A Fifa em 2015 se tornou um roteiro ideal para Hollywood: chefões presos de madrugada em um hotel de luxo, um presidente acuado, um sistema tentacular de corrupção investigado pela justiça americana e uma crise de grandes proporções que abala uma das mais poderosas entidades do planeta.

De Zurique às Ilhas Cayman, passando por Rio e Miami, as autoridades norte-americanas seguem os milhões de dólares distribuídos de maneira fraudulenta durante décadas para influenciar a escolha, entre outras falcatruas, das sedes das Copas do Mundo e dos detentores dos direitos de transmissão televisivos.

Isso tudo em um clima de fim de reinado em torno de Joseph Blatter, 79 anos, reeleito presidente da Fifa em maio, demissionário em junho e banido por oito anos pouco antes do Natal, mesma punição aplicada ao francês Michel Platini, presidente da Uefa, tido como principal candidato a suceder o suíço na Fifa.

É uma crise de proporções gigantescas, mas em nada surpreendente. As suspeitas de corrupção se acumularam durante anos ao redor de dirigentes como Jack Warner, chefão do futebol caribenho durante 20 anos, Mohammed Bin Hamman, banido para sempre da Fifa em 2012, e Blatter, que reinava na Fifa desde 1998.

A polêmica escolha do Catar, em 2010, para sede da Copa do Mundo de 2022 só fez aumentar as suspeitas, que ganharam forma no famoso relatório do procurador americano Michael Garcia. Publicado em 2014, a pedido da própria Fifa, o relatório expõe o lado sujo da atribuição do Mundial. A entidade, porém, engavetou documento.

"Crime organizado"

No dia 27 de maio de 2015, as justiças suíça e, principalmente, a americana, entram em cena. O filme helvético se torna um 'blockbuster' dos EUA.

Ação: nesse dia, pela manhã, na véspera do congresso que vai reeleger Blatter para um quinto mandato à frente da Fifa, sete altos dirigentes da entidade são presos no luxuoso hotel em Zurique onde estão hospedados.

A justiça americana fala em "crime organizado" e em 200 milhões de dólares distribuídos em subornos desde 1991.

No papel de justiceiro, uma mulher. "O nível de traição da confiança neste caso é realmente revoltante e a amplitude da corrupção é inconcebível", acusa a Procuradora-Geral dos Estados Unidos, Loretta Lynch, que promete perseguir todos os "culpados que ainda se escondem nas sombras".

No total, 39 pessoas (12 confessam culpa) são investigadas, em sua maioria oriundas das Américas do Sul e Central, inclusive diversos vice-presidentes da Fifa e os últimos três presidentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero.

A perseguição implacável aos dirigentes cria um frenesi midiático e uma crise geopolítica.

O presidente russo, Vladimir Putin, 'dono' da Copa do Mundo de 2018, acusa os Estados Unidos de brincarem de xerifes do planeta para se vingarem do fato de não terem sido escolhidos para sediar o evento em 2022.

Delação premiada

Assim como geralmente acontece nos filmes, um delator bota a boca no trombone: o americano Chuck Blazer, ex-dirigente da Concacaf, espiona os ex-colegas em troca de uma pena reduzida por sonegação de impostos.

Blazer tinha tanto dinheiro que se deu até ao luxo de comprar um apartamento em Nova York para... seus gatos.

A Comissão de Ética da Fifa também entra em ação, ordenando a suspensão por oito anos de Blatter e Platini por um suposto pagamento indevido do suíço para o francês, do tempo em que os dois eram aliados.

Blatter foi investigado pela justiça suíça por este caso e também por um contrato de direitos televisivos visto como "desleal" com a Fifa, ou seja, cedido por um preço inferior ao de mercado.

Entre setembro e novembro, cabeças começam a rolar. O francês Jerôme Valcke, secretário-geral da Fifa desde 2007, deixa o cargo por suspeitas de venda ilegal de ingressos; o lendário ex-jogador Franz Beckenbauer encontra dificuldades para explicar um pagamento à Fifa pouco antes de a Alemanha ser escolhida sede da Copa do Mundo de 2006; o sul-coreano Chung Mong-joon (ex-vice-presidente da Fifa e candidato à presidência) é suspenso por seis anos por envolvimento nas irregularidades das atribuições das sedes dos Mundiais de 2018 e 2022.

Para limpar sua imagem, a Fifa aposta em pequenas reformas internas (limite de mandatos, controle de integridade, remuneração transparente) que serão submetidas a voto no congresso eleitoral em 26 de fevereiro, com cinco candidatos à presidência: o príncipe jordaniano Ali, o francês Jerôme Champagne, o suíço Gianni Infantino, o xeique do Bahrein Salman e o sul-africano Tokyo Sexwale.

Será que este filme valerá uma sequência?

Fonte: AFP