ESPORTE INTERNACIONAL

França e Brasil discutem suspeita de propina na Rio-2016.

Procuradores franceses vieram ao país para discutir apuração.

Em 08/05/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Um grupo de procuradores franceses se reuniu na manhã desta segunda-feira (8) com procuradores brasileiros para trocarem informações em uma investigação conjunta sobre suposta compra de votos para a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos em 2016.

Após a reunião, o representante do Ministério Público Financeiro da França, procurador Jean-Yves Lourgouilloux, disse que a parceria visa a troca de informações com investigadores brasileiros para saber se alguém no Brasil poderia estar interessado em pagar para trazer a Olimpíada para o país.

A investigação na França já verificou o pagamento de ao menos US$ 2 milhões (cerca de R$ 6,4 milhões, na cotação atual) dias antes da escolha do Rio como sede, em 2009, para membros do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Segundo o francês, o valor pode ser maior e a propina pode ter viabilizado a compra em bloco de votos de alguns continentes, que votam juntos na escolha. Ele evitou dar mais detalhes, já que a investigação corre em sigilo.

Pelo lado brasileiro, o coordenador da cooperação internacional da Procuradoria Geral da República (PGR), Vladimir Aras, confirmou reuniões de trabalho para troca de dados de inteligência e aprofundamento das investigações, e disse que elas estão concentradas no Rio e em Brasília.

“Há uma intensa cooperação com a França em função da proximidade geográfica e territorial inclusive com a Guiana Francesa”, disse Aras, sem dar mais detalhes.

Nesta terça, procuradores brasileiros responsáveis pelo caso vão se reunir com seus pares franceses para mais trocas de informações.

Empresário brasileiro

Em março, o jornal francês "Le Monde" revelou que um empresário brasileiro pagou US$ 1,5 milhão ao filho do ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo, três dias antes da votação para escolha da sede da Olimpíada de 2016.

De acordo com a publicação, o pagamento foi feito por Arthur Cesar Menezes Soares Filho, que é ligado ao ex-governador Sérgio Cabral, a Papa Diack, filho do senegalês Lamine Diack. Lamine era membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) e foi um dos que votaram no Rio como sede dos Jogos de 2016.

Arthur era dono da Facility, grupo de empresas que presta serviços ao governo e à prefeitura do Rio em diversas áreas, como saúde, limpeza, alimentação e até no Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro (Detran). No início de fevereiro, ele prestou depoimento ao Ministério Público Federal do Rio.

Para os procuradores, ele pode ter envolvimento no esquema de corrupção chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral. Arthur negou que tenha pagado qualquer vantagem indevida para que suas empresas fossem contratadas pelo governo.

Ainda segundo o jornal "Le Monde", o pagamento ao filho de Diack teria sido feito através da empresa de Arthur César, com sede nas Ilhas Virgens britânicas, a Matlock Capital Group.

O jornal afirma também que um segundo depósito, de US$ 500 mil, teria sido feito numa conta na Rússia do filho de Diack. Pai e filho são investigados na França.

A defesa de Arthur César de Menezes Soares Filho diz que seu cliente desconhece o assunto e que jamais teve qualquer notícia sobre o fato divulgado pelo jornal francês.

Ainda em março, o Comitê Olímpico Internacional (COI) divulgou uma nota à imprensa em que afirma que está colaborando com as investigações na França e já afastou Lamine Diack das funções em novembro de 2015.

Após perder por duas tentativas a sede (para Atenas, em 2004, e Londres, em 2012), o Rio venceu, em 2009, a escolha para os Jogos de 2016. A diferença de 29 votos contra Madri foi apenas no terceiro turno da eleição, realizada na Dinamarca.

No primeiro turno, o Rio ficou em segundo, atrás da capital espanhola (28 votos). Após a eliminação de Chicago, o Rio teve 46 votos, contra 29 de Madri e 20 de Tóquio.