CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Gerir a tecnologia produzida será o grande desafio, diz pesquisador

O circuito integrado é a projeção, que ganhou o nome de Lei de Moore.

Em 29/09/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Em 1965, o cientista Gordon Moore escreveu um artigo com uma estimativa de que o número de transístores em um circuito integrado (pequeno componente usado em equipamentos eletrônicos) dobraria a cada dois anos. A projeção, que ganhou o nome de Lei de Moore, foi generalizada em vários campos da tecnologia para indicar a rapidez de evolução dos equipamentos, como no caso da capacidade de processamento de computadores.

Continuando o ritmo desta lei, a tecnologia produzirá em pouco tempo uma abundância de máquinas e soluções técnicas. O grande desafio da humanidade será compreender, canalizar e gerir esse conjunto de inovações e os resultados dela. A aposta foi apresentada pelo pesquisador Pascal Finette na conferência de abertura do fórum Encadear, que reúne em São Paulo, nesta semana, empresários, consultores e profissionais da inovação para discutir os desafios da transformação tecnológica para micro e pequenas empresas no país. O encontro é uma realização do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

O pesquisador Pascal Finette é responsável pela área de inovação aberta da Universidade Singularidade (Singularity University), um centro de estudos e formação dedicado a novas tecnologias, localizado no chamado Vale do Silício (grupo de empresas de tecnologia de ponta instaladas ao redor da cidade de San Francisco, na costa oeste dos Estados Unidos).

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Segundo o pesquisador, a tecnologia atual está em um estágio de desenvolvimento no qual as mudanças são exponenciais, ou seja, rápidas e profundas. Logo elas resolverão os problemas de escassez em diversas áreas. Retomando a Lei de Moore, Finette projetou que um computador médio deve chegar ao estágio da capacidade de processamento de um cérebro humano em 2029.

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Na indústria farmacêutica, o que antes era o estudo e o teste de drogas e agentes biológicos, hoje reúne diversas outras especialidades e campos, como química, inteligência artificial, coleta e processamento de dados em larga escala (o chamado Big Data), robótica e automação. O desenvolvimento e teste de novas drogas passa pelo registro de milhões de dados, seu processamento e avaliação por sistemas inteligentes e pelo uso de robôs não somente na pesquisa mas também na linha de produção.

Da escassez à abundância

Até agora na história da humanidade, argumentou Finette, os momentos de disrupção levaram centenas ou até milhões de anos para ocorrer. Foram os casos da revolução na agricultura, da criação da prensa por Guttemberg no século XV ou da invenção da geração de energia elétrica pelo estadunidense Thomas Edison no fim do século XIX. Em cada um desses marcos, o objetivo foi superar a escassez com capacidade produtiva e de atender a demandas da vida em sociedade. O atual momento, prosseguiu, seria formado de vários momentos semelhantes a estes.

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Um exemplo citado pelo pesquisador foi o da aérea de energia. Embora boa parte desta indústria ainda seja baseada em carvão, óleo e gás, ele avalia que o futuro está nas fontes renováveis. O pesquisador citou a tecnologia solar, cujo preço do kilowatt por hora caiu de R$ 330 em 1977 para R$ 0,12 em alguns países. “No futuro energia vai ser tão barata que não será cobrada. E quando você tiver energia gratuita vai resolver o problema da água potável. Estamos vivendo num mundo de abundância de energia e não sabemos como usar”, analisou.

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Inovação aberta

Mas como se posicionar corretamente nesse cenário, especialmente em um quadro desigual de domínio tecnológico entre empresas, setores e países? A recomendação central de Finette é apostar no que chamou de “inovação aberta”. Atualmente, o modelo normal de inovação envolve empresas com áreas de pesquisa e desenvolvimento elaborando soluções e obtendo a exclusividade de exploração destas por meio do registro de patentes. Esse seria um modelo classificado pelo palestrante como “fechado”.

Contudo, comentou, a inovação se beneficia do esforço de elaboração. E para este é necessário provocar ideias e propostas em grande quantidade e variedade. Finette citou estudos realizados em instituições célebres, como a Escola de Negócios da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, segundo os quais os ambientes abertos seriam mais frutíferos. Mesmo que empresas não tenham a exclusividade do uso de tecnologias, acrescentou, a interação de diversas companhias e pesquisadores pode produzir soluções mais rapidamente e que beneficiem todos os envolvidos.

“Você tem que se engajar em inovação aberta, porque você, empresário, não tem pessoas suficientes que pensam diferentemente de você. A melhor forma é se outras pessoas tiverem ideias também. O futuro da inovação é descentralizado. Podemos descentralizar ideias, criatividade, recursos, trabalho e financiamento”, defendeu. Agência Brasil*

*Repórter viajou a convite do Sebrae