CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Guru russo da segurança digital diz que trabalha para evitar ciberguerra.
Kaspersky fala que hackers brasileiros são líderes de ataques a bancos e conta.
Em 13/01/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Você já deve ter pensado nisto. E se em vez de usarem drones, bombas e armas, a próxima grande guerra fosse no ciberespaço? Eugene Kaspersky, especialista russo em segurança digital, é (bem) pago para que isso não aconteça. Em entrevista ao G1, o bilionário dono da Kaspersky Lab fala do perigo das ciberarmas e dos ataques de hackers, muitos deles brasileiros. "Cibercriminosos brasileiros são provavelmente os líderes mundiais em malwares para bancos", conta Eugene.
Yevgeny Valentinovich Kaspersky, nome real de Eugene, é um analista e executivo de 51 anos, nascido em Novorossiysk, na Rússia. Após se formar em um instituto patrocinado pela KGB, a polícia secreta russa, fundou sua empresa em 1997. Hoje, tem clientes em mais de 200 países e protege 400 milhões de usuários.
O perigo de que ataques digitais gerem crises entre nações fora do ciberespaço é real. No fim do ano passado, os Estados Unidos anunciaram a expulsão de 35 agentes de inteligência russos do país e o fechamento de complexos de inteligência russos. A medida foi, segundo Obama, uma resposta ao "roubo de dados e a exposição de informações durante a eleição".
Em 2014, a Sony foi ameaçada e hackeada por causa de "A entrevista", filme paródia sobre o regime totalitário da Coreia do Norte. O FBI informou ter localizado vestígios que ligam os ataques aos norte-coreanos, que receberam sanções dos EUA pela ação.
G1 - Para você, o que muda na possibilidade de se ter uma ciberguerra com o Donald Trump como presidente dos EUA?
Eugene Kaspersky - Em primeiro lugar, eu espero que uma ciberguerra nunca aconteça. É algo que temos que evitar. Ciberarmas são uma inovação muito perigosa. Eu gostaria que não tivéssemos que viver uma ciberguerra não só durante o governo Trump, mas no resto do século 21.
G1 - Você disse que trabalha apenas com defesa e não tem interesse em trabalhar com ataques. O que te faria mudar de ideia?
Eugene Kaspersky - Nada. Eu não vejo razão para eu, pessoalmente, e também minha empresa mudarem seu rumo. Por que deveríamos fazer isso? Somos bons no que estamos fazendo agora - criando tecnologias de proteção - e temos tantas coisas para proteger e defender neste mundo. Para mim, trabalhar em segurança digital não é apenas o meu negócio, é a minha vida.
G1 - Você já disse que há muitos brasileiros trabalhando em ataques hackers patrocinados por países. O que mais dizer deles?
Eugene Kaspersky - Os cibercriminosos brasileiros são provavelmente os líderes mundiais em malwares para bancos. Eles produzem e distribuem uma grande parte desse tipo de ameaça. Em geral, os malwares brasileiros eram bem simples há uns anos, mas agora vemos muito mais esforços para ofuscar e proteger os códigos das cargas maliciosas. O crescimento da qualidade desses malwares tem sido bem significante. Esses caras maus também estão aos poucos apresendendo sobre vírus de regaste. Agora vemos mais malware com algumas partes de código sugerindo que os programadores são do Brasil. Os hackers brasileiros aparentemente estão ativos na aquisição de novas armas de grupos europeus. Grupos estão ficando mais capazes.
G1 - Qual sua opinião sobre [Edward] Snowden viver na Rússia?
Eugene Kaspersky - Não sou um grande fã dele. Nunca o conheci e nem pretendo. Eu entendo as pessoas que dizem que os delatores fazem um trabalho importante e até certo ponto eu concordo com eles, mas eu também acredito em lealdade como uma qualidade vital de uma pessoa forte. Ele quebrou seu contrato. Eu não gosto disso.
G1 - Você disse que só não tem parceiros no Irã e na Coreia do Norte. Mas se eles quiserem pagar por seus serviços, você trabalharia com eles? Eles poderiam se tornar clientes VIP?
Eugene Kaspersky - Não, não se eles permanecerem sofrendo sanções internacionais. Irã está sendo liberado agora, mas não estamos com pressa para trabalhar com eles. Eu acredito que é muito importante jogar de acordo com as regras. Pode demorar décadas para construir uma reputação e, às vezes, ela é destruída com alguns minutos.
G1 - Você prefere ganhar outro bilhão de dólares ou um Prêmio Nobel da Paz?
Eugene Kaspersky - Eu poderia viver sem os dois. Mas quero com certeza salvar o mundo das ameaças no ciberespaço. Quero construir tecnologias que tornem o nosso ecossistema digital inerentemente seguro e imune a ataques cibernéticos. Isso iria satisfazer minhas ambições.
Por Braulio Lorentz, O jornalista viajou para Moscou a convite da Kaspersky Lab