CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Instituições de ensino preparam dispositivo para viagem ao espaço.
Consórcio reúne instituições de ensino de Goiás, Distrito Federal, Santa Catarina e São Paulo.
Em 02/07/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Um consórcio de três instituições de ensino superior associadas a três escolas públicas começa a desenvolver, neste mês, um dispositivo eletrônico a ser levado pelo primeiro brasileiro civil a viajar para o espaço, o estudante de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB) e bolsista da Agência Espacial Brasileira (AEB) Pedro Nehme, 23 anos. O Programa Microgravidade, da AEB, selecionou o experimento no primeiro semestre.
A princípio, o 5º Anúncio de Oportunidade escolheria apenas uma instituição de ensino superior e outra de educação básica, mas, como três propostas apresentaram características complementares, a AEB optou pelo consórcio, formado pelas universidades de Brasília (UnB) e Federal de Santa Catarina (UFSC) e o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), em parceria com a Escola Municipal Povoado de São Jorge, de Alto Paraíso (GO), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC), de Florianópolis (SC), e a Escola Técnica Estadual Jorge Street, de São Caetano do Sul (SP).
"Nenhuma proposta era igual à outra e, em linhas gerais, identificamos que tinham bastante sinergia", explica o diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da AEB, Carlos Alberto Gurgel. "Ficamos satisfeitos pelo fato de termos, dentro do prazo, três candidaturas interessantes, que refletiam bastante o que esses grupos estão fazendo. A equipe da UFSC é muito focada no monitoramento do coração, a de biomedicina da UnB estuda reações musculares e a do Instituto Mauá tem condições de integrar as tecnologias."
Conforme previsto pelo edital, as universidades devem oferecer oficinas didáticas sobre o tema com as escolas associadas, a fim de disseminar entre os estudantes as técnicas a serem utilizadas na concepção do dispositivo.
"A gente quer que esses jovens troquem experiências e acompanhem tudo o que será feito", diz Gurgel. "As turmas vão participar de maneira efetiva do projeto, entendendo o processo, com encontros permanentes e visitas a laboratórios, sem falar que as próprias crianças podem ser monitoradas em testes."
Ineditismo
A companhia XCOR Space Expeditions, responsável pelo veículo Lynx Mark 2, autorizou o embarque de um dispositivo eletrônico compacto e portátil, ou seja, integrável ao corpo do espaçonauta. A AEB definiu, no edital, que a futura tecnologia seja capaz de avaliar diversos parâmetros fisiológicos relacionados à exposição humana ao ambiente de microgravidade, antes, durante e depois dos cerca de cinco minutos de voo suborbital.
"Essa oportunidade de ter uma pessoa comum fazendo esse tipo de voo tem um ineditismo muito grande no contexto mundial", comenta o diretor. "Se o Pedro for realmente o primeiro turista espacial, todo esse projeto ganha um pioneirismo ainda maior, porque vai propiciar uma combinação daquilo que ele relata e aquilo que efetivamente aconteceu como reação do organismo dele."
Publicações científicas
Segundo Gurgel, com ajuda das universidades e das escolas, a AEB planeja divulgar as respostas do experimento em artigos científicos. "A partir daí, todo mundo que entrar nesse negócio [de turismo espacial] poderá adotar nossos dados como uma referência das possíveis reações do organismo, incluindo aspectos cerebrais, como, por exemplo, o efeito do medo, uma atividade psicológica que eventualmente provoque impactos no nível de adrenalina."
Oportunidade
Já bolsista da AEB, em 2013, Pedro Nehme conquistou a vaga para a viagem espacial ao vencer concurso promovido pela companhia aérea holandesa KLM, diante de 129 mil participantes de vários países. O desafio consistia em adivinhar em qual ponto estouraria um balão de alta altitude monitorado por câmeras e GPS. Ele foi o candidato que mais se aproximou do resultado final.
Criado em 1998, o Programa Microgravidade tem por objetivo oferecer à comunidade científica nacional períodos de imponderabilidade aparente, situação também conhecida como microgravidade. A ideia é prover meios de acesso e suporte técnico e orçamentário para a viabilização de experimentos que necessitem dessas condições de ausência de peso. "Se você acender uma vela, o formato da chama difere daquele que está acostumado", exemplifica. "Essa é uma prova concreta de que algo está distinto."
Na última semana, representantes do IMT, da UFSC e da UnB se reuniram na AEB para discutir a fusão de suas propostas de dispositivo e definir objetivos comuns e formas de viabilizar o trabalho. Antes do voo suborbital, a agência espera qualificar o experimento com Pedro em um caça da Força Aérea Brasileira (FAB), que, nas palavras do diretor, consegue replicar possíveis manobras do Lynx Mark 2, com exceção do ambiente de microgravidade.
Fonte: Ministério de Ciência e Tecnologia