ECONOMIA NACIONAL
Maré baixa da economia afasta empresas do mercado de ações.
21 companhias fecharam capital desde 2014, contra três aberturas (IPO).
Em 07/11/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Mesmo com a retomada da Bovespa em 2016, o número de empresas que dão adeus ao mercado de ações está crescendo. Nos 10 primeiros meses do ano, nove já fecharam capital e outras oito aguardam um aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para fazer o mesmo. Na outra ponta, somente a mineira Alliar abriu capital no Brasil este ano.
O alto custo para manter uma empresa de capital aberto – em tempos de maré baixa da economia – é apontado como a principal causa desse movimento. Para cumprir a rígida regulamentação, as companhias pagam taxas, publicam balanços trimestrais e adotam práticas de governança corporativa.
“Em uma crise econômica estes custos pesam ainda mais”, avalia o sócio-fundador do Grupo L&S, Alexandre Wolwacz. “Quando a empresa perde margem de lucro e não tem o retorno esperado com o valor de suas ações, pode não fazer mais sentido manter o capital aberto”.
O ingresso na Bolsa de Valores é uma das opções para as empresas captarem recursos, mas é uma alternativa arriscada. Outras são a emissão de títulos de dívida no exterior, como anunciou a Petrobras recentemente, ou empréstimos concedidos por bancos de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES).
Entre as empresas que esperam o sinal verde da CVM para sair do mercado de capitais, estão a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, e a fabricante brasileira de brinquedos Estrela.
Hoje, a BM&FBovespa tem 351 companhias de capital aberto listadas. Esse número passava de 400 em 2008. Para Wolwacz, a menor quantidade de empresas na bolsa reduz as opções de investimentos e o volume investido.
Para fechar capital, as empresas precisam fazer OPAs (Ofertas Públicas de Aquisição). Elas geralmente acontecem quando negociar ações não se reverte em resultados e os papéis acumulam uma queda considerável. Assim, fica mais barato comprar as ações dos investidores e as empresas podem usar esse capital para reforçar o caixa.
Já os IPOs (Oferta Pública Inicial, em tradução do inglês) acontecem quando há perspectiva de atrair investidores e ver uma forte valorização dos papéis. Essa onda de otimismo, que chegou ao seu auge em 2007 com 64 aberturas de capital, ficou para trás. Desde 2014, apenas três IPOs aconteceram, enquanto 21 companhias saíram do mercado de ações.
“Não há grandes atrativos para o empresário abrir capital nesse momento. Com exceção dos bancos, os balanços estão fracos, falta dinheiro para pagar dividendos e ainda há incertezas sobre a perspectiva de retorno”, diz o consultor Luiz Marcatti, sócio da consultoria Mesa Corporate.
Mesmo com projeções apontando para o crescimento do PIB já em 2017, o economista não vê um cenário favorável no horizonte para atrair mais empresas para o mercado financeiro. Para Marcatti, falta preparo para cumprir a regulamentação da CVM e os próprios investidores preferem o mercado de renda fixa, que costuma remunerar a juros reais (acima da inflação) com uma taxa Selic a 14% ao ano, ao risco de aplicar em ações.
Recuperação da Bovespa
A onda de fechamentos de capital acontece num momento de euforia na bolsa brasileira, com mudanças nas perspectivas com os cenários político e econômico. A Bovespa tem renovado seu maior patamar em mais de quatro anos, aproximando-se dos 65 mil pontos e com uma valorização de quase 50% no ano, após ter terminado 2015 com perdas de 13%.
Wolwacz, da L&S, acredita que o retorno dos investidores à bolsa pode fazer com que muitos dos pedidos de OPAs sejam cancelados pelas próprias empresas. “O investidor brasileiro e estrangeiro começou a comprar novamente, e isso faz com que o preços das ações volte a subir, tornando o mercado novamente interessante para a empresa”, diz.
Marcatti, da Mesa Corporate, diz que o fato de as ações estarem mais baratas e a perspectiva de que o cenário econômico estará mais favorável em 2017 ajudou a incentivar o retorno do investidor na bolsa.
Fonte: g1-SP